Mulheres

Nos EUA, a violência doméstica é um problema que persiste

Tammy Suomi, Nicole Sharpe e Dale Cook Driscoll têm em comum a perda de familiares próximos, vítimas de violência doméstica. Nos três casos, os perpetradores dos crimes eram os parceiros ou cônjuges das vítimas — algo que, segundo a Reuters, acontece em nove em cada 10 homicídios nesse contexto específico.

Dale Cook Driscoll olha para a sua casa e recorda a sua filha, de 34 anos, e a sua neta, de 12, que foram esfaqueadas pelo companheiro Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
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Dale Cook Driscoll olha para a sua casa e recorda a sua filha, de 34 anos, e a sua neta, de 12, que foram esfaqueadas pelo companheiro Reuters/MAGALI DRUSCOVICH

Jackie Dafoe estava grávida de 13 semanas quando foi espancada e esfaqueada até à morte pelo namorado em casa, na reserva indígena Font Du Lac, no Minnesota, em Março de 2020. O seu filho Kevin teve o mesmo destino que a mãe. Sheldon Thompson, o perpetrador, foi condenado por homicídio qualificado de três pessoas e cumpre pena de prisão perpétua sem possibilidade de saída precária. A sua mãe, Tammy Suomi, diz à Reuters, olhando fotografias da filha e do neto, que “se fez justiça por eles”.

Três décadas passaram desde que o pai de Nicole Sharpe matou a sua mãe com recurso a arma de fogo, em Brooklyn, Nova Iorque. Em 1993, o homem foi condenado a 16 anos de prisão. Nicole acredita que “a mentalidade não se alterou muito, desde então, no que toca a violência doméstica”. “Ainda existe tendência para culpar a vítima”, disse à Reuters.

Em finais de 2009, Helen, de 34 anos, e a filha Britanny, de 12, foram esfaqueadas até à morte pelo namorado da primeira, em Geneva, Nova Iorque. John Brown foi condenado e cumpre, presentemente, uma pena de 40 anos de prisão.

Os homicídios, relata a agência noticiosa, ilustram uma crise que é persistente nos Estados Unidos da América. Em 2019, de acordo com dados fornecidos à Reuters pelo think tank Violence Policy Center (VPC), nove em cada 10 mulheres assassinadas foram vítimas de homens que eram seus conhecidos. Em dois terços desses casos, as mulheres eram esposas ou parceiras íntimas dos perpetradores – e não raras vezes partilham um lar, filhos, contas bancárias.

Por norma, os assassinatos sucedem no culminar de anos de abusos que são ignorados pela polícia, pelos tribunais e pela sociedade, em geral. “É [um fenómeno] cultural. É religioso. É psicológico. As camadas são inúmeras”, conta o agente Riasharo Garcenila, do gabinete de Violência Doméstica da Polícia de Los Angeles. “Não há uma só resposta para um crime com tantas vertentes.”

O presidente norte-americano Joe Biden assinou uma nova proposta que prevê injecção de mais fundos destinados à protecção de vítimas de violência doméstica. Em Junho, houve uma reforma legal no sentido da inibição de porte ou posse de arma de pessoas condenadas por violência doméstica.

Melanie Fields, membro da Associação de Advogados de Acusação para a Violência Doméstica, crê que as mentalidades estão a mudar. “Quando eu comecei [esta unidade dedicada à violência doméstica, há 13 anos], as vítimas não eram levadas a sério, ou eram descartadas pelas autoridades ou mesmo pela comunidade”, analisa. “A situação melhorou significativamente em todo o país.”

De acordo com dados do FBI, em 2020, ano de pandemia, o número de homicídios em contexto familiar subiu 26% face ao ano anterior. Outro relatório, publicado em Janeiro de 2022 pela Agência Nacional de Pesquisa Económica, sugere que não existem diferenças significativas no que toca a homicídios em contexto de violência doméstica durante o período pandémico, mesmo com o encerramento dos tribunais.

