Encontro com o ministro da Defesa israelita em rara visita de Mahmoud Abbas a Israel

Ministério da Defesa israelita anuncia “medidas de construção de confiança” com a Autoridade Palestiniana, incluindo autorizações suplementares para empresários entrarem em Israel e um adiantamento de dinheiro de impostos.

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Abbas participou no encontro em casa do ministro israelita Reuters

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, encontrou-se com o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, durante uma rara visita a Israel. Os dois políticos “discutiram questões civis e de segurança”, de acordo com um comunicado do Ministério de Israel. Este encontro acontece na sequência da visita de Gantz ao quartel-general da Autoridade Palestiniana, na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, em Agosto, na primeira reunião oficial deste nível em vários anos.

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O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, encontrou-se com o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, durante uma rara visita a Israel. Os dois políticos “discutiram questões civis e de segurança”, de acordo com um comunicado do Ministério de Israel. Este encontro acontece na sequência da visita de Gantz ao quartel-general da Autoridade Palestiniana, na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, em Agosto, na primeira reunião oficial deste nível em vários anos.

Gantz disse a Abbas que quer “continuar a promover acções para fortalecer a confiança nos campos económico e civil, como acordado no último encontro”, acrescenta o comunicado. Mas a verdade é que o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, tem recusado encontrar-se com Abbas e afirmou, depois da reunião em Ramallah, que não há nenhum processo de paz com os palestinianos “e não haverá nenhum”. Bennett, um nacionalista da linha dura que se opõe a um Estado palestiniano, liderou o Conselho dos Colonos da Cisjordânia (Yesha), o poderoso lobby dos colonos.

Depois do encontro de terça-feira, que, segundo a imprensa israelita, aconteceu na casa de Gantz, em Rosh Ha’ayin, cidade do centro de Israel, e durou duas horas e meia, o Ministério anunciou esta quarta-feira “medidas de construção de confiança” com a Autoridade Palestiniana, incluindo 600 autorizações suplementares para empresários palestinianos entrarem em Israel e um adiantamento de 32 milhões de dólares (28 milhões de euros) em impostos que Israel recebe em nome da liderança palestiniana.

Segundo o ministro dos Assuntos Civis palestiniano (responsável pela ligação com Israel), Hussein al-Sheikh, a reunião entre Abbas e Gantz “tratou da importância de criar um horizonte político que leve a uma solução política de acordo com as resoluções internacionais”.

As últimas conversações de paz, promovidas pelos Estados Unidos, acabaram em colapso, em 2014. Seguiu-se o “acordo do século” da Administração de Donald Trump, que consagrava as anexações territoriais israelitas, apresentado sem que os palestinianos tivessem sido ouvidos, e os Acordos de Abraão, que levaram ao estabelecimento de relações entre Israel e vários países árabes (Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos).

Ainda de acordo com o ministro palestiniano, os dois responsáveis discutiram “as condições tensas no terreno devido às práticas dos colonos, e muitas questões de segurança, económicas e humanitárias”. Os ataques de colonos em Jerusalém Oriental e em diferentes partes da Cisjordânia têm vindo a aumentar e estiveram mesmo na origem do último conflito entre o Hamas e Israel, em Maio.

Gantz, por seu turno, escreveu no Twitter: “Discutimos como levar à prática medidas económicas e civis, e sublinhámos a importância de uma coordenação de segurança mais aprofundada e como prevenir o terror e a violência – para o bem-estar de israelitas e palestinianos”.

Pressão dos EUA?

No encontro, para além de Al-Sheikh e de Gantz, estiveram o chefe militar israelita responsável pelos assuntos civis nos territórios palestinianos, Ghasan Alyan, e o chefe dos serviços secretos palestinianos, Majid Faraj.

O canal pan-árabe Al-Jazeera, diz que o encontro pode ter sido marcado face à deterioração da situação de segurança das últimas semanas na Cisjordânia ocupada e dentro de Jerusalém Oriental, mas sugere que terá acontecido devido à pressão dos Estados Unidos “para ver progressos ou pelo menos alguma indicação da vontade dos israelitas falarem com os palestinianos”. Bennett continua a recusar que os EUA reabram o seu consulado dedicado aos assuntos palestinianos em Jerusalém, depois de Washington ter anunciado, em Maio, que planeava restaurar os laços com os palestinianos, na sequência do fosso aberto por Trump.

O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, condenou as conversações entre Gantz e Abbas, considerando que se afastam do “espírito nacional do povo palestiniano” e vão “aumentar a divisão política e complicar a situação palestiniana”. O mesmo fez o Likud, na oposição israelita, antecipando que “concessões perigosas para a segurança de Israel são apenas uma questão de tempo”