Costa preferiu negociar com a geringonça e não com o PSD nos orçamentos do Estado?

O primeiro-ministro assumiu ter privilegiado a solução da geringonça nos orçamentos do Estado, apesar de o líder do PSD ter mostrado abertura para dialogar com o PS.

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A afirmação de António Costa é verdadeira LUSA/TVI

A frase

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A frase

“Honrei a minha palavra. Ao longo destes dois anos, várias vezes o doutor Rui Rio disse que estava disponível para negociar. Mas eu o que disse aos cidadãos, aos eleitores é que o mandato que tínhamos era prosseguir a geringonça.”

O contexto

No debate desta terça-feira à noite entre António Costa e Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro quis vincar a ideia de que cumpriu o seu compromisso para com os eleitores ao negociar orçamentos do Estado com os parceiros parlamentares à sua esquerda e com o PAN, apesar de o líder do PSD mostrar abertura para dialogar sobre reformas estruturais. Com esta ideia, António Costa quis também deixar implícito de que foram os partidos à esquerda do PS, nomeadamente o PCP, que romperam com a geringonça criada em 2015.

Os factos

Em Agosto de 2020, numa entrevista ao Expresso, António Costa afastou qualquer possibilidade de ser o PSD a suportar o Governo perante o cenário de os partidos à esquerda do PS chumbarem o Orçamento do Estado para 2022.

“Já disse muito claramente ao PCP e ao BE que não vale a pena ter esse sonho da construção de blocos centrais. E é manifesto que o PSD já disse que não os quer. (...) Já expliquei com muita clareza: esse sonho não se vai realizar. No dia em que a subsistência deste Governo depender de um acordo com o PSD, nesse dia este Governo acabou”, afirmou. Na altura, o primeiro-ministro assegurou que não iria assumir nenhuma diligência para tentar obter uma viabilização do OE por parte dos sociais-democratas. “Não vou pedir ao PSD que vote contra nem que se abstenha. O que quero deixar muito claro, e já o deixei ao PCP e ao BE, é que, se sonham que vão colocar o PS na condição de ir negociar com o PSD a continuação do Governo, podem tirar o cavalinho da chuva, pois não negociaremos à direita a subsistência deste Governo”, reforçou. Três meses depois, o Bloco votava contra o OE mas a viabilização da proposta foi garantida pelo PCP. Os comunistas viriam a votar contra no OE para 2022, em Outubro passado.

A posição de António Costa permitiu a Rui Rio assumir que o voto do PSD nos orçamentos do Estado não era essencial para a sua aprovação. Ainda em Outubro passado, perante a ameaça de chumbo por parte de BE e PCP, o líder social-democrata recordou as palavras de António Costa em Agosto de 2020: “O próprio primeiro-ministro disse que o Governo cai no dia em que precisar dos votos do PSD para aprovar um Orçamento”.

Em resumo

A afirmação de António Costa é verdadeira. O primeiro-ministro não mostrou intenções de negociar à direita, nomeadamente com o PSD, um orçamento do Estado, privilegiando os partidos que formaram a geringonça em 2015 – BE, PCP e PEV.