Mulheres
Nos EUA, a violência doméstica é um problema que persiste
Tammy Suomi, Nicole Sharpe e Dale Cook Driscoll têm em comum a perda de familiares próximos, vítimas de violência doméstica. Nos três casos, os perpetradores dos crimes eram os parceiros ou cônjuges das vítimas — algo que, segundo a Reuters, acontece em nove em cada 10 homicídios nesse contexto específico.
Jackie Dafoe estava grávida de 13 semanas quando foi espancada e esfaqueada até à morte pelo namorado em casa, na reserva indígena Font Du Lac, no Minnesota, em Março de 2020. O seu filho Kevin teve o mesmo destino que a mãe. Sheldon Thompson, o perpetrador, foi condenado por homicídio qualificado de três pessoas e cumpre pena de prisão perpétua sem possibilidade de saída precária. A sua mãe, Tammy Suomi, diz à Reuters, olhando fotografias da filha e do neto, que “se fez justiça por eles”.
Três décadas passaram desde que o pai de Nicole Sharpe matou a sua mãe com recurso a arma de fogo, em Brooklyn, Nova Iorque. Em 1993, o homem foi condenado a 16 anos de prisão. Nicole acredita que “a mentalidade não se alterou muito, desde então, no que toca a violência doméstica”. “Ainda existe tendência para culpar a vítima”, disse à Reuters.
Em finais de 2009, Helen, de 34 anos, e a filha Britanny, de 12, foram esfaqueadas até à morte pelo namorado da primeira, em Geneva, Nova Iorque. John Brown foi condenado e cumpre, presentemente, uma pena de 40 anos de prisão.
Os homicídios, relata a agência noticiosa, ilustram uma crise que é persistente nos Estados Unidos da América. Em 2019, de acordo com dados fornecidos à Reuters pelo think tank Violence Policy Center (VPC), nove em cada 10 mulheres assassinadas foram vítimas de homens que eram seus conhecidos. Em dois terços desses casos, as mulheres eram esposas ou parceiras íntimas dos perpetradores – e não raras vezes partilham um lar, filhos, contas bancárias.
Por norma, os assassinatos sucedem no culminar de anos de abusos que são ignorados pela polícia, pelos tribunais e pela sociedade, em geral. “É [um fenómeno] cultural. É religioso. É psicológico. As camadas são inúmeras”, conta o agente Riasharo Garcenila, do gabinete de Violência Doméstica da Polícia de Los Angeles. “Não há uma só resposta para um crime com tantas vertentes.”
O presidente norte-americano Joe Biden assinou uma nova proposta que prevê injecção de mais fundos destinados à protecção de vítimas de violência doméstica. Em Junho, houve uma reforma legal no sentido da inibição de porte ou posse de arma de pessoas condenadas por violência doméstica.
Melanie Fields, membro da Associação de Advogados de Acusação para a Violência Doméstica, crê que as mentalidades estão a mudar. “Quando eu comecei [esta unidade dedicada à violência doméstica, há 13 anos], as vítimas não eram levadas a sério, ou eram descartadas pelas autoridades ou mesmo pela comunidade”, analisa. “A situação melhorou significativamente em todo o país.”
De acordo com dados do FBI, em 2020, ano de pandemia, o número de homicídios em contexto familiar subiu 26% face ao ano anterior. Outro relatório, publicado em Janeiro de 2022 pela Agência Nacional de Pesquisa Económica, sugere que não existem diferenças significativas no que toca a homicídios em contexto de violência doméstica durante o período pandémico, mesmo com o encerramento dos tribunais.