Andrew Tate, para quem as mulheres são para “ter filhos, estar caladas e fazer café”, banido das redes sociais

Os fãs chamam-lhe “o rei da masculinidade tóxica” e tornaram populares os vídeos onde Andrew Tate diz preferir namorar com jovens de 18 anos por ser mais fácil deixar marcas em mulheres mais novas. Agora, foi proibido de publicar no TikTok, Facebook e Instagram.

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Andrew Tate tem um exército de homens como fãs DR

Em vídeos espalhados por toda a Internet, Andrew Tate, um antigo campeão de kickboxing que se tornou um guru de auto-ajuda para homens, defende que as mulheres são propriedade dos maridos e deveriam “ter filhos, ficar em casa, estar caladas e fazer café”.

Noutros vídeos, diz que precisa de ter autoridade sobre as mulheres com quem sai: “Não podes ser responsável por um cão se este não te obedece”. Tate disse que atacaria uma mulher que o acusasse de traição e descreveu-se como sendo “um misógino, absolutamente”.

Os fãs chamam-lhe “o rei da masculinidade tóxica”.

O conteúdo de Tate espalhou-se rapidamente pelas redes sociais, este Verão, acumulando milhões de comentários e suscitando preocupação sobre o impacto nos rapazes e jovens que se deparam com ele. Após ter visto a sua popularidade aumentar nos últimos meses, Tate gabou-se do seu alcance.

Agora, foi proibido de publicar no TikTok, Facebook e Instagram.

Numa declaração ao The Washington Post, um representante do TikTok disse que a conta de Tate foi retirada por violar as políticas da empresa que barram “conteúdos que atacam, ameaçam, incitam à violência, ou de outra forma desumanizam um indivíduo ou um grupo” com base em atributos que incluem o género. A Meta disse que tinha removido as contas oficiais de Tate no Facebook e Instagram, apontando para políticas contra organizações e indivíduos perigosos.

Tate, um norte-americano de 35 anos, que cresceu no Reino Unido e vive na Roménia e dinamiza um curso online de “educação e orientação” chamado Hustler's University, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário, no domingo.

Outros influenciadores nas redes sociais — juntamente com várias organizações que apoiam sobreviventes de agressão sexual e violência doméstica já tinham apelado para que fosse expulso das redes sociais. Hope Not Hate, um grupo sediado no Reino Unido que lançou uma petição a pedir que o perfil de Tate fosse retirado das redes sociais, descreveu-o como perigoso.

“O efeito que a marca de misoginia cáustica de Tate pode ter no público jovem masculino é profundamente preocupante”, escreveu a organização Hope Not Hate. “O seu conteúdo é amplamente celebrado pelos fãs por trazer de volta a ‘masculinidade tradicional’. Contudo, também sabemos que a misoginia pode ser uma porta de entrada para outros pontos de vista extremos e discriminatórios.”

O grupo referiu uma investigação do Daily Beast, que dizia que a casa de Tate na Roménia foi alvo de uma rusga no âmbito de uma investigação de tráfico de seres humanos. Ninguém foi detido e Tate negou ter cometido actos ilícitos.

Tate ganhou notoriedade pela primeira vez em 2016, quando foi expulso do reality show Big Brother, relatou a BBC, depois de surgir um vídeo onde parecia estar a bater numa mulher. A dupla alegou mais tarde que os actos eram consensuais. Em 2017, provocou furor online depois de ter publicado no Twitter que as mulheres deveriam assumir a responsabilidade e proteger-se contra a agressão sexual.

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Na publicação, em reacção às alegações de agressão sexual contra Harvey Weinstein, escreveu: “Se te colocas numa posição de ser violada, deves [assumir] alguma responsabilidade. Não estou a dizer que seja OK teres sido violada”. Na altura, o Twitter suspendeu permanentemente a conta, informou a NBC News.

Inicialmente, Tate era seguido por círculos de extrema-direita nas redes sociais, noticiou a NBC News. Jantou em 2019 com o editor do Infowars, Paul Joseph Watson, e o criador da teoria da conspiração Pizzagate, Jack Posobiec; Mike Cernovich, outro nome das teorias da conspiração, chamou-lhe “amigo”. Tate apareceu várias vezes no Infowars.

Mas foi nos últimos meses que se tornou mainstream, depois de aparecer em vários vídeos e entrevistas em podcasts. Em Agosto, tinha mais de quatro milhões de seguidores no Instagram; os vídeos marcados com o seu nome tinham sido vistos 12,7 mil milhões de vezes.

A súbita ubiquidade de Tate não aconteceu de forma orgânica, relatou o Guardian. Os membros da Hustler's University foram orientados para bombardear as redes sociais com os vídeos de Tate, seleccionando os mais controversos para aumentar o interesse. Entre os vídeos que ganharam tracção estava um em que aconselhou os seus seguidores a “esbofetear, esbofetear, agarrar, sufocar” mulheres no quarto e outro em que disse que namorava jovens de 18 e 19 anos porque é mais fácil deixar uma “marca” nelas.

Muitos dos vídeos que atraíram espectadores no TikTok parecem ter sido publicados pelos seguidores de Tate. Um porta-voz do TikTok disse ao The Post: “A nossa investigação sobre este conteúdo está em curso e continuamos a remover relatos e vídeos violentos que promovem a misoginia e outros comportamentos de ódio.”

Respondendo às críticas sobre os seus comentários, Tate disse numa entrevista à NBC News que interpreta uma “personagem online” e ensina homens “a evitar pessoas tóxicas como um todo”. “Não tem nada a ver com ódio pelas mulheres”, garantiu.

No entanto, a influência de Tate causou alarme suficiente para uma conta de Instagram destinada a professores criar um guia para abordar os pontos de vista de Andrew Tate com os estudantes. Grupos destinados a ajudar sobreviventes de violência doméstica argumentaram que permitir que os seus comentários permanecessem nas redes sociais normalizava a misoginia e a violência.

Zainab Gulamali, directora de políticas públicas da Women's Aid, no Reino Unido, disse ao Daily Mail: “Fazer comentários e vídeos depreciativos sobre o abuso de mulheres é tão perigoso quanto inaceitável. Isto normaliza as atitudes misóginas e sexistas que estão na origem de toda a violência contra as mulheres e raparigas”.

“Acções e linguagem sexistas que reforçam a desigualdade das mulheres são toleradas há demasiado tempo”, acrescentou. “É fundamental que todos nós desafiemos estas atitudes misóginas profundamente enraizadas, que normalizam as mulheres que são abusadas, depreciadas e controladas emocionalmente, bem como maltratadas fisicamente”.

Exclusivo PÚBLICO/The The Washington Post

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