Roglic já começou a mostrar quem é o “dono” da Vuelta

João Almeida mostrou que os receios de que não estará na melhor forma da carreira têm algum fundamento e vacilou numa subida que, apesar de pouco indicada aos predicados do português, poderia ter permitido pelo menos um posicionamento mais cuidadoso e imune a “cortes”.

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Roglic na Vuelta 2020 Reuters/CHRISTOPHE ENA

No primeiro dia de montanha na Volta a Espanha, o tricampeão Primoz Roglic já tratou de mostrar quem é o “dono” desta corrida. Para a chegada a Laguardia, no País Basco, o dia até nem era especialmente duro, mas foi o suficiente para o esloveno deixar todos os rivais para trás e conseguir até um pequeno corte na estrada, além dos segundos de bonificação que já tinha ganho durante a etapa. E é, agora, o novo camisola vermelha da corrida.

Alguns dos ciclistas que foram apanhados no corte de sete segundos foram Richard Carapaz, Mikel Landa, Simon Yates e João Almeida. O português mostrou que os receios de que não estará na melhor forma da carreira têm fundamento e vacilou numa pequena subida que, apesar de pouco indicada aos predicados do líder da Emirates, poderia ter permitido pelo menos um posicionamento mais cuidadoso e imune a cortes.

Sina diferente houve para Remco Evenepoel, Enric Mas, Wilco Kelderman e Jai Hindley, alguns dos que conseguiram chegar dentro do tempo de Roglic e, por isso, sem perda de segundos na estrada.

Na classificação geral, Roglic tem agora 13 segundos de vantagem para o colega Sepp Kuss, sendo que os primeiros verdadeiros rivais serão Pavel Sivakov a 26 segundos e Remco Evenepoel a 27. João Almeida está em 14.º lugar, a 53 segundos da liderança e a 31 segundos de um lugar no pódio.

Lutsenko em fuga

Para esta terça-feira estava desenhada uma etapa com o perfil habitualmente divertido de ver. Havia montanha – pela primeira vez nesta Vuelta –, mas sem dureza suficiente para proporcionar uma luta limitada aos “galos” da geral. E o quilómetro final da tirada tinha uma pequena elevação não muito visível no desenho do percurso, mas com pendente média de 9%, mais do que suficiente para tirar da luta os sprinters mais pesados e menos versáteis.

Era, portanto, um dia perfeito para vários tipos de ciclista: trepadores rápidos, puncheurs, bons finalizadores em grupos reduzidos ou até para um sprinter mais resistente e versátil, sobretudo caso as subidas fossem pouco atacadas.

Havia, assim, palco para nomes como Roglic, Alaphilippe, Higuita, Valverde, Hayter, Pedersen, Evenepoel ou até mesmo um bom finalizador como João Almeida, ciclista que sempre mostrou gostar de ser ofensivo neste tipo de etapas, ainda que as altas pendentes finais pudessem esfriar o ímpeto de um trepador de escaladas longas.

A fuga do dia chegou a ter meia-dúzia de ciclistas, entre os quais Aleksey Lutsenko, o nome de maior estatuto e qualidade. Com ou sem Lutsenko em fuga, o pelotão dificilmente daria “corda” aos aventureiros e isso ficou claro desde cedo, com a Bora e a Quick-Step a ajudarem a Jumbo a controlar a fuga de perto (a equipa germânica pensava em Higuita, a belga em Alaphilippe e/ou Evenepoel).

A fuga foi neutralizada a cerca de 35 quilómetros do final e pouco depois o camisola vermelha Edoardo Affini começava a sentir o efeito da inclinação da estrada – tal equivalia a dizer que haveria um quarto líder em quatro dias de Vuelta.

Ayuso frágil

A cerca de 15 quilómetros da meta começava a ficar claro que alguns dos favoritos ao triunfo neste dia não estariam na discussão – falamos sobretudo de Higuita (talvez o trabalho da Bora fosse, afinal, para Hindley), mas Juan Ayuso, espanhol da Emirates, também não mostrou boas pernas, algo que pode ter impacto na corrida de João Almeida – embora seja difícil perceber em que medida.

Por um lado, Ayuso poderia ser um dos principais domestiques do português e uma ajuda crucial nas montanhas, pelo que não são bons sinais vê-lo em dificuldades tão cedo na corrida. Por outro, o jovem espanhol já mostrou noutros momentos nem sempre estar disposto a trabalhar para Almeida, algo que, estando em má forma, poderá ser revertido pela própria equipa – afinal, só estando bem é que Ayuso convence a Emirates a deixá-lo correr por si próprio.

Tudo isto são cenários que consideram uma eventual má forma de Ayuso, mas nem isso é garantido – o espanhol pode estar a ter agora um mau dia (algo que até corrigiu no final da etapa, sem perder muito tempo), mas vir a mostrar-se capaz daqui em diante.

Sem Ayuso e Higuita em posições confortáveis no pelotão, o grupo subia para a contagem de montanha na qual Roglic e Alaphilippe se prestaram a atacar – foi o esloveno a ficar com os três segundos de bonificação, garantindo virtualmente a camisola vermelha no fim do dia.

Na subida final, Roglic pareceu não ter grande dificuldade para vencer, até porque o melhor rival que teve foi Pedersen, um velocista que fez bastante melhor do que seria suposto ter feito. Se o dinamarquês surpreendeu pela positiva num terreno que não era o seu, ciclistas como Valverde, Alaphilippe e o já mencionado Higuita ficaram abaixo do esperado numa subida deste tipo.

Nesta quarta-feira o pelotão da Vuelta mantém-se no País Basco, para mais uma etapa de média-montanha, com um “sobe e desce” constante até à meta em Bilbao.

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