Carros de compras amontoam-se em Braga e presidente de junta teme efeito das praxes

Há carros de compras de uma loja do Pingo Doce de um centro comercial de Braga, na freguesia de S. Victor, deixados ao abandono na via pública, motivando queixas de moradores. Presidente de junta admite que flagelo existe e pode vir a agravar-se com o regresso das praxes, mas associação académica diz que “não há preocupação”. Já a Jerónimo Martins equaciona colocar um sistema de bloqueio automático nos carrinhos.

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Pingo Doce equaciona a possibilidade de colocar um sistema de bloqueio automático nos carrinhos Miguel Madeira

Mário Relvas mora a 250 metros do Braga Parque, o maior centro comercial da cidade, dentro do qual existe, no interior, uma loja do Pingo Doce. De há uns meses para cá, quando sai de casa para fazer a sua caminhada diária de dois quilómetros até junto do campus da Universidade do Minho, vislumbra, “no mínimo, 15 carrinhos de compras” abandonados na via pública.

O morador garante ao PÚBLICO que, durante o percurso, vê “carrinhos partidos, deitados no chão, no meio de avenidas e em campos de basquetebol”. Há dias, assegura, presenciou um episódio que diz ser recorrente. “Vi um carrinho a descer uma avenida, com dois rapazes dentro do carrinho e outro a empurrar, com automóveis de um lado e de outro.” Depois, “partem os carrinhos e atiram-nos para os jardins”.

Os protagonistas são geralmente “miúdos, durante o dia”, e graúdos, “já com barba e com os copos”, durante a noite. “Pegam nos carrinhos e pontapeiam-nos, e depois as pessoas, na rua, dão um toque aqui e ali, e os carrinhos batem em automóveis”, afiança. Para lá da insegurança e do ruído visual provocado pelo abandono dos carrinhos, o habitante questiona a facilidade com que os equipamentos saem “descontroladamente” da superfície comercial, “quando há funcionários adstritos aos carrinhos, uma empresa de segurança afecta ao Pingo Doce, e outra afecta ao shopping”. E alerta: “Não há nenhuma autoridade local que olhe para isto que é um perigo para todo, até para os próprios miúdos. Ninguém zela por nós.”

Em meados de Agosto deste ano, o Jornal de Notícias noticiou o flagelo denunciado por Mário e houve, a partir daí, um “período de acalmia”. O morador expôs as suas queixas ao presidente da Junta de Freguesia de S. Victor e ao próprio Pingo Doce que lhe garantiram que o problema iria ser “controlado num dia e meio”, mas tal não aconteceu. “Agora, tudo voltou ao mesmo”, assevera.

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, Ricardo Silva (independente), admite a existência de carrinhos abandonados na via pública, muitos dos quais são previamente “usados para se fazerem corridas de rua e depois lançados contra viaturas automóveis”. E reconhece que tem havido “alguma dificuldade em mitigar o problema”, porque a “cadeia de supermercados diz que não consegue evitar que os carrinhos saiam da estrutura comercial”.

Ao PÚBLICO fonte oficial do Pingo Doce do Braga Parque também confirma “o problema provocado pelos utentes que levam os carrinhos para fora das instalações do shopping” e que o mesmo “não é novo”. Garante ainda que “tem vindo a criar procedimentos, dentro do que lhe é possível fazer, para minimizar o impacto causado por estas más práticas, que lesam as comunidades envolventes do shopping e principalmente o próprio Pingo Doce”. Equaciona “a possibilidade de colocar um sistema de bloqueio automático nos carrinhos, sistema esse que já existe noutras lojas”. Uma solução, aliás, preconizada por Mário Relvas, que não “percebe como é que o Pingo Doce, que gasta tanto dinheiro em tanta coisa, não investe no controlo dos carrinhos”. “Se apostasse nisso, até poderia ter menos carrinhos partidos e não prejudicava a sociedade”, argumenta.

Praxes podem “agravar” flagelo

Perante as queixas dos moradores, a freguesia de S. Victor tem vindo a recolher, com recurso a uma carrinha, alguns dos carrinhos espalhados pela via. Apesar de não ser da competência da junta, a recolha é uma “parceria informal” feita com o Pingo Doce, “uma estrutura comercial que tem sido muito dinâmica e amiga da freguesia”, defende o presidente da junta.

A iniciativa, que, por um lado, “ajuda os cidadãos a ficarem com os passeios mais livres” e, por outro, auxilia “a estrutura comercial”, arrancou em meados de Agosto, mas Ricardo Silva teme que o fenómeno se possa “agravar com a chegada de novos estudantes”.

É que, tal como em Coimbra, os carrinhos de compras são utilizados em práticas praxistas e largados na rua. Com o regresso das aulas e as praxes que muitas vezes se sucedem “nas traseiras do Braga Parque”, o presidente da freguesia vai agora sensibilizar “a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) e as comissões de praxes para evitar que isto aconteça”, lembrando ainda que tal prática está associada a um crime. “As pessoas talvez não tenham noção, mas isto é um furto. Estão a retirar um equipamento que é do domínio privado para um outro local. É bom que haja a consciência de que estão a cometer um ilícito.”

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da AAUM, Duarte Lopes, diz que ainda não falou com a junta de freguesia, mas admite que a questão dos carrinhos de compras abandonados junto ao Braga Parque e à Universidade “não é uma preocupação”, expressando que não tem “a percepção” de que o flagelo esteja associado à praxe. Caso esteja, assinala que “as pessoas, estudantes ou não, dentro ou fora da praxe, são livres de fazerem o que bem entenderem”.

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