Quinta de Lourosa: Um tesouro de família

O homem sonha, o vinho faz-se. Mas não se faz sozinho. A paixão de Rogério de Castro pela quinta da família, em Lousada, foi o ponto de partida para a profissionalização do projecto da Quinta de Lourosa.

abre-conteudo,vinhos-verdes,iniciativas-publico,lousada,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria
Rogério de Castro, proprietário da Quinta de Lourosa, é um dos nomes mais relevantes na viticultura em Portugal Maria João Gala
abre-conteudo,vinhos-verdes,iniciativas-publico,lousada,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria
Joana de Castro, enóloga da Quinta de Lourosa (Lousada) Maria João Gala
abre-conteudo,vinhos-verdes,iniciativas-publico,lousada,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria
Vinha da Quinta de Lourosa (Lousada) Maria João Gala

Rogério de Castro, o mais novo de oito irmãos, sempre acompanhou o pai nas visitas à quinta que a família tinha a 40 quilómetros do Porto, em Lousada. Desde cedo, “começou a ter uma grande paixão por esta quinta”, conta Joana de Castro, 47 anos, filha, enóloga e responsável pelo enoturismo na Lourosa. “Acho que o fazia lembrar os bons momentos que passava com o pai.”

Rogério, natural de São Cosme, Gondomar, perdeu os pais cedo. Tinha apenas 19 anos e tinha ido estudar Agronomia para Lisboa. “A única coisa que queria de herança era esta quinta, mas o pai não o deixou ficar com campos. Disse que tinha de estudar, tirar um curso superior, e isso ficou escrito.” A ligação à universidade, na capital, estendeu-se por vários anos, já que, para não combater na Guerra do Ultramar, acabou por se tornar professor catedrático. “Como os melhores alunos não iam à guerra, ele estudava muito, mas o objectivo não era dar aulas, era mesmo não ir à guerra”, continua Joana, entre risos.

Já era nascida quando o sonho do pai se concretizou. “Foi comprando a cada irmão”, lembra. “Morávamos em Lisboa e vínhamos cá com frequência, mas quando o meu pai adquiriu a quinta disse que tínhamos de mudar a nossa vida e viver mais perto”, recorda. De Lisboa para o Porto, numa primeira fase – “o meu pai e a minha mãe queriam vir para aqui, mas eu e o meu irmão não deixámos”. E do Porto para Lousada, há cerca de 20 anos.

“Foi a melhor coisa que fizemos. Esta casa de pedra estava em ruínas”, diz Joana de Castro, apontando para o edifício principal, “e arranjámos uma pequena parte, com casa-de-banho, que não havia.” Depois, toda a família se começou a entusiasmar com a ideia da remodelação e Joana introduziu o tema do turismo. “É um suporte importante e que traz muitos novos clientes. Temos turismo o ano todo”, admite. “O meu pai via isto como uma paixão e eu acabei por convencê-lo que era preciso rentabilizar.”

Quinta de Lourosa (Lousada) Maria João Gala
Cacho de alvarinho na vinha da Quinta de Lourosa (Lousada) Maria João Gala
Além de enóloga, Joana de Castro é a responsável pelo enoturismo na Quinta de Lourosa, em Lousada. Maria João Gala
Fotogaleria
Quinta de Lourosa (Lousada) Maria João Gala

O primado da matéria-prima

“O meu avô foi um dos sócios fundadores da Adega Cooperativa de Lousada, que foi a primeira adega cooperativa da Região dos Vinhos Verdes” e, à época, “já produziam uva, mas de forma diferente, com ramadas baixinhas”, recorda Joana. Em 30 anos, a quinta passou de quatro para 27 hectares de vinha. E continua a crescer. “Durante a pandemia plantámos vinhas novas. Na Quinta de Lourosa, o principal objectivo é a produção de boa uva. Não compramos uva, mas vendemos alguma. Achamos que produzimos boa matéria-prima e também trabalhamos muito a parte da investigação.”

Um dos focos é na mecanização de parte das vinhas: “Esta é cem por cento mecanizada, isto é, ninguém pode trabalhar nela”, explica Joana, acompanhada pelo pai, enquanto percorremos uma vinha da casta loureiro. “É a casta mais importante na região dos Vinhos Verdes, apesar de a referência ser a alvarinho. Já a arinto é a mais ecléctica, não só da região como também do país”, elabora Rogério de Castro, que ali implementou o sistema de condução da vinha em Lys, o ex-líbris da quinta, e um dos nomes mais relevantes na viticultura em Portugal. O académico acredita ser cada vez mais necessário saber “um bocadinho” de ecofisiologia. Actuar de acordo com a natureza, conjugando a fisiologia, o ambiente e a intervenção humana é, na sua opinião, fundamental.

As visitas às vinhas na Quinta de Lourosa “nunca são iguais”, vinca Joana. “Explicamos o que é um vinho verde, falamos das antigas ramadas, das formas de trabalhar, das castas típicas, mas, dependendo da altura do ano, há sempre coisas diferentes para mostrar. Uma visita nunca é igual a outra.”

No entanto, terminam sempre na sala de provas, instalada num espaço que já teve várias funções. “Primeiro terá sido uma cozinha”, conta Rogério. Actualmente não serve um propósito muito diferente: para além dos vinhos, a experiência de prova inclui a degustação de produtos regionais, como o queijo, o salpicão, o pão com chouriço e os beijinhos-de-amor. De forma a promover a região, as actividades de enoturismo podem estender-se também a visitas a lugares de relevo histórico e cultural e a experiências gastronómicas singulares.

Quinta de Lourosa
Estrada Santa Maria de Sousela, 1913, Sousela (Lousada)
GPS: 41.2937, -8.3034
Tel.: 255815312/963213655
Web: quintadelourosa.com
Das 08h às 17h. Não encerra
Visita e prova a partir de 15 euros


Este artigo foi publicado no n.º 6 da revista Singular.

Sugerir correcção
Comentar