COP27 “num estado policial patrocinada pela Coca-Cola” é greenwashing, dizem activistas

Os activistas denunciam que o patrocínio de uma mega-poluidora mina as conversações políticas para um acordo climático, uma vez que a maioria dos plásticos são feitos de combustíveis fósseis.

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COP27 decorre em Sharm el-Sheikh, no Egipto Reuters

A cimeira anual das Nações Unidas sobre o clima, que arranca no final desta semana na turística cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, é apresentada como uma oportunidade para os chefes de Estado fazerem um balanço dos progressos climáticos e (espera-se) acelerar a acção.

Mas estas reuniões da Conferência das Partes, ou COPs, são também cada vez mais um ponto de encontro para muitas das maiores empresas do mundo, suscitando preocupações sobre a influência das empresas na tomada de decisões políticas.

Mesmo antes da chegada dos delegados à COP27, começou uma discussão em torno do patrocínio da Coca-Cola ao evento. A escritora e activista canadiana Naomi Klein escreveu sarcasticamente que é “super divertido ter uma cimeira climática num estado policial patrocinada pela Coca-Cola”, enquanto a Greenpeace disse que era chocante a COP27 escolher o “maior poluidor de plástico do mundo” como patrocinador, dado que “99% dos plásticos são feitos de combustíveis fósseis”.

A utilização de plástico virgem pela Coca-Cola, em volume, aumentou 3% nos últimos dois anos, mostra o relatório de progresso dos signatários do Compromisso Global da Fundação Ellen Macarthur para acabar com a poluição por plástico.

Uma petição criada este mês, exigindo que a ONU retire a Coca-Cola da lista de patrocinadores, tem mais de 230 mil assinaturas. Ao mesmo tempo, uma carta assinada por mais de 240 organizações ambientais de todo o mundo exige que também a Microsoft cesse o patrocínio.

“A Coca-Cola gasta milhões de dólares em greenwashing, fazendo-nos acreditar que estão a resolver o problema. Mas, nos bastidores, têm uma longa história de lobbying para atrasar e descarrilar regulamentos que impediriam a poluição, mantendo-nos viciados em plástico descartável”, lê-se no texto da petição da ambientalista Georgia Elliott-Smith.

No final de Outubro, um relatório da Greenpeace mostrava que apenas foi reciclado 5% do lixo de plástico gerado nos Estados Unidos da América, em 2021. A organização aponta que uma das razões para esta taxa de insucesso é que fica mais barato para as empresas comprar plástico novo do que reciclado.

A ideia de que a reciclagem é uma tábua de salvação, ao invés da urgência da redução do consumo ou da reutilização, tem sido promovida pelas mesmas empresas que causam a poluição, alerta o relatório. A Greenpeace sublinha que a reciclagem de plástico é praticamente impossível.

“Não deve ser concedido aos grandes poluidores o acesso à elaboração de políticas climáticas”, lê-se numa carta assinada por mais de 400 organizações ambientais. “Como próximo passo imediato, a começar na COP27, todos os participantes devem ser obrigados a divulgar publicamente e declarar os seus interesses. As pessoas merecem saber quem está na mesa de definição de políticas, e qual é a sua verdadeira agenda.”

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