É possível o luxo ser sustentável? A Joalharia Leitão & Irmão diz que sim

Com quase 200 anos de existência, a histórica ourivesaria portuguesa procura reiventar-se respondendo às preocupações ambientais da actualidade.

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A nova colecção apresenta jóias feitas com ouro, plata e platina certificados com o selo Chain of Custody e Responsible Jewellery Council. Nuno Ferreira Santos

É entre a azáfama do Largo do Chiado que se mantém firme a casa Leitão & Irmão, uma das joalharias mais antigas do país, cuja história remonta a 1822, quando o primeiro fundador, José Pinto Leitão, termina o curso de ourives do ouro e abre a sua primeira loja-oficina na Rua das Flores, no Porto. É por volta de 1870 que Lisboa aparece no mapa desta casa que celebra, no próximo ano, o bicentenário e quer manter-se actual. Agora, a aposta é na sustentabilidade. 

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É entre a azáfama do Largo do Chiado que se mantém firme a casa Leitão & Irmão, uma das joalharias mais antigas do país, cuja história remonta a 1822, quando o primeiro fundador, José Pinto Leitão, termina o curso de ourives do ouro e abre a sua primeira loja-oficina na Rua das Flores, no Porto. É por volta de 1870 que Lisboa aparece no mapa desta casa que celebra, no próximo ano, o bicentenário e quer manter-se actual. Agora, a aposta é na sustentabilidade. 

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Ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Loreto dos Italianos, é no nº17 que se localiza a ourivesaria histórica. Nuno Ferreira Santos

Jorge Van Zeller Leitão, 63 anos, é o sexto herdeiro da casa, um número a que chegou contando pelos dedos, para ter a certeza: “Deixe-me ver... Então, primeiro tivemos o José Trindade [um comerciante de ouro, sogro de Pinto Leitão], depois o José Pinto [o fundador da casa], o Narciso [o filho, que dá o nome à loja-oficina que permanece até hoje], o Jaime, o Manuel e eu, sim, sou o sexto.” 

As instalações do Chiado ainda cheiram a novas, depois das remodelações feitas em meados de 2020 devido a um incêndio que deixou a loja em escombros. As cores simbólicas, o amarelo e o cinzento, mantiveram-se, mas o espaço ficou mais “airoso, actual”, descreve o empresário, que fez questão de introduzir, desta vez, uma parte do chão em calçada portuguesa. “Fazia parte de um grande sonho”, conta ao PÚBLICO.

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Mas a grande novidade é a colecção que se figura na montra, sob o mote da sustentabilidade, embora este seja um conceito bastante familiar ao ofício, salvaguarda Jorge Leitão. “A reciclagem sempre se praticou na joalharia”, contextualiza. E dá um exemplo: “Para fazermos uma peça como um anel, com cinco gramas de ouro, precisamos de cerca de 15 gramas no total. Entre o que se lima, o que se pole e o que se corta, as outras dez são aproveitadas, derretidas e servem para fazer outra peça. Portanto tudo é recuperado e posto na cadeia produtiva.” Mais: a maioria dos metais comprados é reciclada.

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No entanto, entre as jóias da actual colecção — que está na montra — e as restantes é o facto de as primeiras serem feitas com metais preciosos (ouro, prata e platina) certificados com o selo Chain of Custody (CoC), que certifica fornecedores acreditados pela Responsible Jewellery Council (RJC), o principal organismo mundial que assegura que todo o processo, desde o momento da extracção até à venda do produto final, tem como base as melhores práticas possíveis. “Ou seja, isto significa que sabemos o caminho da matéria-prima desde a mina até à manufactura e que esta vem de zonas sem conflitos, sem lavagem de dinheiro, sem exploração infantil e que parte significativa da riqueza dessas pedras seja empregue dentro desse país para benefício local”, explica Jorge Leitão.

Para o representante da marca — que acredita que a tendência não é simplesmente uma moda, mas sim “o mode, o novo normal” e veio para ficar —, são os clientes estrangeiros os que demonstram uma maior preocupação com a causa ambiental e a sustentabilidade. Quanto aos portugueses, ainda estão a dar os primeiros passos. “Falou-se muito dos diamantes de sangue e das esmeraldas da Colômbia apanhadas por crianças, portanto acho que esta é uma preocupação que já vem de há algum tempo e precisa de ser mais divulgada.” 

Com preços a começarem na casa dos mil euros, as jóias apresentadas não têm um custo muito diferente do das restantes, que ainda não obedecem aos critérios sustentáveis. “Teoricamente a matéria-prima CoC é mais cara, mas é apenas teoricamente”, diz. Para além da loja do Chiado, a colecção está também disponível nas lojas do Bairro Alto, em Lisboa, e na do Estoril.

À frente da casa emblemática que, durante quase dois séculos de existência, ultrapassou momentos de crise — os mais recentes foram o incêndio, em Lisboa, e a pandemia —, Jorge Leitão garante que o segredo para o sucesso é estar “um bocadinho à frente e procurar o que há de novo”. O maior desafio é sempre o dia de amanhã, “que até hoje já chegámos”. 


Texto editado por Bárbara Wong