Este alemão quer percorrer Portugal de bicicleta a recolher lixo

Andreas Noe, um alemão radicado em Lisboa, embarca este mês na Trash Cycle. Trata-se de uma espécie de Volta a Portugal dedicada à recolha do lixo e ao activismo ambiental

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Andreas Noe despediu-se para criar o projecto The Trash Traveler Diogo Ventura/Arquivo

Andreas Noe, um alemão que trocou a biologia molecular pelo activismo climático e ambiental, promete embarcar este mês na Trash Cycle, uma espécie de Volta a Portugal da recolha do lixo. Noe quer pedalar cerca de três mil quilómetros, em dois meses, a uma média de “40 a 50 quilómetros por dia”, sem folgas.

O alemão pretende usar uma velha bicicleta reaproveitada para atravessar Portugal continental de Norte a Sul, dinamizando acções de limpeza, com organizações, membros da sociedade civil e escolas, e de sensibilização para a emergência climática.

O percurso estimado tem duração de dois meses e início a 19 de Abril. Andreas já assinalou dezenas de pontos no mapa de Portugal continental, porque é importante “mostrar o oceano e as praias directamente ligados ao interior, e que os nossos actos importam em qualquer situação e local”, explica, em entrevista à Lusa.

“Decidi fazer um projecto em todo o Portugal, para ligar a história toda, e pensava “como é que posso fazer algo diferente que seja extraordinário?”, porque é necessário pensar no que fazer para abrir os olhos do máximo de pessoas para a poluição e o lixo. Peguei numa bicicleta usada para dar a algo velho um novo valor, a pensar na economia circular”, afirma.

Já a viver em Lisboa, para onde se mudou em 2018, deixou a carreira no campo das ciências biomédicas para trás e criou o The Trash Traveller (viajante do lixo, numa tradução livre) em Setembro de 2019, embarcando em vários projectos que classifica “extremos” para consciencializar a população para a problemática.

Em 58 dias de 2020, percorreu a pé os 832 quilómetros da costa portuguesa para expor a situação dos plásticos descartáveis que poluíam as praias portuguesas.

A iniciativa envolveu várias centenas de participantes, e ao todo foram recolhidas 1,6 toneladas de plástico, partindo depois, em 2021, para outra caminhada, em 38 cidades costeiras, para apanhar beatas de cigarros: foram 1,1 milhões de “caramelos”, envolvendo perto de 600 pessoas e mais de 70 organizações.

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Assim, como exemplo de que é preciso “melhorar todo o sistema” de reciclagem e reutilização, chegou à bicicleta, elencando o ciclismo como “uma opção muito, muito boa” para promover a mobilidade verde e mostrar que “a sustentabilidade não tem de ser cara”.

Noe admite que o “desafio grande a nível físico” será importante na “aventura”, dado que não anda de bicicleta há três anos, apesar de o fazer quase todos os dias quando vivia na Alemanha, onde era “normal” toda a gente usar este meio de transporte.

“Não vou comprar quaisquer plásticos de uso único, só terei uma garrafa de água reutilizável. Para mostrar que é possível fazer isto só com uma garrafa reutilizável. Se conseguimos fazer isto durante dois meses, pode entrar no nosso quotidiano”, acrescenta.

O alemão assume esperar “ainda mais pessoas envolvidas” desta feita, não só através de reencontros mas também de novas entradas, até por ter já parcerias com projectos e com várias escolas.

É difícil dizer quanto lixo será possível recolher, sendo possível “igualar ou superar” as 1,6 toneladas da caminhada de 2020, mas frisa sempre que “não é tanto sobre a limpeza, mas sobre consciencialização”.

“Se houver grupos de ciclistas, ou pessoas que queiram juntar-se e fazer alguns quilómetros comigo, então essa será uma forma maravilhosa de promover esta forma de mobilidade verde. É um dos focos do projecto”, refere.

Uma espécie de objectivo secundário, de projecto dentro do projecto, é desenhar um mapa de produtores locais de legumes e frutas, bem como outros produtos, e projectos biológicos, para disponibilizar um guia completo do país em termos de “opções de compras sustentáveis”.

Como lema, a vontade de “fechar o circuito e tomar conta do ambiente”, não só na reutilização do plástico como também “no uso de meios de transporte leves”, como a bicicleta em vez do carro. “É um esforço que já faz muito pelo planeta”, comenta.

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