PS vs. IL: o sonho do “liberal” Costa era “viver num país nórdico”

Em certas coisas Costa é “muito liberal”. “O meu sonho era viver num país nórdico onde o Estado não tem que intervir e o diálogo social funciona. Aqui não”, diz a Cotrim de Figueiredo, que murmura: “Faremos por isso”.

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Cotrim de Figueiredo foi o último oponente de António Costa nos frente-a-frente pré-eleitorais LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Há uma parte de António Costa que é “muito liberal”. Disse-o esta noite no debate com João Cotrim Figueiredo, quando o líder da Iniciativa Liberal desancava (educadamente) na proposta da semana de quatro dias avançada pelo PS. Depois de Cotrim argumentar que com a “falta de mão-de-obra dizer que só se trabalha 30 horas é arranjar problemas”, Costa esclareceu que a sua proposta não é bem uma proposta – é “uma necessidade de abrir um debate e reflexão” – e que não estava sequer a pensar necessariamente em 30 horas.

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Há uma parte de António Costa que é “muito liberal”. Disse-o esta noite no debate com João Cotrim Figueiredo, quando o líder da Iniciativa Liberal desancava (educadamente) na proposta da semana de quatro dias avançada pelo PS. Depois de Cotrim argumentar que com a “falta de mão-de-obra dizer que só se trabalha 30 horas é arranjar problemas”, Costa esclareceu que a sua proposta não é bem uma proposta – é “uma necessidade de abrir um debate e reflexão” – e que não estava sequer a pensar necessariamente em 30 horas.

Quando António Costa lembrou que o teletrabalho que entrou em vigor por causa da covid “trouxe uma nova organização”, levou com o remoque de João Cotrim de Figueiredo: “E sem intervenção do Estado”. E é neste contexto que Costa faz a proclamação de que também ele, se pudesse, preferia em algumas matérias menos Estado: “Nessa parte sou muito liberal. O meu sonho era viver num país nórdico onde o Estado não tem que intervir e o diálogo social funciona. Aqui não”. Murmura Cotrim: “Faremos por isso.”

Tirando isto, um mundo os separa, embora António Costa prefira mais lembrar ao eleitorado do centro que Rui Rio partilha ideias da Iniciativa Liberal do que propriamente andar aos tiros com Cotrim – que não andou. Foi um debate de longe mais pacífico do que aquele que teve com os antigos parceiros Jerónimo de Sousa e Catarina Martins.

Foi na questão do financiamento misto da Segurança Social que Costa atirou a Rui Rio, que tinha admitido ser possível “estudar” a questão. “A Iniciativa Liberal é mais rigorosa do que Rui Rio, que concorda consigo”, disse Costa a Cotrim, condenando que “aquilo que a IL propõe é que metade dos descontos para a Segurança Social seja investida em bolsa”. Ainda tentou uma piada relativamente ao número de páginas do programa dos liberais: “Para quem quer Estado mínimo, 600 páginas de programa de governo é recorde absoluto”.

Cotrim respondeu que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social já investe na bolsa: “Louis Vuitton, Easyjet, Shell, Coca-Cola…” e “já está a pôr em risco a segurança das pensões”. Costa argumentou que, de facto, o Fundo “aplica parte dos seus recursos para reforçar a Segurança Social”, mas é o Estado a tomar conta da operação e não os cidadãos privados. “Milhões de americanos na crise de 2008 perderam as suas poupanças.”

João Cotrim de Figueiredo que, conforme o próprio disse, “bateu o recorde de slides” neste debate, para demonstrar que “só o liberalismo pode voltar a pôr Portugal a crescer”, trazia um último, gigante, que enumerava as vezes em que ao longo dos anos a expressão “Costa promete” foi pronunciada. Costa já não tinha tempo – nem, pela cara que mostrava, paciência. Afinal, era o último dos debates da saga legislativas 2022.