João Cotrim Figueiredo deixa liderança da Iniciativa Liberal em Dezembro

Presidente dos liberais diz que o partido precisa de uma postura mais “combativa” e “popular”, considerando que não é o líder ideal para a “corporizar”. O deputado Rui Rocha anunciou que é candidato a sucessor – e Cotrim diz que daria “excelente líder”.

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João Cotrim Figueiredo vai deixar presidência da Iniciativa Liberal Nuno Ferreira Santos

João Cotrim de Figueiredo vai deixar a liderança da Iniciativa Liberal (IL) em Dezembro, anunciou o partido este domingo.

Em comunicado, a IL anuncia que Cotrim Figueiredo “não será novamente candidato” a presidente da comissão executiva, cujo mandato acabará um ano antes do previsto. Nas redes sociais, o deputado explicou a sua decisão: entende que o partido precisa de uma atitude “mais combativa” e “popular”, considerando que não é “a pessoa ideal para a corporizar”.

Presidente da IL desde Dezembro de 2019, Cotrim Figueiredo comunicou que não será novamente candidato à liderança do partido, dando a oportunidade a uma nova liderança de estar em funções com suficiente antecedência em relação aos próximos actos eleitorais, que terão lugar já a partir do segundo semestre de 2023”, diz a nota do partido.

A convenção do partido estava já marcada para Dezembro, mas terá agora eleições para a comissão executiva, permitindo “sincronizar” os mandatos dos vários órgãos nacionais.

A decisão é tomada “após três anos à frente de uma equipa que difundiu as ideias liberais, que fez crescer a IL e que a tornou incontornável na cena política nacional”, escreveu Cotrim Figueiredo no Twitter. “Pessoal e politicamente difícil”, a opção pela saída antecipada explica-se pelo facto de o actual presidente, com 61 anos, entender que “a estratégia para que o partido continue a crescer deve ser diferente daquela que o fez crescer de forma significativa até agora”.

“O trabalho de oposição a uma maioria absoluta e o posicionamento dos diversos agentes político-partidários implicam uma postura distinta por parte da Iniciativa Liberal. O partido precisa de uma tónica mais combativa, mais popular e mais abrangente a nível nacional e considero não ser eu a pessoa ideal para a corporizar”, completa.

“Uma nova liderança” do partido, prossegue Cotrim no tweet, “trará uma renovada energia” e deverá estar em “plenitude de funções com a antecedência suficiente face às batalhas eleitorais que ocorrerão a partir do segundo semestre de 2023”.

Gabando os “tremendos sucessos na afirmação do liberalismo no país”, aquele que é o terceiro líder da IL diz-se disponível para ajudar a nova liderança naquilo que ela “entender ser útil”.

O PÚBLICO tentou contactar João Cotrim Figueiredo, que não atendeu o telefone. A assessoria do partido garantiu ao PÚBLICO que se vai manter como deputado e, portanto, poderá continuar a ser candidato a vice-presidente da Assembleia da República.

À CNN Portugal, o ainda presidente da IL afirmou que não estaria disponível para disputar as eleições legislativas de 2026 até porque teria 65 anos, com sete anos de liderança a que se somariam mais quatro. Admitiu que a decisão pode não ser “fácil de entender”, até por não ser “frequente” na vida partidária, mas defendeu que “é nos bons momentos que se tomam as decisões difíceis que estruturam o partido para os momentos seguintes”. E garantiu não temer que a IL saia prejudicada: “As ideias contam mais do que os líderes.”

Fundada em Dezembro de 2017, a Iniciativa Liberal concorreu, com listas próprias, a todas as eleições de 2019, tendo eleito um deputado à Assembleia da República. Em 2020, concorreu às Eleições Regionais dos Açores, elegendo o seu primeiro deputado numa região autónoma. Em 2021, apoiou a candidatura presidencial de Tiago Mayan Gonçalves, e concorreu às eleições autárquicas, tendo eleito 89 autarcas. Em 2022, elegeu oito deputados à Assembleia da República. O partido diz ter hoje seis mil membros.

Rui Rocha é candidato

Pouco depois do anúncio da saída de Cotrim Figueiredo, o deputado liberal Rui Rocha anunciou a sua candidatura à presidência da comissão executiva da Iniciativa Liberal (IL).

“Na próxima Convenção Nacional, agendada para Dezembro, apresentarei uma moção de estratégia global e irei encabeçar uma lista à comissão executiva do partido. Esta candidatura, sob o lema ‘liberalismo para todos’, tem dois objectivos fundamentais: continuar o actual sucesso da IL e popularizar o liberalismo pelo país, afirmando as ideias e os valores liberais com convicção e humildade para transformar Portugal num país mais próspero, mais justo e mais livre”, escreveu Rui Rocha no Facebook.

O deputado promete uma “oposição feroz e combativa ao modelo de desenvolvimento falhado que o PS implementa no país” e ter “uma comunicação mais popular e com maior presença junto dos portugueses”, bem como fazer crescer a Iniciativa Liberal no território, “para mais zonas suburbanas e do interior”, e nos temas, “chegando a mais públicos”.

Questionado pela CNN Portugal, Cotrim Figueiredo declarou que Rui Rocha “daria um excelente presidente da Iniciativa Liberal”.

Nuno Simões de Melo admite “todas as opções”

Nuno Simões de Melo, militante de base da IL, está na corrida para a liderança do conselho nacional do partido, liderando a Lista L, Liberalismo em Liberdade, mas admite que “todas as opções estão em cima da mesa”.

Em declarações ao PÚBLICO, Nuno Simões de Melo assume que a lista que vai encabeçar tem divergências com a linha da actual comissão executiva. “Há muita centralização dentro do partido, mesmo ao nível da comissão executiva e de um inner circle dentro deste órgão”, afirma.

Mostrando surpresa pela decisão de Cotrim, sublinha que a surpresa maior é este não se apresentar como candidato. “A notícia apanhou-nos de surpresa, mas isso não é razão para nos enfraquecer”, reage.

Sobre a sua candidatura ao conselho nacional, Nuno Simões de Melo revela que vai emitir um comunicado sobre a situação que se instalou no partido este domingo, que deverá ser tornado público no início da semana.

Em relação à comissão executiva, diz que o que se prevê “é que haja eleições ao mesmo tempo para todos os órgãos do partido”, uma decisão com a qual concorda.

Carlos Guimarães Pinto de fora

Foi também pelo Facebook que o ex-líder do partido Carlos Guimarães Pinto reagiu à decisão de Cotrim. Guimarães Pinto continuará afastado da vida interna do partido, “não integrando, subscrevendo ou apoiando qualquer lista apresentada aos órgãos do partido”.

“Foi com tristeza que tomei conhecimento da decisão do João de abandonar a liderança do partido. É uma decisão que gostaria que não tivesse sido tomada, mas que, mais do que ninguém, tenho de compreender e aceitar. Desejo ao João as maiores felicidades, esperando que continue envolvido com a causa liberal no futuro”, disse.

“Apesar da perda tremenda, a Iniciativa Liberal nunca foi um partido de uma pessoa só. É um partido de ideias, de estrutura e de competência que transformou dois desconhecidos em presidentes de sucesso e construiu um candidato presidencial em poucos meses. A pessoa que sucederá ao João será certamente recebida com as mesmas desconfianças com que eu, o João ou o Mayan fomos recebidos e, estou convicto, terá o mesmo sucesso a prazo”, escreve o ex-líder.


Notícia actualizada às 20h09 com declarações de João Cotrim Figueiredo

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