Remoção de barragens na Europa atingiu recorde em 2021

Portugal retirou a primeira barreira fluvial no ano passado, país está atrasado na restauração dos cursos do rio. Estima-se que na Europa haja 150.000 barreiras fluviais velhas, obsoletas ou que perderam a sua função.

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Das 1201 barreiras existentes no rio Douro, cerca de um quarto estão abandonadas ADRIANO MIRANDA

Em 2021, foram retiradas 239 barreiras que obstruíam rios e cursos de água em toda a Europa, deixando os rios mais navegáveis e livres para as espécies de peixes. Este foi o maior número de sempre, de acordo com o relatório anual da organização Dam Removal Europe (Remoção de Barragens da Europa), publicado agora. A Espanha lidera a tabela dos 17 países que retiraram estruturas, com a remoção de 108 barreiras. Portugal retirou pela primeira vez uma barreira fluvial no ano passado. Foi na ribeira do Vascão, na margem direita da bacia do Guadiana

“A remoção de barreiras é a ferramenta mais eficiente para restaurar os rios e as suas populações de peixes”, explica Herman Wanningen, director da World Fish Migration Foundation (WFMF) - algo como a Fundação Migração Piscícola do Mundo. “Esta ferramenta deve ser implementada em toda a Europa, a começar com as barreiras fora de uso ou que já não têm qualquer função económica”, disse, citado num comunicado da Dam Removal Europe.

Além das barragens, existem outros tipos de estruturas, como os açudes, as comportas, as galerias e os vaus, que travam o fluxo dos rios e dificultam a migração dos peixes de água doce, pondo em causa a biodiversidade dos rios.

Das 1,2 milhões barreiras que se contabilizaram nos rios europeus, 150.000 estão velhas, obsoletas ou já perderam a sua função, mas continuam a bloquear cursos de água por todo o continente. Só na região portuguesa do rio Douro, há 1201 barreiras e cerca de um quarto estão abandonadas, segundo um comunicado da Associação Natureza Portugal em Associação com o Fundo Mundial da Natureza (ANP

WWF).

“Portugal está, infelizmente, muito atrás dos restantes países europeus no que diz respeito à remoção de barreiras fluviais obsoletas”, refere Ângela Morgado, directora-executiva da ANP

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Ribeira de Bentos, no Algarve Melanie Maps

WWF, no comunicado. “Existem barreiras já identificadas como obsoletas há vários anos, mas que continuam a interromper o curso natural dos rios até hoje.”

Em 2021, a maior estrutura retirada foi uma barragem de Anllarinos, de 13 metros de altura, perto da povoação de Anllarinos, na província de Leão, em Espanha. Das 239 barreiras removidas, 76% eram estruturas menores do que dois metros e 87% eram açudes, o que reflecte a grande proporção de pequenas estruturas que estão a fragmentar os rios da Europa.

Sabia que...

...até 2030, a União Europeia quer restaurar pelo menos 25.000 quilómetros de rios para que se tornem livres. Esta medida faz parte da estratégia para a biodiversidade da UE e integra o Pacto Ecológico Europeu.

A remoção das barragens é uma necessidade real”, explica Pao Fernández Garrido, gestor de projectos da WFMF, citada pelo jornal britânico The Guardian. “Temos centenas de milhares de barreiras abandonadas, o que é um problema de segurança. As barragens afectam a qualidade de água e o nível de água no subsolo, causam a erosão dos cursos de água e da costa e o desaparecimento das praias, geram emissões de gases com efeito de estufa e levam ao declínio e até à extinção das populações de peixes migratórios, com um declínio de 93% dos peixes migratórios na Europa nos últimos 50 anos.”

A barreira retirada em Portugal foi na ribeira do Vascão, na margem direita da bacia do Guadiana. Os trabalhos foram feitos numa zona em que a ribeira faz fronteira entre o distrito de Faro e Beja, numa galeria de escoamento do Pessegueiro, perto do Monte do Pessegueiro. Em Outubro último, os canais de escoamento no meio da galeria foram retirados e foi construída uma ponte para manter a ligação das duas margens da ribeira, segundo o relatório. Esta galeria é uma das 18 barreiras que terão impacto negativo considerável na migração dos peixes daquela ribeira.

Este ano, o Açude de Galaxes, em Alcoutim, no Algarve, vai ser removido pela ANP

WWF, segundo Ângela Morgado, através de um fundo concedido pelo Programa Rios Abertos.

Além de Portugal, iniciaram também no ano passado a retirada de barreiras Montenegro, que retirou três estruturas, e a Eslováquia, que retirou uma. A Alemanha, a Áustria, a Bélgica, a Estónia, a França, a Finlândia, a Lituânia, a Noruega, os Países Baixos, a Polónia, a Suécia, o Reino Unido e a Ucrânia foram os outros países a retirarem barreiras em 2021. Os resultados do novo relatório da WFMF serão apresentados em Lisboa, no seminário Dam Removal Europe, esta semana, de 19 a 21 de Maio.

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