Feijóo descreve primeiro encontro com Sánchez como “muito cordial” e “pouco frutífero”

Novo líder do PP apoia sem reservas política do Governo sobre a guerra da Ucrânia, mas considera “inadmissível” não ter sido ouvido sobre a decisão de apoiar o plano marroquino para o Sara Ocidental.

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Sánchez recebeu pela primeira vez Feijóo no Palácio da Moncloa EPA/Chema Moya

As três horas que durou o aguardado primeiro encontro entre o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e o novo presidente do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, só permitiram aos dois dirigentes chegar a acordo num ponto e anunciar o recomeço imediato das negociações para renovar o Conselho Geral do Poder Judicial (bloqueadas há três anos e meio), e o Tribunal Constitucional.

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As três horas que durou o aguardado primeiro encontro entre o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e o novo presidente do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, só permitiram aos dois dirigentes chegar a acordo num ponto e anunciar o recomeço imediato das negociações para renovar o Conselho Geral do Poder Judicial (bloqueadas há três anos e meio), e o Tribunal Constitucional.

Governo e PP tinham anunciado que os dois chegariam a esta reunião armados de grandes expectativas e de várias propostas para iniciar uma nova fase de entendimento. Feijóo prometeu apostar numa linha de pactos de Estado e Sánchez respondeu preparando onze grandes acordos destinados a mudar o clima político dos últimos anos, marcado por uma enorme distância entre os dois maiores partidos espanhóis. Afinal, resumiu Feijóo, o encontro foi “muito cordial” mas “pouco frutífero”.

Terminada a reunião, e para além da questão do poder judicial, sabe-se que o primeiro-ministro propôs a Feijóo procurar um consenso para a política externa e recuperar o Pacto Anti-trânsfugas (eleitos que mudam de bancada partidária), pedindo-lhe ainda que apoie o seu Plano Nacional de resposta aos efeitos da guerra da Ucrânia – um decreto-lei que há entrou em vigor, mas deve ainda ser confirmado no Congresso –, que não questione a gestão dos fundos europeus Next Generation e que garanta o cumprimento do Pacto contra a Violência de Género.

“O presidente pretende validar o decreto sem mais, não está disposto a mudá-lo nem a melhorá-lo”, explicou aos jornalistas Feijóo, a propósito do plano de resposta às consequências da guerra. “Para isso já tem parceiros, se o Governo quer continuar sozinho, continuará sozinho”, disse. “Lamentavelmente não tenho nenhuma boa notícia para a economia familiar, para os trabalhadores, os rendimentos médio-baixos e as empresas, dada a situação económica que se vive em Espanha”, disse ainda o líder do PP, explicando que Sánchez não quis debater as suas propostas económicas. Mas, sem fechar a porta, acrescentou: “Não vou convencê-lo na primeira reunião. Pode ser que o consigamos nas próximas semanas”.

Já em relação à política externa a propósito da guerra na Ucrânia, o líder do maior partido da direita e da oposição quis deixar claro que o Governo conta com o seu apoio, “um apoio sem matizes, muito mais firme e contundente do que o de alguns dos seus parceiros de coligação [Podemos] e dos seus aliados parlamentares [partidos nacionalistas de esquerda]”.

A caminho de Rabat

Ao mesmo tempo, e como esperado, Feijóo diz ter deixado claro que considera “inadmissível” que Sánchez tenha alterado “unilateralmente” a política de Espanha “em relação a Marrocos, o Sara, a Argélia e a ONU” – soube-se há três semanas que o primeiro-ministro enviou uma carta ao rei Mohamed VI onde considera que o seu plano de autonomia para o Sara Ocidental é “a base mais séria, realista e credível para a resolução do diferendo” entre a monarquia e os sarauís. Na prática, isso significa que Espanha, a antiga potência colonial, apoia a posição de Marrocos, afastando-se da sua política tradicional de defesa do direito dos sarauís a realizar um referendo sobre a autodeterminação, consagrado pela ONU.

“O PP está aberto a consensos na política externa. Mas para ser credível e fiável fora das nossas fronteiras, é fundamental sê-lo dentro de fronteiras”, disse Feijóo. A mudança de posição, que visa pôr fim a uma crise diplomática que se arrastava há um ano com Rabat, não foi debatida com nenhum outro partido, nem com o Unidos Podemos, parceiro de coligação de Sánchez.

“Marrocos recuperou algo que solicitava há séculos, Espanha não recuperou nada, não vi que Espanha tenha conseguido nada”, defendeu Feijóo. Sánchez “diz-me que está optimista com o futuro, eu não tenho nenhuma confirmação de que esse optimismo se baseie em factos”, acrescentou. Assim que o encontro terminou, Sánchez viajou precisamente para Rabat, onde ia partilhar o iftar (refeição que quebra o jejum do Ramadão) com Mohamed VI a convite deste, uma viagem de onde espera voltar com acordos sobre o combate à imigração irregular e o controlo de fronteiras.

Mais ou menos à mesma hora a que terminava o encontro, no Congresso votava-se a proposta apresentada na véspera por Unidas Podemos, Esquerda Republicana da Catalunha e Bildu a reafirmar o apoio às “resoluções da ONU e à Missão das Nações Unidas para o referendo no Sara Ocidental” (Minurso). Na prática, o texto (que não é vinculativo para o Governo) consuma a oposição da maioria do Congresso à política de Sánchez para o Sara Ocidental. Com as abstenções do Vox e do Cidadãos, a proposta só foi chumbada pelo PSOE, sendo aprovada com 168 votos a favor, unindo assim o PP aos partidos à esquerda do PSOE e aos grupos nacionalistas e regionalistas.