Gaiteiros de Lisboa lançam canção que celebra os Caretos e a gaita transmontana

A canção nasceu de um outro projecto e os Gaiteiros de Lisboa resolveram estreá-la agora. Chama-se Vivam todos os caretos, é uma homenagem aos Caretos e também à gaita transmontana e é lançada esta sexta-feira em single e em videoclipe. Embora os Caretos de Podence sejam os mais conhecidos, devido à sua classificação em 2019, pela UNESCO, como Património Imaterial da Humanidade, as chamadas Festas de Rapazes vão muito para além disso, quer na indumentária quer nos usos. Carlos Guerreiro, dos Gaiteiros, explica ao PÚBLICO o porquê da canção. “Esta minha vontade de revisitar a história dos Caretos tem a ver com o facto de os reduzirem a Podence, onde já estão completamente estandardizados, com uma fatiota uniforme, quando os Caretos são tudo o que quiserem ser e as fatiotas até eram normalmente feitas de casacos velhos e trapos. E isso parece-me injusto com as Festas dos Rapazes, que já vêm do tempo dos romanos.”

A primeira vez que Carlos Guerreiro tomou contacto com estas festividades foi por indicação do etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990): “A primeira festa de Caretos a que assisti foi numa fase em que eles ainda mantinham a sua forma tradicional. Foi em 1975, fiz lá uma incursão com o Eduardo Pais Mamede e com o Domingos Morais, fomos muito bem tratados, uma coisa incrível, e aquilo revelou-se uma manifestação completamente bárbara dos festejos do Natal, uma coisa sem regra nem lei, que nós desconhecíamos e que hoje seria impensável”. Voltou lá mais tarde, num Natal de 2000, e as características da festa já tinham mudado. “Era uma coisa completamente diferente, se bem que ainda mantivesse o seu carácter de crítica social, de irreverência, de denúncia, pondo a nu de forma cruel coisas passadas na aldeia. Só que, nessa altura, já estava a caminho de se transformar num produto folclórico.” Esta revisitação, nota Carlos Guerreiro, não pretende ignorar a distinção recebida: “Não quero dizer que os Caretos de Podence não tenham o seu lugar, têm é aquela importância folclórica que não pode fazer ignorar tudo o resto. E nós quisemos desmistificar isso.”

Criados em 1991, os Gaiteiros de Lisboa lançaram até hoje, com formações que foram mudando com o tempo, sete álbuns: Invasões Bárbaras (1995), Bocas do Inferno (1997), Dançachamas (ao vivo, 2000), Macaréu (2002), Sátiro (2006), Avis Rara (2012) e o mais recente Bestiário (2019), além de uma colectânea que passa em revista todos os discos até Avis Rara, intitulada A História (2017) e que incluía um tema inédito, Roncos do diabo.