A Ómicron vai acabar com a pandemia?

Investigadores alertam que a situação continua volátil e difícil de prever, apesar do aumento rápido da imunidade provocado pelos contágios pela variante Ómicron. Uma coisa é certa: esta não vai ser a última estirpe a surgir.

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Representação do coronavírus SARS-CoV-2 NIAID

Em poucas semanas, a variante Ómicron espalhou-se pelo mundo e tornou-se dominante em muitos países. Embora a Organização Mundial da Saúde e outras autoridades tenham sugerido que um grande número de infecções causadas pela Ómicron poderia significar o começo do fim da pandemia, por causa do aumento rápido mas de curto prazo da imunidade, vários investigadores alertam, num artigo publicado na revista Nature, que a situação continua a ser volátil e difícil de prever.

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Em poucas semanas, a variante Ómicron espalhou-se pelo mundo e tornou-se dominante em muitos países. Embora a Organização Mundial da Saúde e outras autoridades tenham sugerido que um grande número de infecções causadas pela Ómicron poderia significar o começo do fim da pandemia, por causa do aumento rápido mas de curto prazo da imunidade, vários investigadores alertam, num artigo publicado na revista Nature, que a situação continua a ser volátil e difícil de prever.

“A variante move-se tão rápido que o tempo é muito curto para preparar qualquer tipo de resposta. Portanto, as decisões precisam de ser tomadas debaixo de uma enorme incerteza”, diz Graham Medley, modelador de doenças infecciosas da London School of Hygiene & Tropical Medicine, que assessora o governo do Reino Unido.

O número de infecções com esta variante pode duplicar em menos de dois dias, um ritmo significativamente mais rápido do que o registado com variantes anteriores do SARS-CoV-2 e mais próximo do que as autoridades de saúde pública esperariam das variantes mais leves do vírus influenza. “A Ómicron é a gripe em ácidos”, compara, com humor, o cientista.

Afinal, como é que a pandemia vai acabar? Não será com a Ómicron, prevêem os investigadores ouvidos para o artigo. “Esta não será a última variante a surgir, a próxima terá as suas próprias características”, diz Medley.

Como é improvável que o vírus desapareça completamente, a covid-19 vai tornar-se, inevitavelmente, uma doença endémica, dizem os cientistas. Mas esse é um conceito escorregadio e significa coisas diferentes para pessoas diferentes.

“Acho que a expectativa é que teremos tanta imunidade na população que não assistiremos a epidemias tão mortais”, diz Sebastian Funk, epidemiologista da London School of Hygiene & Tropical Medicine.

A transição para a endemicidade, ou para a fase de “viver com o vírus” sem restrições e salvaguardas, é difícil de prever com precisão, diz ainda. Isto acontece em parte porque mesmo os melhores modelos que olham para a evolução das doenças têm dificuldades em fazer previsões sensatas com algumas semanas de antecedência. Por outro lado, a endemicidade também envolve um julgamento sobre quantas mortes as sociedades estão dispostas a tolerar enquanto a população mundial aumenta constantemente a imunidade.

Para Mark Woolhouse, epidemiologista da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido,​ a covid-19 vai tornar-se verdadeiramente endémica apenas quando a maior parte dos adultos estiver protegida contra infecções graves porque foram expostos várias vezes ao vírus enquanto crianças e, portanto, desenvolveram imunidade natural. Isto demorará décadas e significa que muitas pessoas mais velhas (que não foram expostas quando eram crianças) permanecerão vulneráveis e podem precisar de vacinações contínuas.

Não há garantias de que a próxima variante seja mais leve, mas os investigadores dizem que esse parece ser o padrão até agora.