Colega de João Almeida ao ataque na Volta a Espanha

Para o português, esta movimentação na Vuelta pode ter duas leituras: vê um dos seus principais domestiques “queimar-se” no dia anterior à primeira etapa de alta montanha, mas Soler, já com uma etapa no bolso, pode focar-se agora na ajuda ao português.

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Marc Soler em acção pela UAE DR

Marc Soler venceu nesta quarta-feira a quinta etapa da Volta a Espanha. Uma frase aparentemente sem especial valor noticioso para o ciclismo português tem, porém, bastante significado – resta saber qual.

Para o português, esta movimentação pode ter duas leituras. Por um lado, vê um dos seus principais domestiques “queimar-se” no dia anterior à primeira etapa de alta montanha, revelando uma certa descrença da equipa e até falta de estatuto do próprio Almeida como líder.

Por outro, ver Soler vencer já uma etapa pode ser um “descanso” para Almeida, já que o espanhol retira esse peso dos ombros e pode, a partir daqui, focar-se na ajuda ao português – ainda que para a montanha desta quinta-feira não deva, em teoria, ter muita energia.

Mas há outras notícias relevantes deste dia. Rudy Molard (FDJ), que esteve com Soler na fuga do dia, é o novo líder da corrida, já que a equipa Jumbo não teve problema em “emprestar” a camisola vermelha ao gaulês, sabendo que Primoz Roglic, mais tarde ou mais cedo, “pedirá de volta” esta camisola – Molard dificilmente responderá a preceito na alta montanha que aí vem.

A classificação geral da Vuelta tem Fred Wright a dois segundos de Molard, seguido de Nikias Arndt e Lawson Craddock. Só depois vem Primoz Roglic, a 4m09s, uma diferença que para esta quinta-feira deverá ser suficiente, mas que acabará por ser revertida.

Soler falhou a fuga inicial

A etapa teve uma fuga de alguma dimensão, com quase duas dezenas de ciclistas a aventurarem-se num dia de “sobe e desce”, mas sem alta montanha – portanto, um perfil perfeito para este tipo de esforços.

A Jumbo deixava claro que não fazia questão de manter a camisola vermelha, pelo que a liderança da corrida seria “emprestada” a alguém – e por “alguém” entenda-se Rudy Molard ou Fred Wright, os dois fugitivos mais próximos de Roglic na classificação. Mas não foi apenas a luta pela camisola vermelha que deu interesse a esta fuga.

Inicialmente, a equipa de João Almeida foi uma das que não se prestaram a lançar alguém para a aventura, mas mudou de ideias mais tarde. Marc Soler, em tese um dos homens mais relevantes para ajudarem o português nas montanhas, saltou do pelotão e rapidamente reduziu os três minutos de atraso, juntando-se à fuga.

Esta movimentação mostra que a Emirates não quer colocar todos os “ovos” no “cesto” de João Almeida chegar ao pódio final, não enjeitando a possibilidade de vencer etapas – e este era um bom dia para um ciclista como Soler, até por a fuga, apesar de grande, não ter muitos nomes de primeiro nível.

Este era um cenário lógico caso Soler tivesse ido para a fuga original, mas mais discutível no prisma em que o espanhol teve de recuperar, sozinho, três minutos e possivelmente “esvaziar o tanque” apenas para fazer parte da fuga. A resposta a esta dúvida parecia ter chegado a cerca de 20 quilómetros da meta, quando a subida deixou Soler “a pé”, incapaz de seguir boa parte dos companheiros de fuga.

Mas Soler parece ser um seguidor dos predicados de João Almeida. O espanhol replicou a estratégia habitual do português, já tornada imagem de marca, e, depois de “descolar”, recuperou energias e seguiu subida acima, ultrapassando todos os que já o tinham deixado para trás. Soler isolou-se na frente, venceu a etapa e, no fundo, fê-lo através de um “Almeida”, epíteto que muitos já dão a este tipo de movimento.

Para esta quinta-feira está agendada uma etapa de alta montanha, com o primeiro final em alto para, finalmente, separar o trigo do joio nesta Vuelta.

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