Portugal regista 88 mortes em meio aquático, pior contabilidade dos últimos seis anos

Números são do Observatório do Afogamento da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores, que contabiliza, pelo menos desde 2017, estes dados. Maioria das mortes ocorreu no mar e no rio.

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Só cinco das 88 mortes registadas nos primeiros sete meses do ano ocorreram em zonas vigiadas. Miguel Manso

Portugal registou este ano, até ao final de Julho, 88 mortes em meio aquático, a pior contabilidade dos últimos seis anos. Os números são do Observatório do Afogamento da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (Fepons), que contabiliza estes dados desde 2017.

Até agora, 2017 era o ano que registava o maior número de morte nos primeiros sete meses do ano (71), um valor que desceu para 66 no ano seguinte e, novamente, para 57 em 2019. Manteve-se estável em 2020 e no ano passado voltou a subir, tendo-se contabilizando 62 mortes em meio aquático até 31 de Julho.

Num comunicado divulgado esta terça-feira, o observatório adianta que a maior parte das mortes ocorreu no mar (35) e no rio (31), tendo-se ainda registado oito afogamentos em poços, seis em barragens e três em piscinas privadas. Há ainda cinco mortes contabilizadas noutros locais, como lagos ou cisternas. Das 88 mortes, destaca o presidente da Fepons, Alexandre Tadeia, só cinco se registaram em zonas vigiadas: “As restantes 83 ocorreram em locais não vigiados”.

Tadeia lamenta o número elevado de mortes no meio aquático, que, considera, resulta essencialmente do facto de os portugueses não terem uma cultura de segurança aquática. “Nos 12 anos de escolaridade obrigatória que existem em Portugal, só existem dedicadas a este tema duas páginas do manual escolar do segundo ano do ensino básico”, critica o presidente da Fepons. Alexandre Tadeia lamenta que a esmagadora maioria dos portugueses não sejam capazes de identificar os sinais de perigo, nem saibam o que devem fazer quando se encontram numa situação destas.

Para colmatar essa lacuna, a federação lançou a campanha #SOSAfogamento, uma formação online gratuita, dirigida a qualquer cidadão, que pode ser realizada a qualquer hora através do site da Fepons, após a criação de uma conta gratuita.

O observatório tem dados mais detalhados num relatório sobre as mortes ocorridas no primeiro semestre deste ano, altura em que 68 pessoas perderam a vida no meio aquático, 49 das quais homens e 18 mulheres (relativamente a uma não foi possível apurar o sexo). Com 13 mortes contabilizadas, o distrito do Porto surge como o campeão dos afogamentos, seguido por Lisboa (9), Faro e Açores, ambos com seis mortes. As faixas etárias dos 65 aos 69 anos (13%) e a dos 20 aos 24 (12%) são as que apresentam maior percentagem de mortes.

O Observatório do Afogamento compila os dados através de notícias dos media, lamentando que o Estado não dê acesso aos certificados de óbitos anonimizados. Algumas mortes podem, por isso, ter resultado de problemas de saúde ocorridos no meio aquático e não propriamente do afogamento, o que esta análise não consegue apurar. Alexandre Tadeia nota, no entanto, que quando os números oficiais dos afogamentos são divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), normalmente com dois anos de atraso face à sua ocorrência, estes mostram valores similares aos da federação ou até superiores.

Este ano, o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto divulgou um estudo com as tendências de mortes por afogamento, em Portugal, entre os anos de 1992 e 2019, concluindo que ao longo desses 27 anos se registaram 6057 mortes por afogamento no país (uma média de 224 mortes por ano). Tendo por base os dados nacionais de mortalidade do INE, o estudo revelou um elevado número de óbitos em pessoas com 65 ou mais anos. Os autores do estudo entendem que a informação nacional sobre o tema deve ter mais detalhe e apelaram, por isso, à criação de um Registo Nacional Integrado de Afogamento e Lesões Aquáticas que permita caracterizar o verdadeiro impacto do afogamento (fatal e não fatal) em Portugal. ​

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