Pedro Marques diz que há margem para taxar lucros excessivos e Casalinho avisa para “dor” da inflação

O eurodeputado socialista foi, depois de Carlos César, a segunda voz socialista a pedir que se taxem as empresas com lucros excessivos. No quarto dia do encontro de jovens socialistas, Cristina Casalinho alertou o PS para as dores que o combate à inflação trará.

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Pedro Marques foi ministro das Infraestruturas e é actualmente deputado no Parlamento Europeu Nuno Ferreira Santos

Depois de Carlos César, presidente do PS, foi o eurodeputado socialista Pedro Marques que defendeu que o país tem margem para aumentar os impostos exigidos às empresas de energia com lucros excessivos, apesar de entender que o Governo já deu uma “machadada” nos lucros extraordinários quando acordou com Espanha o desacoplamento do preço do gás e da electricidade na Península Ibérica. “E isso ainda não está a acontecer no resto da Europa”, distinguiu o ex-ministro das Infraestruturas e cabeça de lista do PS nas últimas eleições europeias.

​Pedro Marques destacou ainda que, segundo os dados da Agência de Energia Europeia o sector da energia em geral irá gerar, este ano, cerca de 200 mil milhões de euros de lucros extraordinários em toda a Europa. Contrariando o que o primeiro-ministro afirmou (quando disse que, para algumas das empresas com lucros extraordinários já existem “taxas e sobretaxas”), Pedro Marques vê espaço para uma tributação adicional lembrando que “na família política” socialista tem sido defendida a tributação de lucros excessivos “desde há meses”. O ex-governante acredita que o país tem “margem para ir mais longe” e adoptar “uma contribuição extraordinária”. “Estamos a defender na Europa e é claro que também defenderia aqui em Portugal”, justificou.

“Temos menor margem para tributar lucros excessivos, porque já tomámos duas medidas para os diminuir”, admitiu. Porém, acredita que o Governo deve aprovar a contribuição. “Se não houver nada para cobrar, é porque não houve lucro excessivo. Se houver lucro excessivo, então deve ser carreado para o financiamento de apoio às famílias”, sugeriu na sua intervenção no debate da “crise Inflacionista: causas e consequências”.

Além do desacoplamento do preço do gás e da electricidade em Portugal e Espanha, o eurodeputado socialista destacou ainda a decisão do Governo de deixar os consumidores escolher voltar ao mercado regulado do gás. “O regresso ao mercado regulado limita significativamente os ganhos das empresas de energia, devolvendo aos cidadãos dos ganhos extraordinários”, afirmou. Para o socialista, estas duas medidas “limitam significativamente os ganhos das empresas do sector da energia”.

Pedro Marques explicou que as empresas em causa têm contratos de longa duração para aquisição de gás, mas admite que os ganhos financeiros se poderão esbater no tempo com a progressiva cessação desses contratos mais antigos com preços mais baixos.

Além de Pedro Marques, também a economista Cristina Casalinho, ex -presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) esteve esta manhã na Academia Socialista para falar das consequências da inflação. A economista alertou para os níveis de baixo emprego e para os perigos de criação de uma “espiral inflacionista”. E avisou que controlar a inflação irá “sempre” provocar “alguma dor”. “Para controlar a inflação vamos ter custos ao nível do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, vamos ter alguma dor”, avisou. Porém, é uma dor necessária, defendeu.

Uma das preocupações apontadas por Casalinho é a adopção de medidas que evitem que a inflação “se enraíze” e citou o Fundo Monetário Internacional para traçar esse objectivo como prioridade. “Temos de evitar a espiral preços/salários”, defendeu.

A economista notou que as taxas de juro estão a subir, mas sublinhou Portugal está “ainda longe de alguns máximos” se pensar, por exemplo, na “taxa a 10 anos”. Casalinho prevê ainda um nível de dívida pública no final do ano menor do que 120% do Produto Interno Bruto (PIB). “Quando comparamos a factura dos juros com o efeito do crescimento do PIB nominal, verificamos que o PIB nominal cresce mais do que o efeito dos juros. Por outro lado, como havia previsões de um saldo primário positivo, isso dá folga orçamental para medidas de aumento da despesa para facilitar que a reposição de rendimentos seja alcançada”, concluiu.

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