Nos primeiros seis meses do ano foram assassinadas 19 mulheres e meninas, segundo o observatório da UMAR

Uma média de mais de três mulheres assassinadas por mês: foram estes os dados recolhidos pelo Observatório das Mulheres Assassinadas. Campanha de sensibilização para a prevenção do femicídio lançada em conferência na manhã desta quinta-feira.

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Do total, 15 mortes aconteceram em contexto de relações de intimidade Rui Oliveira

As contas foram feitas a partir das notícias de jornais, que todos os anos o Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA), da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), analisa: nos primeiros seis meses de 2022, foram assassinadas 19 mulheres e meninas, o que dá uma média de mais de três mulheres assassinadas por mês. Do total, 15 foram em contexto de relações de intimidade. O observatório registou ainda que 16 mortes corresponderam a femicídios — ou seja, assassínios de mulheres com base na violência de género.

Quanto às tentativas de assassinato os dados ainda são mais altos: foram contabilizadas 28 — o que dá uma média de 4,6 por mês —​ sendo que 22 delas correspondem a femicídios e 20 foram em contexto de relações de intimidade.

No mesmo período homólogo de 2021, os dados semestrais preliminares do OMA de Janeiro a Junho de 2021 indicavam ter sido assassinadas 14 mulheres, com seis vítimas de femicídios e 27 tentativas de assassinato, 23 das quais consideradas tentativas em contexto de relações de intimidade.

Os dados do OMA foram divulgados esta quinta-feira durante a conferência para o anúncio de uma campanha de sensibilização para a prevenção do femicídio em cinco países europeus.

Liliana Rodrigues, presidente da UMAR, sublinhou a importância de analisar os dados separando-os por femicídio e assassinatos: no femicídio a “motivação que leva ao assassinato é baseado no género”, referiu. E acrescentou: “É importante analisar estes dados com cautela: as tentativas podem ser consumadas”. A dirigente referiu ainda: “A violência contra as mulheres é estrutural e não é individual, tem um impacto não apenas nas mulheres e nos seus familiares e por isso as respostas devem ser integradas, interdisciplinares e em rede.”

Os últimos dados do Governo publicados no portal da Comissão para a Igualdade de Género (CIG) — que tem divulgado os números trimestrais sobre este crime, mas neste momento apenas tem os do primeiro trimestre disponíveis — revelaram que no primeiro trimestre de 2022 foram oito mulheres e uma criança assassinadas em contexto de violência doméstica.

Estes dados oficiais mostravam ainda que em 2021 a violência doméstica tinha feito 23 mortes: 16 eram mulheres, duas crianças e cinco homens. Em 2020 foram 32 as mortes provocadas por situações de violência doméstica e em 2019 foram 35.

UMAR recolhe dados há 18 anos

Segundo o OMA, o mapeamento do femicídio em Portugal é feito há 18 anos pela UMAR, que recolhe e analisa dados através dos meios de comunicação social sobre as mortes de mulheres.

A campanha lançada com o tema O femicídio pode ser prevenido: liga os pontos tem como objectivo “destacar a importância de identificar, reconhecer, validar e valorizar os diversos sinais de alerta da existência de uma relação abusiva que poderão contribuir para colocar a vítima numa situação de perigo”, referem. “Se os diversos sinais forem identificados e ligados, com uma articulação e verdadeira rede de suporte, as mortes destas mulheres são possíveis de evitar.”

A campanha irá divulgar cinco vídeos com vários objectivos: “sublinhar a necessidade de nomear os assassinatos de mulheres e meninas em razão do género como femicídio; estabelecer a ligação entre a banalização da violência contra a mulher na sociedade e o femicídio; alertar para sinais e factores de risco associados ao femicídio; desmistificar pré-concepções sobre o femicídio que escondem ou minimizam aspectos fundamentais da violência contra as mulheres; e exigir colectivamente que os governos tomem as medidas necessárias e eficazes para a prevenção do femicídio. O primeiro vídeo tem como título A cada seis minutos, uma mulher ou rapariga é morta devido ao seu género.

A campanha surge no âmbito do projecto FEM-UnitED - Unid@s para prevenir o femicídio na Europa, da qual a UMAR e a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) fizeram parte e onde participaram oito entidades de cinco países (Portugal, Espanha, Alemanha, Chipre e Malta).

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