“Prefiro morrer a voltar”, disse o jovem marroquino que chegou a Ceuta a flutuar em garrafas de plástico

“Ele não queria voltar, não tinha família em Marrocos, não queria saber se morria de frio. Ele preferia morrer... a ter de voltar para Marrocos. Nunca tinha ouvido aquilo de alguém tão novo”, disse o soldado que traduziu muitas das inquietações dos migrantes.

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Um rapaz marroquino que usou garrafas de plástico vazias para nadar até Ceuta, na última semana, disse que preferia morrer a voltar para Marrocos, de acordo com o soldado espanhol que traduziu as suas palavras, antes de ser escoltado.

O rapaz atraiu atenção internacional ao flutuar vestido com uma t-shirt preta e com garrafas debaixo da roupa e presas aos braços, a chorar enquanto chegava à praia — para ser levado pelos soldados.

“Ele não queria voltar, não tinha família em Marrocos, não queria saber se morria de frio. Ele preferia morrer... a ter que voltar para Marrocos”, disse o soldado Rachid Mohamed al Messaoui. “Nunca tinha ouvido aquilo de alguém tão novo”, disse o soldado de 25 anos à Reuters, na praia.

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Os soldados acompanharam o rapaz que chorava, e outros migrantes, até ao portão da zona de segurança entre os dois países. Um porta-voz do exército em Ceuta disse não ter informação sobre o que lhe aconteceu.

Deportar menores é ilegal em Espanha e centenas foram dirigidos para um centro de recepção improvisado. O rapaz era um dos cerca de oito mil migrantes que nadaram ou escalaram uma rede que delimita a fronteira, esta semana, depois de Rabat ter abrandado o controlo fronteiriço. Espanha destacou tropas para Ceuta, para patrulhar a fronteira com Marrocos, e apelidou a situação de “crise para a Europa”.

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Na extremidade norte de Marrocos, do outro lado de Gibraltar e com uma população de 80 mil pessoas, as praias do enclave estão a apenas algumas centenas de metros. Al-Messaoui, que fala árabe, disse que tentou abafar os sentimentos para ajudar a acalmar aqueles que chegavam à praia, sendo tradutor para os seus colegas espanhóis do Exército. “Sentes-te frustrado, desesperado por não poderes fazer mais por aquele rapaz”, disse.

Questionado sobre o que diria aos pais dos jovens marroquinos que tentam chegar a Ceuta, disse: “Para não os deixarem ir, para ficarem com eles, ficarem unidos como uma família, ainda que haja dificuldades nos seus países... para não os deixarem à deriva sozinhos, desesperados, sem ajuda.”

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