Rumo à sustentabilidade: o compromisso da Carris com o planeta

A sustentabilidade está, hoje, na ordem do dia de várias empresas e cidadãos. Mas para a Carris, o compromisso ambiental começou desde o primeiro dia, há 150 anos. Maria Albuquerque, Vice-Presidente do Conselho Administração da Carris, e João Vieira, Director de Estratégia e Inovação da empresa, falam-nos sobre o caminho da sustentabilidade da Carris.

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150 anos depois, a “Carris está viva, porque tem sabido reinventar-se ao longo dos tempos, sem perder a sua identidade”, refere a Vice-Presidente do Conselho de Administração da empresa, Maria Albuquerque. E esta reinvenção relaciona-se também a nível ambiental. Ou não tivesse sido a Carris uma “precursora na ‘transição energética’ e na ‘electrificação dos transportes’, muito antes dos automóveis”, relembra — não nos esqueçamos que os eléctricos são hoje um ícone da cidade de Lisboa. João Vieira, Director de Estratégia e Inovação da Carris, realça, também, a transição digital, em que a empresa “tem vindo a desenvolver um trabalho de referência, seja ao nível das suas aplicações internas de gestão do negócio, seja nas formas de interagir com o cliente”. Tudo estratégias que permitem à Carris responder a um dos seus principais compromissos: a sustentabilidade do planeta.

Acelerar a inovar

Se há algo que caracteriza a Carris é o seu contínuo trabalho de inovação, que ao longo destes 150 anos é bem visível. Até a sua própria criação foi, por si só, resultado de uma inovação para a capital portuguesa, como salienta João Vieira: “Houve um trabalho de inovação quando a Carris veio criar um primeiro serviço de transporte público moderno em Lisboa, com uma capacidade de deslocar pessoas que não existia anteriormente.” A partir de então, a inovação foi constante: primeiro, veio a tracção animal, depois, a tracção eléctrica, de forma a “responder aos desafios da geografia da cidade”, relembra o Director de Estratégia e Inovação. “Mais tarde, vieram os autocarros, que se tornaram dominantes, mas que surgiram no quadro de um projecto disruptivo em termos de tecnologia e operação. E agora estamos a dar resposta a novas necessidades de descarbonização e redução da poluição, que poderão resultar numa nova electrificação de toda a nossa frota”, avança João Vieira. Aliás, para a Carris, a perspectiva ambiental é “mesmo um dos principais vectores” da actividade “em matéria de inovação”, explica. Mas a adopção de novas tecnologias que permitam um maior respeito pelo ambiente não se limita apenas aos autocarros eléctricos; também sistemas de eco-condução, de monitorização e acompanhamento de consumos permitem à Carris ser mais sustentável.

João Vieira destaca também a transição digital da empresa como outro ponto relevante da sua inovação. Nesta área, a Carris tem “vindo a desenvolver um trabalho de referência seja ao nível das suas aplicações internas de gestão do negócio, seja nas formas de interagir com o cliente”. Torna-se parte integrante quando o intuito é posicionar Lisboa como um dos grandes hubs de inovação da Europa. É por isso que a empresa se tem “posicionado como um ‘laboratório’ ao dispor dos inovadores da cidade de Lisboa”, demonstrando tecnologias inovadoras à escala global. Desta forma, tem vindo a ajudar a “estabelecer uma comunidade de inovação na área da mobilidade”, participando em projectos como o programa de aceleração de startups da Câmara Municipal de Lisboa (o Smart Open Lisboa) ou o Hub Criativo do Beato, e envolvendo-se noutras iniciativas, como a parceria desenvolvida com a Volkswagen para criar um serviço de autocarros especiais para a WebSummit (com recurso às mais recentes tecnologias digitais) ou o programa Europeu VoxPop, também em conjunto com a Câmara Municipal de Lisboa, que permite potenciar e melhorar os serviços de mobilidade.

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Sempre que possível, cruzamos o desempenho do veículo em termos de emissões de poluentes com as zonas de emissões reduzidas que existem em Lisboa, tentando alocar os autocarros a gás natural e eléctricos a estas zonas da cidade com maiores problemas de poluição do ar” João Vieira, Director de Estratégia e Inovação da Carris

Transportes públicos: uma actividade ambientalmente sustentável?

Mas como pode uma empresa de transporte ser sustentável em termos ambientais? Precisamente por se ter tornado numa empresa de transporte colectivo. Confuso? Maria Albuquerque, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Carris, explica: “A actividade de transporte público de passageiros por si só pressupõe um compromisso permanente com o ambiente: cada passageiro extra que consigamos atrair, principalmente se ele deixar de usar o automóvel, é uma vitória ambiental e uma diminuição da pegada carbónica, contribuindo para uma cidade menos congestionada, ambientalmente mais saudável, e, no fundo, mais feliz.” Mas para a Carris, ser sustentável não se esgota apenas no tipo de frota que detém; também os seus edifícios têm sido construídos ou modificados tendo sempre em mente a eficiência energética. “Estamos também apostados em reduzir o consumo de água e a produção de resíduos, e em incentivar os nossos fornecedores e colaboradores a terem melhores práticas ambientais”, adianta ainda a Vice-Presidente. Neste sentido, a manutenção da frota da Carris é feita da forma mais sustentável possível, com lavagens com recurso a “água de captações próprias, sempre que possível, para não sobrecarregar a rede pública, e também na recolha selectiva nas oficinas de tudo o que são os resíduos da manutenção, como óleos, plásticos, metais, vidros, entre outros”.

