O futebol de hoje e o de ontem

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Belo jogo, o Itália-Espanha. E exemplo de fair-play. “A Espanha jogou melhor, foi muito mais equipa, mas a fortuna não a ajudou, fomos nós que seduzimos a fortuna”, escreve no Corriere dela Sera o jornalista Mario Sconcerti. Foi um jogo intenso e que, por isso, convida a pensar o contraste entre o futebol de hoje e o de “antigamente”. Durante estes dias ouvi referências à “lentidão” do antigo futebol em contraste “rapidez” do de hoje. Mas também li outras opiniões: “A mecanização do belo jogo – A ‘atletização’ e o rigor táctico tornam o futebol pior”, escreve no Financial Times, o colunista Janah Ganesh.

Que era o futebol “lento”? Era um jogo com menos “pressing”, em que o detentor da bola tinha uma liberdade hoje inimaginável. Há três ou quatro décadas, até haver substituições, era impossível pedir aos jogadores que corressem os mesmos quilómetros que hoje. A “economia do esforço” era uma convenção tácita. O médio que tinha a bola podia pensar, “levantar a cabeça” como se dizia, e optar por um determinado ataque e impor um dado ritmo. Tinha espaço e tempo. Hoje, num futebol de pressing, ele tem de tomar decisões em décimos de segundo. Daí a mecanização. O futebol de hoje é belo na sua intensidade. Mas não é mais espectacular do que o de outrora. Será até menos imaginativo e cerebral. Os jogadores de hoje têm uma elevadíssima técnica, mas mais dificuldade em a mostrar.

E há outra diferença. O holandês Marco van Basten, da escola do Ajax de Cruijff e do Milan de Arrigo Sacchi, três vezes “Bola de Ouro”, diz numa entrevista ao El País: “Quando eu jogava, falávamos de futebolistas. Os futebolistas faziam a diferença. Hoje falamos basicamente de treinadores. Pouco a pouco esquecemos o verdadeiro papel do jogador. O Liverpool é Klopp, o Madrid é Zidane, o City é Guardiola.”

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