Zero espera que avaliação do glifosato seja transparente e rigorosa

Associação ambientalista refere que, em 2017, houve falhas no processo que levou ao prologamento da licença do herbicida na União Europeia. “Desta vez”, a Zero espera que não haja “falta de transparência e rigor metodológico na avaliação” dos riscos para a sáude humana.

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O glifosato pode ser encontrado em produtos como o Round-Up, criado pela empresa norte-americana Monsanto (hoje detida pela Bayer) Yves Herman/Reuters

A associação Zero espera que o processo de avaliação dos riscos que o glifosato pode colocar para a saúde humana seja, “desta vez”, transparente e rigoroso. A organização ambientalista reage assim ao parecer da Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa, na sigla em inglês), divulgado segunda-feira, sobre o herbicida para combater ervas daninhas mais usado na União Europeia.

O documento elaborado pelo comité de avaliação de riscos da Echa reitera que a substância não pode – à luz dos dados científicos de que dispomos hoje – ser classificada como cancerígena. Esta apreciação é apenas uma das etapas do processo que decidirá o futuro do controverso herbicida na Europa. O prazo para o prolongamento da licença pela Comissão Europeia termina a 15 de Dezembro de 2022.

“Esperamos que, desta vez, o processo de avaliação paute pela transparência e o rigor indispensáveis à tarefa de assegurar a protecção da saúde [humana]”, afirma ao PÚBLICO Pedro Horta, membro da Zero. “O parecer da Echa é um dos passos para a renovação, uma vez que não houve reclassificação do risco, apesar de alguns especialistas apontarem para falhas nos estudos apresentados pela indústria e novas evidências de genotoxicidade. Por sua vez, a Agência Europeia de Segurança Alimentar [EFSA, na sigla em inglês] adiou a conclusão da sua avaliação de risco por um ano, empurrando o processo para Julho de 2023”, afirma ainda.

O ambientalista diz que o processo que levou ao prolongamento da licença para a comercialização da substância na Europa por mais cinco anos, concluído em 2017, atribuiu “um peso excessivo” aos “estudos encomendados pela indústria face aos estudos independentes”. Além disso, segundo a mesma fonte, terá havido “falta de transparência e rigor metodológico na avaliação”. E mais: a decisão “desconsiderou” a classificação, proposta em 2015 pela Agência Internacional para a Investigação em Cancro (IARC, na sigla em inglês), do glifosato como “provavelmente cancerígeno”. Pedro Horta recorda que a “classificação foi mantida mesmo após toda contestação e crítica por parte da indústria”.

Pedro Horta refere que “o glifosato é o ingrediente activo mais presente nos herbicidas usados na União Europeia, correspondendo a um terço do total de vendas em 2017”, o que equivaleria “a cerca de 47.000 toneladas”. Nesse mesmo ano, Portugal foi um dos líderes europeus na utilização da substância, considerando o número de quilos empregue por hectare, diz o ambientalista, citando o mais recente relatório da rede de investigação europeia ENDURE. Também em 2017, Portugal proibiu do uso do glifosato como herbicida em espaços públicos, incluindo parques e jardins urbanos, escolas e hospitais.

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