A forma como são pensadas e delineadas as carreiras têm também em conta o ambiente. Isto porque a quantas mais pessoas a Carris conseguir dar resposta, menor o número de carros na cidade. Neste sentido, a aposta da empresa incide na “transição digital, para que as novas ferramentas que estão disponíveis sirvam para aumentar a atractividade do transporte público”, explica João Vieira. Como? Através de aplicações que permitem saber rotas e horários dos autocarros ou através da integração de rede 5G nos transportes, que permite que “qualquer pessoa possa usar o tempo a bordo do transporte público para trabalhar, socializar, relaxar”, enumera o Director de Estratégia e Inovação.

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Delinear carreiras em prol do ambiente

“O planeamento da operação da Carris tem sempre presente as questões ambientais”, relembra João Vieira. É por isso que quando se projectam novas carreiras ou se fazem alterações às já existentes, é sempre tido em conta uma melhor gestão das rotas em prol do ambiente. Para isso, a Carris tenta sempre “compatibilizar a capacidade dos veículos e as frequências com a procura, o que resulta num melhor desempenho energético e ambiental por cada passageiro transportado”, que é o indicador de referência da empresa, explica o Director de Estratégia e Inovação. “Sempre que possível, cruzamos o desempenho do veículo em termos de emissões de poluentes com as zonas de emissões reduzidas que existem em Lisboa, tentando alocar os autocarros a gás natural e eléctricos a estas zonas da cidade com maiores problemas de poluição do ar”, justifica.

Em 2020, a Carris criou a primeira carreira com autocarros 100% eléctricos — a 706. Para Maria Albuquerque, este é apenas o começo da linha “zero emissões”: neste momento, a empresa conta 15 autocarros eléctricos, prevendo triplicar este número já no próximo ano. Sem esquecer, claro, os “mais de 50 eléctricos a andar diariamente sobre carris, que desempenham um papel fundamental na mobilidade da cidade”, relembra a Vice-Presidente do Conselho de Administração. Contudo, da frota da Carris ainda fazem parte viaturas menos amigas do ambiente, as quais têm vindo, ao longos dos últimos anos, a ser substituídas: em 2018, 93% da frota da Carris era a gasóleo, baixando para 66% no ano actual; e enquanto em 2018 havia apenas 40 autocarros movidos a gás natural, em 2022, este número aumentou para 240. Resultado: “Grandes benefícios ao nível da melhoria da qualidade do ar em Lisboa”, refere Maria Albuquerque.

O combate às emissões de dióxido de carbono

Com a introdução, em 2020, da carreira de autocarros 100% eléctricos, a Carris reduziu, nesse ano, em 494 toneladas as emissões de dióxido de carbono (CO2). Um ano depois, e graças à ampliação da frota de autocarros eléctricos, a empresa evitou a emissão de 662 toneladas de CO2. Este ano, o número de passageiros da Carris está a aumentar (70% acima dos valores do ano passado, convergindo com os níveis pré-pandemia). Hoje, a empresa é “cada vez mais usada por um público que era reticente em usar transportes públicos. Os jovens, em especial, valorizam a transição energética e a modernização da Carris, bem como a presença da Carris onde ela é precisa e às horas em que é precisa — o caso dos festivais de música de Lisboa, por exemplo”, adianta Maria Albuquerque. E se, por um lado, o “aumento da oferta que se prevê para este ano (ou seja, aumento de linhas e horários) resulta, necessariamente, num maior consumo de energia”, não nos esqueçamos que, por outro lado, o “resultado global é uma diminuição das emissões por passageiro que no primeiro semestre de 2022 caíram mais de um terço face a igual período de 2021”, explica.

Importa, por isso, cativar ainda mais pessoas para utilizarem os serviços da Carris, o que pode passar por iniciativas como o programa de passes gratuitos para os jovens e para maiores de 65 anos, mas também por “surpreender pela positiva” quem entra nos veículos pela primeira vez, frisa a Vice-Presidente.