Dale Cook Driscoll segura uma fotografia da filha Helen Buchel e da neta Brittany Passalacqua que foram assassinadas, em 2009, pelo namorado de Helen, John Brown
Dale Cook Driscoll segura uma fotografia da filha Helen Buchel e da neta Brittany Passalacqua que foram assassinadas, em 2009, pelo namorado de Helen, John Brown Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Dale Cook Driscoll mostra as tatuagens que tem no braço, que contêm os nomes de Helen e Brittany
Dale Cook Driscoll mostra as tatuagens que tem no braço, que contêm os nomes de Helen e Brittany Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Dale Cook Driscoll mostra um colar que tem a fotografia da sua filha Helen Buchel, 34 anos, e da sua neta Brittany, de 12 anos, que fora esfaqueadas até à morte pelo namorado da mãe, John Brown, em 2009, em Rochester, Nova Iorque
Dale Cook Driscoll mostra um colar que tem a fotografia da sua filha Helen Buchel, 34 anos, e da sua neta Brittany, de 12 anos, que fora esfaqueadas até à morte pelo namorado da mãe, John Brown, em 2009, em Rochester, Nova Iorque Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Uma estrada que dá acesso à reserva indígena Fond du Lac, em Duluth, Minnesota
Uma estrada que dá acesso à reserva indígena Fond du Lac, em Duluth, Minnesota Reuters/CAITLIN OCHS
Tammy Suomi brinca com o seu gato, Love Bug, na sua casa em Duluth, Minnesota
Tammy Suomi brinca com o seu gato, Love Bug, na sua casa em Duluth, Minnesota Reuters/CAITLIN OCHS
Tammy Suomi sofre pela perda de Jackie, a sua filha, e do seu neto Kevin, na sua casa em Duluth, Minnesota
Tammy Suomi sofre pela perda de Jackie, a sua filha, e do seu neto Kevin, na sua casa em Duluth, Minnesota Reuters/CAITLIN OCHS
Fotografias de infância de Jackie Defoe, a filha de Tammy Suomi, que foi assassinada em Março de 2020
Fotografias de infância de Jackie Defoe, a filha de Tammy Suomi, que foi assassinada em Março de 2020 Reuters/CAITLIN OCHS
Tammy Suomi prepara a roupa que irá usar para testemunhar contra Sheldon Thompson, acusado do assassinato da sua filha Jackie Dafoe e do seu neto Kevin
Tammy Suomi prepara a roupa que irá usar para testemunhar contra Sheldon Thompson, acusado do assassinato da sua filha Jackie Dafoe e do seu neto Kevin Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Tammy Suomi segura uma nota que a sua filha Jackie escreveu no verso de uma fotografia. A nota, redigida ainda quando frequentava a escola, era dirigida à avó
Tammy Suomi segura uma nota que a sua filha Jackie escreveu no verso de uma fotografia. A nota, redigida ainda quando frequentava a escola, era dirigida à avó Reuters/CAITLIN OCHS
Tammy Suomi segura a pulseira hospitalar do seu neto Kevin, na sua casa em Duluth, Minnesota
Tammy Suomi segura a pulseira hospitalar do seu neto Kevin, na sua casa em Duluth, Minnesota Reuters/CAITLIN OCHS
Peças criadas por amigos de Tammy estão penduradas nas paredes da casa de Tammy, em Duluth, Minnesota
Peças criadas por amigos de Tammy estão penduradas nas paredes da casa de Tammy, em Duluth, Minnesota Reuters/CAITLIN OCHS
As campas de Jackie Defoe e do seu filho de 21 meses Kevin estão no cemitério da reserva Fond du Lac
As campas de Jackie Defoe e do seu filho de 21 meses Kevin estão no cemitério da reserva Fond du Lac Reuters/CAITLIN OCHS
Tammy Suomi manuseia os pertences na sua casa, em Duluth, Minnesota
Tammy Suomi manuseia os pertences na sua casa, em Duluth, Minnesota Reuters/CAITLIN OCHS
Tammy Suomi visita o túmulo da sua filha, Jackie Defoe, e do seu neto, Kevin, um dia antes do julgamento de Sheldon Thompson, acusado do seu assassinato, que irá decorrem em Duluth, Minnesota. Jackie estava grávida de 13 semanas quando foi assassinada.
Tammy Suomi visita o túmulo da sua filha, Jackie Defoe, e do seu neto, Kevin, um dia antes do julgamento de Sheldon Thompson, acusado do seu assassinato, que irá decorrem em Duluth, Minnesota. Jackie estava grávida de 13 semanas quando foi assassinada. Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Tammy Suomi rodeada de familiares próximos entra no Tribunal de Carlton para testemunhar no julgamento contra Sheldon Thompson, acusado do assassinato da sua filha Jackie Defoe e do seu neto Kevin
Tammy Suomi rodeada de familiares próximos entra no Tribunal de Carlton para testemunhar no julgamento contra Sheldon Thompson, acusado do assassinato da sua filha Jackie Defoe e do seu neto Kevin Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Nicole Sharpe espera para atravessar a rua, em Nova Iorque
Nicole Sharpe espera para atravessar a rua, em Nova Iorque Reuters/CAITLIN OCHS
Nicole Sharpe segura uma fotografia da sua mãe, Heather Hurley, que foi assassinada pelo seu pai, Winston Richards, quando Sharpe era adolescente, em Nova Iorque, EUA. Richards foi condenado por homicídio, em 1993, condenado a 16 anos de prisão. Faleceu em 2012
Nicole Sharpe segura uma fotografia da sua mãe, Heather Hurley, que foi assassinada pelo seu pai, Winston Richards, quando Sharpe era adolescente, em Nova Iorque, EUA. Richards foi condenado por homicídio, em 1993, condenado a 16 anos de prisão. Faleceu em 2012 Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Retrato da mãe de Nicole Sharpe, Heather Hurley, que foi assassinada pelo marido, Winston Richards, quando Nicole era adolescente
Retrato da mãe de Nicole Sharpe, Heather Hurley, que foi assassinada pelo marido, Winston Richards, quando Nicole era adolescente Reuters/CAITLIN OCHS
Nicole Sharpe trabalha no seu computador, enquanto janta com a filha, Tyler, na sua casa, em Nova Iorque
Nicole Sharpe trabalha no seu computador, enquanto janta com a filha, Tyler, na sua casa, em Nova Iorque Reuters/CAITLIN OCHS
O vestido de noiva de Heather Hurley na cama da sua filha Nicole, na sua casa em Brooklyn, Nova Iorque
O vestido de noiva de Heather Hurley na cama da sua filha Nicole, na sua casa em Brooklyn, Nova Iorque Reuters/MAGALI DRUSCOVICH
Ímanes estão sobre a porta do frigorífico da casa de Nicole Sharpe, em Nova Iorque
Ímanes estão sobre a porta do frigorífico da casa de Nicole Sharpe, em Nova Iorque Reuters/CAITLIN OCHS