Língua portuguesa é a maior barreira entre os imigrantes e o emprego, diz Solidariedade Imigrante

Comunicação é condição para ter trabalho. Além disso, não falar a língua impede os migrantes de conhecerem os seus direitos, saliente o presidente da associção Timóteo Macedo.

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Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto foram organizadas aulas de português para refugiados ucranianos Paulo Pimenta

A Solidariedade Imigrante, associação de apoio a imigrantes com mais de 45.000 associados, afirma que o domínio da língua portuguesa é o maior obstáculo com que se deparam no acesso ao mercado de trabalho. A associação recebe na sua sede, em Lisboa, cerca de 80 pessoas por dia, tendo cerca de 45.300 associados originários de 98 países, a maioria provenientes da Guiné-Bissau, Nigéria, Gâmbia, Nepal e Paquistão.

A responsável pelo gabinete de apoio ao emprego da Solidariedade Imigrante, Sarka Pereira, disse à Lusa que o conhecimento do português é o maior entrave no acesso dos imigrantes ao emprego.

“Neste momento, até nas obras já temos dificuldades. Por questões de segurança, o processo trava-se quando a pessoa não percebe o que é dito e não reage. [...] Rejeitam todas as pessoas que não falam pelo menos um bocado de português”, afirmou Sarka Pereira.

Noutros serviços, como auxiliares de cozinha na restauração, o problema repete-se, pois é um trabalho que “tem de ser rápido”, acrescentou.

Para lá da comunicação

Para o presidente da Solidariedade Imigrante, Timóteo Macedo, aprender o português tem ainda mais vantagens para além da comunicação. “Os próprios imigrantes [...] vão conhecer melhor os seus direitos e defendê-los. Muitas empresas aproveitam-se da situação de precariedade para muitas vezes pagarem salários mais baixos ou não darem regalias a que têm direito”, destacou Timóteo Macedo.

A Solidariedade Imigrante actua ainda no processo de consciencialização dos empregadores das capacidades de adaptação dos imigrantes. “Temos de fazer muito trabalho para tentar conhecer as entidades empregadoras para lhes darem a oportunidade, já que eles no processo de trabalho rapidamente vão aprendendo.”

Acesso restrito à escola

Ao longo dos últimos 15 anos, a associação contou com voluntários e estudantes na organização de turmas para aulas de Língua Portuguesa.

Actualmente, os imigrantes podem aceder aos cursos de Português – Língua de Acolhimento, criados pelo Estado e integrados no ensino público. No entanto, nem todos conseguem ter acesso devido à insuficiência do número de vagas, indicou por seu lado Sarka Pereira.

Outra dificuldade no processo de inscrição no projecto dá-se quando os imigrantes são negados nas escolas, por falta de legalização ou certificado de manifestação de interesse, uma situação contestada por Sarka Pereira para quem as aulas são para todos: “É para todos os imigrantes, também ilegais”.

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