Colonização prestes a enterrar esperanças de paz entre israelitas e palestinianos

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A sexta-feira, dia sagrado para o islão, voltou a ser tensa em Jerusalém AMMAR AWAD/REUTERS

Diplomacia americana em maratona de negociações para evitar ruptura das negociações. Netanyahu propõe "compromisso", mas Abbas insiste no prolongamento da moratória

Nos colonatos da Cisjordânia está tudo a postos para, mal soe a meia-noite de amanhã, começar a construção de duas mil casas - a essa hora terá terminado a moratória parcial à colonização, tornando mais ténues as esperanças de paz. Pressionado pelos Estados Unidos, o Governo israelita anunciou ontem estar disposto a um "compromisso", mas os palestinianos reafirmam que o fim da moratória significará o fim das negociações.

"Há posições incompatíveis e nós estamos a propor ideias sobre a forma como os dois lados podem avançar para que o processo continue", explicou P.J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, à margem da Assembleia Geral da ONU, palco dos mais recentes contactos diplomáticos. Foi de lá que Barack Obama lançou, quinta-feira, um duplo apelo: aos países árabes para que apoiem as negociações; aos israelitas para que mantenham suspensa a colonização. "Um compromisso será difícil, mas será melhor do que a alternativa", disse o Presidente americano, colocando todo o seu peso político em jogo.

Israel reagiu horas depois. "Estamos preparados para um compromisso que seja aceitável para todas as partes", disse à AFP um responsável israelita que pediu para não ser identificado. E antes de deixar Nova Iorque, o primeiro-ministro israelita deu ordens ao seu principal negociador, Yitzhak Molcho, para ficar nos EUA e prosseguir as "intensas discussões".

De fora da equação israelita continua, no entanto, o prolongamento da moratória tal como foi aprovada em Novembro. Fontes próximas das negociações revelaram às agências que Netanyahu rejeitou uma proposta americana para que a colonização fosse suspensa por mais três meses na Cisjordânia, dando tempo para que fossem negociadas as fronteiras de um novo Estado palestiniano.

Telavive diz que nunca, em 17 anos de negociações, a colonização foi um entrave ao diálogo e, em alternativa à moratória, sugere "soluções criativas" para ultrapassar o impasse. Entre elas está a promessa de autorizar apenas construções nos colonatos maiores e mais próximos da Linha Verde (que espera anexar num futuro acordo bilateral).

Mas o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, insiste que sem nova moratória desistirá das negociações directas, retomadas há apenas três semanas. "Recusamos qualquer solução parcial. As soluções parciais não criam um clima propício à continuação das negociações", disse o seu porta-voz, Nabil Abu Rudeina.

Trabalhos modestos

As esperanças da Administração americana - para a qual a ruptura das negociações seria um enorme fiasco diplomático - concentram-se nos países árabes, pois sem o seu apoio dificilmente Abbas pode fazer cedências. Mas ontem o presidente da Liga Árabe, Amr Moussa, disse que, "se Israel continuar a minar a integridade territorial palestiniana", não valerá a pena "perder tempo" com discussões.

O Governo israelita contrapõe, argumentando que os projectos com luz verde para avançar "são tão modestos que não terão impacto nos parâmetros de um acordo de paz". Em causa estão 2066 casas que receberam autorização de construção antes de Novembro, as quais começarão a ser erguidas, mal expire a moratória. "Depois de domingo começo a construí-la", disse à BBC Adi Erdan, habitante do colonato de Shilo, junto ao terreno onde vai erguer a casa.

Mas outros projectos vão seguir-se. O Conselho Yesha, que reúne representantes dos principais colonatos, anunciou que à meia-noite de domingo lançará concursos em grande escala para novas construções. E ontem o Ha"aretz noticiava que, cada vez mais, os colonos recorrem a materiais leves e pré-fabricados, conseguindo construir casas em poucas semanas, muitas vezes ainda antes de concluído o processo de autorização.

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