A inventora da auto-sociobiografia finalmente nobelizada

Pelo seu engajamento político marcado à esquerda, assim como pela natureza da sua obra, a escritora francesa agora galardoada com o Nobel está no cume de um triângulo literário muito audível em França, e que inclui dois outros famosos “trânsfugas de classe”: Didier Eribon e Edouard Louis.

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Annie Ernaux foi a primeira a manusear, na literatura francesa, o conceito de "trânsfuga de classe" CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA

Aos 82 anos, Annie Ernaux é a primeira mulher francesa a ver-se coroada com o prestigiado Prémio Nobel da Literatura. Desde 1974, ela vem produzindo uma obra que, se não é pletórica, é notável pelo seu alcance. Professora de Literatura, vinda ao mundo na Normandia, em meio operário, é uma das chefes de fila da auto-sociobiografia: a maior parte das suas obras inspira-se directamente na sua própria existência, que a autora faz questão de contextualizar fortemente. O ambiente social ocupa assim um lugar fundamental na narrativa, pelo que os determinismos, as relações de dominação, a preponderância da sua condição sobre o seu percurso biográfico, a endogamia e, claro, o lugar das mulheres na sociedade, do pós-guerra aos nossos dias, são temas centrais na sua obra. Estes tópicos, em tempos acantonados nos ensaios sociológicos, entraram na literatura graças a ela.

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