Rui Marques: Trabalhar para que “as pontes sejam mais fortes que os muros”

Três perguntas a Rui Marques, presidente do Instituto P. António Vieira, sobre a iniciativa Ubuntu United Nations.

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Nuno Ferreira Santos

Há hoje uma ideia de que os jovens são muito alienados, muito autocentrados e demasiado ligados a valores de consumo, de si, dos outros e do mundo. Concorda?
Não é isso que encontramos no terreno. Os jovens têm códigos diferentes, mobilizam-se por causas diferentes, têm formas de se expressar distintas dos mais velhos. Mas o que encontramos é uma vontade enorme de construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde saibamos viver uns com os outros, onde as pontes sejam mais fortes que os muros. Há essa procura, esse desejo, essa ânsia. Saibamos nós organizar as ideias, as dinâmicas, as plataformas para que o realizem.

Pode dizer-se que Ubuntu é uma filosofia de vida?
Sim, começa por ser uma filosofia e uma ética social de aprendermos a viver juntos, valorizando a diversidade partindo desta ideia: relaciono-me, logo existo. Eu, para ser pessoa plenamente, preciso do outro e que ele seja também pessoa em plenitude. É uma filosofia muito alinhada com os grandes desafios do séc. XXI em que temos de aprender a viver juntos, ser capazes de construir um destino comum e perdermos menos tempo a discutirmos de onde vimos, quando a grande discussão é saber para onde vamos e como é que vamos, juntos, em respeito mútuo. Ubuntu representa uma plataforma onde se podem encontrar pessoas com diferentes identidades – religiosas, políticas, étnicas, sócio-económicas - que, sem deixarem de ser o que são, sejam algo mais que as une a todas. Não há, infelizmente, muitas propostas no mundo que permitam isto, porque a maioria das propostas que existem excluem-se umas às outras.

Não existe o risco de a academia Ubuntu ser conotada como algo dirigido aos desfavorecidos?
O risco há sempre – e se fosse só isso era já uma grande coisa -, mas já passamos essa fase. Hoje é uma proposta transversal, que toca muitas realidades diferentes e abrange todo o projecto educativo. É uma metodologia robusta, sólida que capacita para a liderança servidora, para a construção de pontes e para a ética do cuidado – cuidar de si próprio, dos outros e do planeta.

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