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No final da linha de Sintra, “onde a cidade acaba”, fundem-se o rural e o urbano em zona híbrida

Entre Lisboa e Sintra, junto à linha invisível que separa o verde-campo e o cinza-betão, existe uma zona que não é rural, que não é urbana. O fotógrafo italiano Alex Paganelli, autor do projecto Where the City Ends, que logrou menção honrosa do prémio Novos Talentos Fnac, debruçou-se sobre este tipo de lugares e retratou o que existe "entre o espaço projectado e o espaço selvático".

©Alex Paganelli
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©Alex Paganelli

Existe um lugar-tipo, uma espécie de híbrido com identidade própria, que se situa invariavelmente junto à linha invisível que separa dois centros urbanos contíguos. Esse lugar não é rural, não é urbano; é algo do meio. "É o ponto de encontro entre a urbanização e a paisagem natural", explica o fotógrafo Alex Paganelli ao P3, em entrevista. "É o lugar onde acaba a cidade", resume. Como se identifica? "Num espaço mais rural, está sempre presente um elemento típico da cidade e num espaço mais citadino acontece o inverso". O projecto Where the City Ends, desenvolvido pelo italiano aquando da frequência do workshop de fotografia da Narrativa, liderado por Mário Cruz, debruça-se sobre uma dessas zonas mistas, precisamente sobre "o fim da linha que liga o centro da capital, Lisboa, até Sintra", na freguesia de Algueirão - Mem Martins.

Fotógrafo e publicitário, Alex reside em Portugal desde 2008. Há cerca de três anos, trocou o centro de Lisboa pela periferia, mais precisamente pelos arredores de Sintra. "Fui mais uma vítima da gentrificação", lamenta. Foi essa mudança que o conduziu ao contacto directo com este tipo de zonas, "lugares em formação", como lhes chama. "Durante vários meses de longas caminhadas e deambulações, fui percebendo que a cidade é um elemento vivo, que cresce ininterruptamente", observa. A cidade vai tragando a ruralidade, em suma. "Continuam a construir-se prédios, zonas residenciais, nessas zonas, o que faz com que, mais cedo ou mais tarde, essas venham a converter-se em parte urbana."

O fotógrafo natural de Roma conheceu dezenas de pessoas no decorrer do projecto. "Através dos retratos, percebi que os jovens querem pertencer à cidade e que os mais velhos gostariam de preservar a calma, a tranquilidade do campo." Em Algueirão - Mem Martins, o fotógrafo encontrou jovens operários, artistas e mesmo um pastor de ovelhas. "No final, o que sobressai é mesmo o contraste."

O projecto que "mostra as margens entre o espaço projectado e o espaço selvático", que já esteve em exposição no espaço da Narrativa, em Lisboa, foi recentemente distinguido com uma menção honrosa pelo concurso Novos Talentos FNAC. O projecto, que Alex considera ser de cariz documental, que inclui fotografias de paisagem, retratos e natureza morta, não recorre a legendas nas imagens. "O foco é naquele tipo de território, não precisamente em Algueirão - Mem Martins", explica. "Este tipo de morfologia urbana pode encontrar-se em qualquer lugar dos arredores de Lisboa." Em qualquer lugar onde a cidade acabe.

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