Uma desesperada vitalidade

É da vida e do ser humano, não de teorizações, que se fala nos poemas e na arte de Pasolini.

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Três livros lançados nos últimos dois anos permitem-nos voltar a ler Pier Paolo Pasolini em português. Who is Me, publicado entre nós no ano passado, é um longo “poema biobibliográfico” encontrado “entre os papéis do poeta”, cinco anos após o assassínio de Pasolini (1975). Este “rascunho adiantado que o autor deixara por terminar” (p.8) funde, como acontecia com tanta da sua escrita, reencontro com a vida de Pasolini, reinvenção e afabulação, para lembrar um título de Pasolini. Um Pouco do Meu Sangue é uma breve antologia de poesia italiana, da responsabilidade de João Coles (saída no ano passado) e que recolhe quatro poemas do autor, apenas parcialmente retomados num volume a cargo do mesmo tradutor e organizador, publicado já este ano: A Poesia É Uma Mercadoria Inconsumível. Foi um gesto sagaz, da parte da discreta editora Sr Teste, este de coligir no mesmo volume (sóbrio e atraente) poemas e recensões de PPP. Em Who is Me, é possível ler: “Porque passei da literatura ao cinema?/ Esta é, entre as perguntas previsíveis numa entrevista,/ uma pergunta inevitável, e assim foi./ Respondi, pois, que foi para mudar de técnica,/ que precisava de uma nova técnica para dizer uma coisa nova,/ ou, pelo contrário, que dizia a mesma coisa, sempre, e por isso/ tinha de mudar de técnica: conforme as variantes da obsessão./ Mas só em parte fui sincero ao dar aquela resposta:/ a verdade estava naquilo que tinha feito até então./ Depois, dei-me conta de/ que não se tratava de uma técnica literária, quase/ pertencente à mesma língua com que se escreve:/ mas era, ela própria, uma língua...” (Who Is Me, p.24) Trata-se de um movimento várias vezes explicado por Pasolini e que não seria excessivo estender à coexistência dos versos e da reflexão crítica. As duas formas de expressão (termo que desagradaria, por certo, a PPP) e participação foram constantes na sua prática e fazê-las partilhar o espaço de uma antologia parece assaz proveitoso e oportuno, tanto mais que a anterior antologia poética publicada em Portugal se encontra há muito esgotada: Poemas (Assírio & Alvim, 2005, trad. Maria Jorge Vilar de Figueiredo), e o contributo pasoliniano para a reflexão e crítica se encontra arredado há algum tempo das livrarias nacionais: Escritos Corsários. Cartas Luteranas. Uma antologia (Assírio & Alvim, 2006, trad. José Colaço Barreiros); Empirismo Herege (Assírio & Alvim, 1981, trad. Miguel Serras Pereira); Escritos Póstumos (Moraes, 1981, trad. Helena Ramos).

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