Menos de um terço dos membros das mesas de voto receberam reforço da vacina

Só 20 mil das 90 mil pessoas esperadas cumpria os critérios para a terceira dose, segundo a Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar. Foi antecipada a vacinação dos profissionais do ensino superior e das forças de segurança para evitar desperdício de recursos.

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Paulo Pimenta

Menos de um terço das pessoas envolvidas no processo eleitoral das legislativas que deviam ter recebido a dose de reforço da vacina contra a covid-19 neste fim-de-semana foram inoculados. Os números são avançados pela Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, na ausência de uma resposta oficial da Direcção-Geral de Saúde (DGS). O coronel Penha Gonçalves, que coordena a task-force da vacinação, reconheceu que a “fraca afluência” durante a manhã de sábado levou à antecipação da vacinação de outros grupos, que só deviam ter sido chamados no início da semana.

Estava prevista a vacinação, durante este fim-de-semana, de cerca de 90 mil pessoas, entre elementos das secções de voto e funcionários das Juntas de Freguesia directamente envolvidos nas eleições do próximo dia 30 de Janeiro. No entanto, apenas foram gerados “menos de 20 mil códigos” de vacinação, de acordo com o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, Diogo Urjais. As pessoas que vão trabalhar nas legislativas “foi quase todo vacinado no sábado”, segundo o mesmo responsável.

O PÚBLICO tentou confirmar estes números junto da DGS, mas aquele organismo público remeteu apenas para o boletim diário de vacinação. Segundo aquele documento, foram inoculadas, durante o dia de sábado, 65.037 pessoas, em linha com o que tem sido habitual nas últimas semanas, mas não há qualquer referência ao processo específico de inoculação das pessoas envolvidas no acto eleitoral. Os números relativos ao processo de vacinação deste domingo apenas serão conhecidos na segunda-feira.

Segundo o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, menos de um terço das pessoas envolvidas no processo eleitoral receberam a dose de reforço, na maioria dos casos porque os elementos das mesas de voto não cumpriam os critérios para serem inoculados neste momento. Uma parte deles por serem demasiado jovens – a generalidade das pessoas com menos de 35 anos ainda não cumpre 150 dias desde que recebeu a segunda dose da vacina –, ou mais velhos, já tendo por isso recebido a dose de reforço da vacina por critério de idade em semanas anteriores. Há ainda “alguns casos” de infecção recente com covid-19, que inviabilizaram a toma da vacina.

No domingo à noite, em entrevista à TVI, o coronel Penha Gonçalves, que coordena a task-force da vacinação, já tinha admitido que, ao longo da manhã de sábado, a afluência dos elementos das mesas de voto aos centros de vacinação foi “mais baixa do que o esperado”. “Começou a perceber-se que, nos maiores centros populacionais, a afluência estava a ser relativamente baixa em relação à capacidade” de vacinação, afirmou o militar, assegurando que estava previsto um plano alternativo para garantir que não era desperdiçada a disponibilidade de vacinas e profissionais de saúde nos centros de vacinação.

A task-force decidiu antecipar a vacinação de outros grupos, cujo processo de reforço da imunização estava agendado para começar apenas nesta segunda-feira, como foi o caso dos profissionais das forças de segurança (PSP, GNR e SEF) e também dos professores e funcionários não docentes do ensino superior, cuja chamada para a vacinação foi dada a conhecer durante a tarde de sábado pela DGS, apanhando de surpresa os sindicatos do sector.

“Estes dias temáticos já não fazem grande sentido”, comenta Diogo Urjais, da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, lamentando que tenham sido “desperdiçados recursos” dos centros de vacinação pelo facto de não se terem “afinado as listagens” das pessoas envolvidas no acto eleitoral do final do mês que estavam em condições de ser vacinadas.

Este enfermeiro dá o exemplo do centro de vacinação de Leiria, onde dos mais de 700 elementos das mesas de voto da região que estavam inicialmente listados, apenas 190 cumpriam os requisitos para serem inoculados. Outros centros de vacinação “com capacidade para vacinar 500 pessoas por dia, receberam 20 ou 30 pessoas”, prossegue.

Além da antecipação da vacinação de grupos prioritários, muitos centros de vacinação optaram também por alargar o atendimento na modalidade de Casa Aberta ao longo do fim-de-semana, chamando utentes que deviam receber a dose de reforço durante a próxima semana.

Ainda assim, a DGS garante ser “falsa” a mensagem escrita que circula desde sábado, convocando pessoas que tenham a vacinação completa há mais de cinco meses, para comparecer “mesmo sem marcação” no Centro de Vacinação da Ajuda, em Lisboa. A convocatória falsa dá conta da existência de vacinas “descongeladas que se vão estragar entretanto, se não foram (sic) inoculadas”, chamando a população a comparecer “de imediato” ao Pavilhão da Ajuda.

O Gabinete de Comunicação da DGS garante que o processo de reforço da imunização contra a covid-19 está “articulado” e que “não se desperdiçam doses” mesmo quando a afluência aos centros de vacinação é menor do que o esperado.

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