Algarve

Uma casa, branca como a farinha, que é uma dedicatória ao avô moleiro

Já foi uma propriedade agrícola usada para a moagem de trigo, mas hoje é uma casa de família que homenageia o avô, antigo moleiro, em Lagoa, no Algarve.

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Foi no concelho de Lagoa, no Algarve, que o Atelier Data pôs mãos à obra e transformou uma antiga propriedade agrícola num espaço habitacional – a Casa Cabrita Moleiro.

O terreno de aproximadamente 5.1000 metros quadrados, posse de um moleiro que se dedicava à moagem de trigo, foi reabilitado a pedido de um dos netos. Com o propósito de homenagear o avô, o desafio lançado foi a criação de um espaço agregador, onde a família se pudesse reunir.

Tratando-se de um projecto que tinha como propósito honrar a imagem de um familiar, a base do restauro foi a memória. Para adaptar o espaço a um novo programa de usos e funções, foi necessário “reabilitar as antigas estruturas”, explica Marta Frazão ao P3, uma das arquitectas responsáveis pelo projecto, em conjunto com Filipe Rodrigues e Inês Vicente.

Composta por três volumes, a casa divide-se entre a área social e a privada. No piso térreo, a que corresponde o rés-do-chão, encontra-se a cozinha, a sala de estar, o solário e a piscina – espaços que se desenvolvem num só piso, “que é central relativamente aos outros dois volumes”, descreve Marta.

A partir desta área social, que espelha um núcleo agregador de convívio e de partilha, surgem, no piso superior, os volumes dos quartos. Um deles, desenvolvido a partir dos limites da casa, dispõe de “três suítes com acesso independente, distribuídas em dois pisos”, lê-se na descrição do projecto. Cada quarto tem um pátio exterior e, além deste aspecto, na cobertura do módulo encontra-se ainda um terraço com jacuzzi.

O outro volume, que “surge na continuidade da área social”, acomoda mais duas suítes e, à semelhança do núcleo anterior, também tira partido de uma vista desafogada sobre o mar. Os terraços, que medeiam o interior e o exterior, ajudam a aproveitar o clima algarvio.

Já no piso térreo, Marta sublinha a presença dominante do moinho – espaço que é, para a família, mais intimista, por retratar a presença do avô. O antigo moleiro, que a casa hoje homenageia, faleceu quando a obra estava em curso. Projectada no início de 2016, só começou a ser construída em 2019 e terminou em 2021.

Ao ser pintada com uma só cor, e por ter uma volumetria que não é sóbria”, a casa tornou-se mais abstracta, considera Marta. Para além de se recuperar a ideia tradicional de que “as casas no Algarve são quase todas brancas”, o comportamento térmico da cor foi uma outra justificação. “Quando se registam temperaturas de 36 e 38 graus, se a casa for branca, tem um melhor desempenho térmico, porque não acumula tanto calor”, explica a arquitecta.

Descrevendo a construção como “o resultado da exploração entre a envolvente paisagística e a casa em si”, Marta resume aquele que foi o mote para este projecto: “Reflectindo um espaço amplo, onde se pretendia promover a vivência e o convívio entre a família, a equipa quis, no fundo, que a arquitectura se revelasse por uma certa simplicidade.” O projecto está nomeado para o Prémio Archdaily Building of the Year 2022, na categoria "Houses".

Texto editado por Amanda Ribeiro