Nós, operadores de supermercado

É comum a ideia de que os operadores do sector da distribuição não têm qualificações suficientes e que a função não tem qualquer especialização ou exigência. É uma ideia predefinida que não corresponde ao terreno.

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Licenciado, ex-director desportivo, candidato a uma autarquia e terceiro na lista para as legislativas, desempenhei funções em áreas como mobilidade, apoio financeiro e ensino, mas em 17 anos nunca abdiquei da minha área profissional, operador de hipermercado.

É um emprego pouco, ou nada, cativante e apetecível, são poucos que arriscam uma carreira na área da distribuição, a maioria procura uma vaga temporária ou partilha com os estudos. Os que se alongam no tempo têm objectivos como a progressão de carreira, outros afastam-se do curso profissional optando apenas pela segurança profissional, envolvendo as suas capacidades noutras áreas, construindo um perfil que promova futuros desafios mais ambiciosos. Mas no fundo a ideia é unânime, há pouca relevância no sector profissional.

Para o cliente, até em estruturas nas empresas de distribuição, é comum a ideia de que os operadores do sector da distribuição (excepção do comércio especializado) não têm qualificações suficientes e que a função não tem qualquer especialização ou exigência. É uma ideia predefinida que não corresponde no terreno. Hoje existem quadros de elevada formação académica que optaram pela distribuição com base na segurança que o sector oferece, ao contrário da precariedade na sua especialização. Também é o retrato das empresas mais exigentes nos recursos humanos para assumir tarefas dentro de um espaço comercial de retalho alimentar que obriga a uma especialização e responsabilidade maior no seu desempenho, fruto da apertada legislação do sector e da exigência do cliente

A pandemia veio mostrar que alguns preconceitos estão errados, acabando por destacar a necessidade que o sector representou no conturbado momento que atravessamos. Alvo de agradecimentos do Presidente da República e da comunidade, pela coragem demonstrada por quem foi exposto diariamente ao risco e foi “obrigado”, pelas circunstâncias, a mudar rotinas e relações pessoais, o retalho alimentar foi dos poucos sectores que manteve o pleno funcionamento, onde o confinamento foi limitado apenas aos casos tipificados nos decretos de lei.

A grande maioria dos que nos visitam regularmente não esquecerá que o sorriso, apenas com os olhos, sempre acompanhado da simpatia e do bom serviço, reconhecendo que soubemos responder à ansiedade de forma profissional. Este exemplo marcou estes profissionais, por vezes esquecidos, que estiveram sempre presentes, marcando presença com o receio no olhar mas coragem nas mãos. Sinto que cresceu o meu orgulho de fazer parte deste mundo feito pessoa reais.

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