Secreta segue Igor Khashin pelo menos desde 2014

Líder da Casa da Rússia, envolvido no acolhimento a refugiados ucranianos em Setúbal, era monitorizado pelo SIS pelas suas ligações ao Kremlin. Alto Comissariado para as Migrações diz-se “sem conhecimento” de associações de imigrantes com relações com Moscovo.

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Paulo Pimenta

O Serviço de Informações e Segurança (SIS) tem seguido a actividade em Portugal de Igor Khashin, líder da Casa da Rússia e que esteve envolvido no acolhimento a refugiados ucranianos em Setúbal. Ao contrário do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), que não tinha conhecimento das suas ligações a Moscovo, os serviços secretos tinham-no sob monitorização pelo menos desde 2014, na sequência da anexação da Crimeia pela Rússia.

A informação é avançada esta sexta-feira pelo semanário Expresso, que escreve tê-la confirmado junto de fontes próximas do Governo e da Assembleia da República. “Igor Khashin era mais do que conhecido pelos serviços de informações. Estava identificado e sob observação dos serviços, que não fazem investigação criminal mas enviam relatórios”, afirma uma destas fontes ao semanário.

Ainda segundo o mesmo jornal, não existe nenhuma investigação criminal que envolva Khashin, nem na Polícia Judiciária e no Ministério Público, mas esta pode ser aberta se o ACM, a quem o Governo entregou a investigação do caso, “averiguar a existência de algum tipo de crime neste processo”.

Uma outra fonte explica ao Expresso que os conselhos de compatriotas russos, como aquele que Khashin dirigia em Portugal, são acompanhados com mais atenção desde 2014.

Esta notícia contrasta com a informação avançada na quarta-feira pelo ACM, a quem o Governo entregou a investigação do caso depois de ter vindo a público, na semana passada, que Igor Khashin e a esposa, Iulia Khashina – que desde Dezembro é funcionária da Câmara de Setúbal – estavam envolvidos no acolhimento a refugiados ucranianos naquela cidade.

Em resposta ao PÚBLICO, aquele organismo estatal diz que “não tem conhecimento de que a actuação das associações reconhecidas [por este instituto público] tenha envolvimento ou ligação política ao Governo russo”. E isto, acrescenta o ACM, apesar de “algumas destas associações terem, nos seus corpos sociais, cidadãos de várias nacionalidades, incluindo a nacionalidade russa”. A Associação dos Ucranianos em Portugal (AUP) tem alertado para a possibilidade de haver associações russas e com ligações ao Kremlin reconhecidas pelo ACM como representantes da comunidade ucraniana.

Igor Khashin presidiu à Associação de Emigrantes de Leste, que agora é liderada pela sua mulher, Iulia Khashina, e foi secretário-executivo do Conselho Coordenador dos Compatriotas de Portugal. Também dirigiu o Centro Cultural Russo em Portugal, conhecido como “Casa Russa”, tendo organizado um encontro de imigrantes russos na Europa, em 2014, em Lisboa. Fruto destes cargos, “mantinha contactos permanentes com organismos do Kremlin”, escreve o Expresso, segundo o qual “precisava do reconhecimento e da validação por parte das autoridades russas” para exercê-los.

“Estes conselhos de compatriotas que, até 2014, eram relativamente inofensivos, a partir da anexação da Crimeia passaram a ser uma cobertura ou uma oportunidade para os serviços de informações”, explica ao semanário outra fonte dos serviços de informação.

O Parlamento Europeu já tinha alertado para as actividades de organismos ligados ao Kremlin, em particular a Fundação Russkyi Mir, criada pelo próprio Presidente da Rússia, Vladimir Putin. As associações a que Igor Khashin esteve ligado constavam no site desse organismo como entidades parceiras, segundo a AUP.

“Estranho que as autoridades portuguesas não tenham feito nada, quando este problema já estava identificado desde 2016, quando foi aprovada pelo Parlamento Europeu uma resolução” para combater a propaganda contra a UE, afirmou esta semana à CNN Portugal o eurodeputado Paulo Rangel. Em Novembro desse ano, foi aprovada uma Resolução do Parlamento Europeu sobre a comunicação estratégica da União Europeia para a implementação de políticas de combate à desinformação e propaganda contra a UE, especificamente sobre ameaças vindas do Estado Islâmico e da Rússia.

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