À procura de emprego num mundo de algoritmos

Bem-vindos ao século XXI, onde cada vez mais quem recruta recorre a programas de leitura e análise de currículos na procura dos melhores candidatos para as vagas por preencher.

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Jovem, jovem adulto ou adulto, estás cansado, para não dizer farto e saturado, de enviar currículos sem resposta ou, a haver resposta, um sem número de negas?

Sim, foste vítima de um algoritmo, algoritmo esse responsável pela leitura e análise do teu e de milhares de currículos ao invés do comum, e familiar, olhar humano, em tudo distante agora que a inteligência artificial toma conta do mercado de emprego.

Bem-vindo ao século XXI, onde cada vez mais quem recruta recorre a programas de leitura e análise de currículos na procura dos melhores candidatos para as vagas por preencher.

Aquele email recebido apenas horas após o envio do currículo? Foi escrito e enviado por um bot a fazer as vezes do empregador.

Mas não só, ou não fossem os algoritmos igualmente responsáveis pela análise de entrevistas vídeo pré-gravadas, entrevistas essas popularizadas durante os recentes períodos de confinamento e agora prática corrente.

E se os problemas já tinham começado um pouco lá atrás, agora agravam-se consideravelmente quando não é possível garantir a total imparcialidade de programas se diante da câmara se sentam todas as raças, géneros, credos e orientações sexuais.

A título de exemplo, se para um determinado lugar houver uma esmagadora maioria de homens a candidatar-se, o algoritmo acaba por “aprender” ser a norma a candidatura de homens, preterindo mulheres e outros géneros em consequência.

De igual modo, um algoritmo pode assumir a candidatura de nomes ocidentais e caucasianos como a norma, deixando para segundo plano todos os candidatos que não cumpram estes requisitos.

Quanto às entrevistas por vídeo, os algoritmos não se ficam pela análise das expressões faciais, analisando também o tom de voz, a fluência da fala, o formato da face sem esquecer o sotaque do entrevistado.

Em suma, os algoritmos e a inteligência artificial que os gere são a imagem de quem os concebe e não a pessoa, o informático, o empresário em si mesmo.

Independentemente da origem do criador do algoritmo, uma imagem é apenas isso, uma imagem, um reflexo e um reflexo procura sempre, e de acordo com a lógica matemática, um igual ou semelhante no qual se reconheça de modo a cumprir os preceitos da sua origem.

Porquê então o uso desenfreado de algoritmos no mundo do recrutamento e dos recursos humanos? Porque é mais barato. Porque o algoritmo, o bot, é a automatização dos recursos humanos de uma instituição ou de uma empresa, substituindo quem recruta por um simples programa de análise de dados.

E assim, enquanto o tempo passa e a regulação do mercado de trabalho não vem, somos cada vez mais um número e um número só, adiando para um tempo tão indefinido como distante o dia no qual um empregador de carne e osso terá a oportunidade de ler um dos milhares de currículos enviados por ti até à data.

Não obstante, de pouco ou nada vale baixar os braços, tudo é uma aprendizagem e se as empresas usam programas na procura de palavras-chave em cada currículo, então comecemos por usar essas mesmas palavras-chave. Como? Lendo atentamente os requisitos da posição pretendida e procurando usar os mesmos termos na candidatura.

E, por incrível que pareça, leiam e releiam o currículo à procura de erros ou gralhas e, por favor, usem um corrector ortográfico. Basta procurar em qualquer motor de busca, sendo o meu preferido, publicidade aparte, o Flip.pt, simples e eficaz na análise de 3000 caracteres de cada vez.

Quanto às entrevistas por vídeo, nada como ensaiar entrevistas vezes e vezes sem conta através de gravações prévias, procurando sempre manter o contacto visual e uma boa postura corporal. Ah, e não esquecer o pano de fundo, quanto mais neutral, melhor.

E sim, as vossas contas nas redes sociais mais a pegada digital serão, sem sombra de dúvida, alvo de escrutínio. Revejam as definições de privacidade e tenham atenção a conteúdos partilhados com o público em geral.

A exigência da regulação do mercado é igualmente fundamental junto de quem nos dirige, no sentido de defender a partilha pública dos nomes das empresas que usam este método de recrutamento bem como as avaliações de desempenho dos algoritmos.

Neste contexto, os algoritmos devem ser alvo de correcção ou mesmo eliminados caso se prove ser o seu uso fonte de discriminação.

Sim, é uma luta quando se quer ser o escolhido, o vencedor, o contemplado com um emprego e cada vez mais e mais os passos para lá chegar. A informação é chave fundamental neste processo. E a certeza de como não estás só: se do lado de lá tens um bot, do lado de cá tens quem te ajude, feitos da mesma carne e com os mesmos ossos.

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