Maria Albuquerque acredita que a “Carris tem (e pode ainda ter mais) um impacto real no funcionamento da cidade, pela indução de escolhas melhores em termos de mobilidade, o que leva a beneficiar quem anda e quem não anda na Carris”. Neste sentido, uma das ambições da empresa passa por se tornar uma “alternativa à utilização do automóvel, em articulação com os restantes modos de transporte público, e também os chamados ‘modos suaves’, ajudando a reduzir os consumos de combustível, as emissões de CO2, a poluição atmosférica, o ruído e o congestionamento, e a melhorar a segurança rodoviária”, refere. “​​Queremos ser escolhidos como o parceiro natural de transporte em Lisboa, quer faça chuva, quer faça sol”, admite. Para o conseguir, a Carris conta com o que a fez chegar a 150 anos de existência: o poder de inovar. Só assim, a empresa consegue “acompanhar o ritmo da cidade, não apenas em velocidade (por exemplo, com medidas como os corredores bus e a prioridade nos semáforos), mas também em conforto e em sustentabilidade, tornando cada deslocação numa boa experiência”.

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Cada autocarro, cada eléctrico e cada ascensor da Carris representa uma oportunidade de redução das emissões de CO2 dos automóveis, que deixam de estar parados nas filas de trânsito” Maria Albuquerque, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Carris

João Vieira reforça esta ideia. Para o Director de Estratégia e Inovação da Carris, a estratégia, a curto prazo, para reduzir as emissões vai mais além do que apenas substituir os autocarros a diesel mais antigos por novos autocarros sem emissões locais. “Temos de fazer essa substituição ao mesmo tempo que aumentamos o número de autocarros na nossa frota, para oferecer mais serviço e transportar mais pessoas, ao mesmo tempo que tornamos o nosso serviço mais atractivo, com mais tecnologia a bordo e preços mais baixos (até mesmo gratuitidade em alguns segmentos).”

Olhar o futuro, no banco da sustentabilidade

Quem assistiu ao primeiro dia da Carris em Lisboa estaria longe de imaginar o quanto a empresa inovaria daí em diante. 150 anos depois, a Carris continua a ser uma empresa atenta às necessidades dos seus passageiros e do próprio ambiente. E muito do seu futuro passa exactamente pelo seu compromisso para com o planeta. É neste sentido que da estratégia da empresa faz parte a “renovação da frota de autocarros, com a substituição dos veículos mais antigos a gasóleo por tecnologias mais limpas”, refere a Vice-Presidente do Conselho de Administração. Além dos autocarros, a empresa está também a apostar na renovação da sua frota de eléctricos: “O maior investimento que temos em curso na Carris é a aquisição de 15 novos eléctricos articulados, para reforçar a oferta no eixo ribeirinho da cidade. Uma tecnologia também sem emissões locais, e que terá um forte impacto na mobilidade em Lisboa”, avança.

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João Tomás
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Mas a estratégia não se fica por aqui: “Há projectos que são menos visíveis, mas que podem ter impactos relevantes em termos ambientais. Por exemplo, estamos a investir em sistemas de gestão da frota e de eco-condução que permitam fomentar uma condução mais segura, confortável e económica dos nossos autocarros. Noutra área completamente diferente, já testámos a utilização de gasóleo produzido a partir de óleos alimentares usados, e contamos muito em breve colocar na rua uma carreira que utilize esse tipo de combustível, o que pode ser uma forma mais imediata de reduzir a nossa pegada carbónica e a dependência do petróleo.” Também o contínuo investimento em edifícios mais eficientes faz parte da estratégia da Carris para se tornar numa empresa ainda mais ambientalmente sustentável — aliás, existe já um projecto-piloto de produção local de energia solar.

Além da descarbonização, João Vieira aponta outros grandes desafios a que a Carris não pode deixar de dar resposta: a segurança rodoviária; a acessibilidade de todos, pois “com uma população cada vez mais envelhecida, vai ser cada vez mais importante ter um sistema de transportes públicos que possa ser usado por qualquer pessoa, independentemente de ter maiores ou menores dificuldades de locomoção, visão, audição, etc.”; e a transição digital, na medida em que “se queremos que o transporte público ganhe quota de mercado e seja uma alternativa ao transporte individual, temos de garantir que o sector explora todas as possibilidades do digital para se tornar mais competitivo”.

Se daqui a 150 anos a Carris volta a comemorar um novo aniversário, só o futuro o dirá. Mas para a Vice-Presidente e para o Director de Estratégia e Inovação da Carris, há algo que sabem que continuará a existir na empresa e que permitirá que chegue mais longe: o poder de inovar. “Uma empresa como a Carris consegue ter 150 anos de história porque foi sempre tendo a capacidade de inovar, de mudar, de se reinventar e acompanhar as mudanças na cidade e nos estilos de vida”, ressalva João Vieira. Maria Albuquerque corrobora: “A Carris está muito atenta ao que se vai passando na Europa e no mundo neste sector, não fechando a porta a novas tecnologias e novas fontes de energia. A inovação faz parte do nosso ADN, como a nossa história o demonstra.”


Este artigo faz parte da Revista 150 anos da Carris, que será distribuída gratuitamente com o jornal Público no dia 17 de Setembro de 2022. Não perca esta edição especial nas bancas - apenas na Área da Metropolitana de Lisboa.

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