Berlinenses apoiam expropriação de imóveis de grandes empresas para conter preços da habitação

Mais de 56% dos eleitores da capital alemã apoiaram a proposta. O referendo não é vinculativo mas coloca pressão sobre os políticos locais.

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Berlinenses manifestam-se contra o preço elevado dos arrendamentos Christian Mang/Reuters

Os eleitores em Berlim apoiaram um referendo não vinculativo para expropriar as propriedades de grandes empresas imobiliárias na capital alemã, quando há uma revolta pública com o aumento do valor dos arrendamentos. Segundo a Bloomberg, mais de 56% dos eleitores apoiaram a proposta.

Embora a medida não seja juridicamente vinculativa, pode significar a transferência de cerca de 226 mil apartamentos para mãos públicas, se promulgada - incluindo os da Deutsche Wohnen SE, que possui mais de 100 mil unidades em Berlim.

A votação local, que se aplica a empresas imobiliárias que possuem mais de 3000 unidades de aluguer, sublinha a crescente divisão entre as pessoas que se sentem excluídas de um mercado de arrendamento cada vez mais caro, e aquelas que querem manter Berlim como um centro que atrai empresas, capital e investimento habitacional.

“Não é um bom sinal para a Alemanha como um lugar para investimentos”, disse o director de avaliação residencial da agência imobiliária JLL Germany, Roman Heidrich, citado pela Bloomberg. “Provavelmente, pode levar à paralisação imediata da maioria dos planos de investimento e modernização”, acrescentou.

Os defensores do referendo argumentam que o governo local é mais capaz para conter o aumento dos custos da habitação. A porta-voz dos organizadores do referendo, Joanna Kusiak, disse que a votação pressiona os políticos para que avancem com a medida.

“Nós, berlinenses, decidimos que ninguém deve ter permissão para especular com os nossos apartamentos”, considerou, em comunicado.

Desde a queda do Muro de Berlim, há mais de 30 anos, a outrora dividida capital transformou-se numa próspera metrópole, atraindo empresas que oferecem empregos bem remunerados.

Os valores do mercado de arrendamento dispararam ao longo dos anos, complicando a vida de muitos, numa cidade onde 84% da população são inquilinos. Berlim estima que a cidade precise de 20 mil novas casas por ano para acomodar a população crescente.

A gigante imobiliária Vonovia SE considerou esta segunda-feira que, embora o referendo seja um sinal de que a situação no mercado imobiliário de Berlim precise de mudar, a desapropriação só pioraria as coisas.

“Nem um único apartamento novo seria criado e os investimentos em modernização seriam interrompidos”, defendeu a imobiliária.

A Vonovia e a Deutsche Wohnen, no início deste mês, concordaram em vender 14.750 apartamentos em Berlim como parte dos seus esforços de fusão.

Com 75% de participação, a votação coincidiu com as eleições para o Parlamento da Alemanha e o governo da cidade de Berlim, que é também um estado federado.

Os sociais-democratas ultrapassaram os Verdes nas eleições locais em Berlim, o que significa que terão a oportunidade de nomear o próximo presidente da câmara na cidade mais populosa do país.

Pagar por uma transferência de propriedade também é uma questão controversa. Enquanto os defensores do referendo argumentam que o governo pode arcar com o ónus de reembolsar as empresas imobiliárias, os oponentes dizem que o custo para aplicar esta medida seria enorme - entre 29 mil milhões e 39 mil milhões de euros, recursos que, defendem, deveriam ser disponibilizados para outros projectos.

Berlim teve resultados mistos ao tentar limitar os preços dos alugueres. O governo da cidade impôs um tecto para o aluguer há alguns anos, mas acabou por ver um tribunal anular a decisão.

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