Uma casa com história e com arquitectura aberta ao mundo

Álvaro Siza assinalou esta quinta-feira a reabertura da casa da sua família em Matosinhos, a partir de agora um espaço para residências da Casa da Arquitectura.

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A casa n.º 582 da Rua de Roberto Ivens, em Matosinhos, pareceu pequena, na manhã desta quinta-feira, para acolher todos quantos aí se deslocaram para assinalar a reabertura do edifício construído em meados do século XIX agora como espaço de residências destinado a acolher os convidados da Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura, desde 2017 instalada a poucos metros de distância.

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A casa n.º 582 da Rua de Roberto Ivens, em Matosinhos, pareceu pequena, na manhã desta quinta-feira, para acolher todos quantos aí se deslocaram para assinalar a reabertura do edifício construído em meados do século XIX agora como espaço de residências destinado a acolher os convidados da Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura, desde 2017 instalada a poucos metros de distância.

A partir de agora, e depois de um cuidadoso trabalho de restauro e remodelação, salvaguardando a traça original, sempre sob a orientação de Álvaro Siza, que aí viveu parte da sua adolescência e juventude, o edifício, que em 2007 foi adquirido pela Câmara Municipal de Matosinhos, vai passar a ser gerido e usado pela Casa da Arquitectura (CA), que aí instalará os seus convidados em residência.

Esta foi a terceira vez, contada a partir do início dos anos 60, que Álvaro Siza (n. Matosinhos, 1933) apôs a sua assinatura na remodelação desta habitação da sua família. O arquitecto, ao lado da sua irmã mais nova, Teresa Siza, evocou, de resto, a história da sua relação com a casa onde exerceu os seus primeiros gestos de arquitectura. Tudo começou quando tinha apenas 14 anos e o seu pai, Júlio Siza Vieira – que tinha decidido mudar-se da anterior residência familiar, a poucos metros de distância, para acomodar o crescimento da família –, o encarregou de desenhar um pequeno pavilhão no quintal, que aí ainda existe. Não querendo deixar de “dar prova da [sua] habilidade”, Álvaro lá seguiu as indicações do pai, numa altura em que nem sequer sonhava com o ofício da arquitectura – que sempre secundarizou perante o desejo de ser escultor, como já várias vezes confessou.

Siza encarregou-se também de nova intervenção na casa, em 1961, pouco tempo antes de se mudar e de se radicar no Porto.

Também em 2009, já depois de a propriedade ter sido adquirida pela autarquia, Siza foi desafiado a ocupar-se da sua adaptação para sede da Casa da Arquitectura. Foi aí que “se conspirou bastante” para a criação da nova instituição, como agora recordou, na abertura da sessão, José Manuel Dias da Fonseca, presidente da instituição, vivendo por isso este dia “com uma carga simbólica e emocional muito grande”.

"Primeiro inquilino"

Ao lado da presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, Dias da Fonseca salientou o facto de a Casa da Arquitectura ser “um caso exemplar em Portugal”, por se tratar de um projecto que “nasceu de baixo para cima, nasceu do poder local e depois foi entregue ao país e ao mundo”.

Na sua intervenção, Álvaro Siza evocou as outras obras de renovação que foi convidado a realizar em projectos seus na terra natal: a Casa de Chá da Boa Nova, a Piscina das Marés, a Casa da Juventude... “É muito bom, neste tempo tão mau para a arquitectura, uma cidade [como Matosinhos] ter este propósito de recuperar e conservar a casa”, disse o arquitecto, lembrando que, nos anos mais recentes da sua profissão, tem tratado sobretudo de recuperar obras. “Mas já estou um pouco cansado disso; e também é bom fazer edifícios novos, coisa que não tenho feito”, lamentou Siza, referindo o contraste com o que tem feito em paragens como a China ou a Coreia do Sul.

É bem provável que o primeiro “inquilino” da nova Residência da Casa da Arquitectura venha a ser o arquitecto João Luís Carrilho da Graça, que no próximo dia 8 de Abril verá inaugurada em Matosinhos uma exposição retrospectiva da sua carreira e obra, avançou aos jornalistas o director executivo da Casa, Nuno Sampaio. “Esta casa vai poder ser residência de investigadores, curadores, jornalistas, que vão poder coabitar mais tempo e trabalhar sobre os acervos da Casa da Arquitectura”, num intercâmbio que está aberto a instituições públicas e privadas, tanto portuguesas como estrangeiras, acrescentou.