Partículas do incêndio de Pedrógão Grande detectadas nos Alpes suíços

Equipa de investigadores recolheu amostras a 3580 metros de altitude e encontrou carbono negro e partículas microscópicas de carvão.

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Paulo Pimenta

A estação de investigação de Jungfraujoch fica nos Alpes suíços, entre glaciares e penhascos, 3580 metros acima do nível do mar. Foi numa amostra recolhida ali perto, a 30 de Junho de 2017, que uma equipa de investigadores suíços detectou partículas provenientes do incêndio de Pedrógão Grande.

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A estação de investigação de Jungfraujoch fica nos Alpes suíços, entre glaciares e penhascos, 3580 metros acima do nível do mar. Foi numa amostra recolhida ali perto, a 30 de Junho de 2017, que uma equipa de investigadores suíços detectou partículas provenientes do incêndio de Pedrógão Grande.

A descoberta está descrita no artigo Tracing devastating fires in Portugal to a snow archive in the Swiss Alps: a case study, publicado em Novembro de 2020, no The Cryosphere, um jornal científico da União Europeia das Geociências.

Na neve acumulada, a equipa, que é composta por investigadores da Universidade de Berna, do Instituto de Ciências Atmosféricas e Climáticas da Suíça e do Instituto Paul Scherrer, encontrou níveis de carbono negro e de partículas microscópicas de carvão acima do normal. Fazendo a análise de dados atmosféricos e calculando de forma regressiva as trajectórias das partículas com base em informação de satélite, foi possível concluir que os níveis encontrados se explicam com o incêndio de Pedrógão Grande, que começou a 17 de Junho e durou até dia 24, consumindo uma área de 501 quilómetros quadrados no caminho.

Maior foi a distância percorrida até à formação montanhosa no centro da Europa: 1500 quilómetros, uma viagem que aos olhos da equipa liderada pela química do gelo, Margit Schwikowski, “parece excepcional” e apenas explicada pela intensidade do fogo, que poderá ter levado a que as partículas tenham atingido altitudes particularmente elevadas, teorizam os investigadores.

Os núcleos de gelo, lê-se no artigo, funcionam como arquivos que preservam informação de ocorrências de incêndios ao longo do tempo, embora a sua sensibilidade seja “muitas vezes desconhecida, o que constitui uma fonte de incerteza na interpretação” desses mesmos arquivos”. Mas os incêndios de Pedrógão Grande “providenciaram uma base de teste para fazer a ligação de um evento de fogo à sua pegada deixada na camada de neve alpina”.

Estes registos com base na neve e no gelo, “são muito mais sensíveis a ocorrências distantes” do que os arquivos sedimentares, que têm mais marcas dos incêndios locais.

“O incêndio emitiu um total de 203,5 toneladas de carbono negro”, notam os investigadores. Ainda assim, a contribuição do carbono negro proveniente dos grandes fogos do centro de Portugal para os níveis encontrados nos Alpes suíços “foi menor” que a das partículas de carvão. Os cientistas notam também que ocorrências isoladas, como foi este incêndio, pode não ficar preservado no gelo de todo, caso as condições meteorológicas sejam desfavoráveis.