Recuperação para todos – comunidades, empresas e governos têm de trabalhar juntos

A menos que empresas, comunidades e governos trabalhem juntos e repensem como educamos e dotamos as pessoas com novas competências, estaremos a enfrentar um futuro ainda mais desigual e corremos o risco de perder uma recuperação mais rápida, sustentável e inclusiva.

Nunca imaginei que 2020 seria o ano em que os meus pais, ambos na casa dos oitenta, iriam começar a pesquisar online sobre virologia, fazer videochamadas com amigos e familiares diariamente, adoptar o confoicomo a única forma de fazerem compras ou divertirem-se com vídeos no YouTube.

Mas eles não estão sozinhos. A tecnologia tem sido uma tábua de salvação para mais de metade do planeta durante o confinamento. Não consigo pensar em outro momento no qual tenha sido mais útil para tantas pessoas, empresas e países como o é hoje. Seja para obter informações vitais sobre saúde, permanecer conectado ou em busca de oportunidades de trabalho como muitos, as formas como usamos a tecnologia estão mais dinâmicas do que nunca. A mesma tecnologia será também ela um importante catalisador para o regresso e para uma recuperação que seja para todos.

E aqui a palavra-chave é todos. É claro que a pandemia está a ampliar as divisões sociais e económicas existentes dentro e entre os países: mulheres, grupos sub-representados e todos aqueles com escassos recursos são os mais atingidos e os que terão mais dificuldade em sair desta situação.

Ao começar nesta posição na Google há mais de seis anos, li um relatório da UE que destacava o fosso nas competências digitais que poderia conduzir até um milhão de empregos por preencher. Aceitámos isto como um desafio e prometemos trabalhar em parceria com outros na Europa e formar um milhão de pessoas em competências digitais práticas para o trabalho - competências que as empresas precisavam e que criaram oportunidades de carreira. A adesão foi enorme e também em Portugal superou as melhores expectativas. Já realizámos duas edições do pioneiro Android Training Program, para formar programadores e, através do Atelier Digital, demos formação a mais de 100.000 portugueses desde 2016 - a nível global, as iniciativas Grow with Google formaram mais de 70 milhões de pessoas.  

Embora a tecnologia tenha trazido mudanças na forma como trabalhamos por décadas, esta transição está a acelerar, na verdade, deu um salto: a McKinsey estima que, devido à pandemia, mais de 25% das pessoas poderão precisar de fazer a transição para novos empregos. E quase todo o crescimento na procura no mercado de trabalho irá ocorrer em empregos com elevada remuneração, o que significa que as pessoas poderão precisar de novas competências para se manterem empregadas. Por isso, quando a pandemia chegou, trabalhámos rapidamente para responder aos governos e parceiros com novos programas de formação e de investimento para apoiar os desafios de cada país. Em Portugal, assinámos um memorando de entendimento para reforçar o nosso compromisso com o Governo português no apoio à transição digital e na disponibilização de ferramentas e de formação para ajudar nas competências digitais e na empregabilidade, acelerando a recuperação económica portuguesa.

No entanto, vemos que, embora a educação e a formação em competências estejam frequentemente disponíveis de forma ampla e gratuita, elas não chegam a todos. Os grupos sub-representados estão ainda mais em desvantagem do que outros e menos propensos a beneficiarem ou terem acesso a novas formações. Os encerramentos decorrentes do confinamento também afectaram sectores que, tradicionalmente, têm uma proporção maior de mulheres a trabalhar neles, como turismo e o retalho. As empresas pertencentes a mulheres enfrentaram 10% mais desafios em termos de receitas durante a covid. Por outro lado, o estudo mostra que negócios liderados por mulheres crescem mais rápido do que negócios liderados por homens quando implementam, com sucesso, ferramentas digitais.

Temos trabalhado muito para alcançar todos, com mulheres a representar mais da metade de pessoas treinadas. No mês passado, anunciámos os Certificados Profissionais da Google, nos quais nossos parceiros locais – IEFP e APDC, e a ONG Fundação da Juventude com o apoio da INCO – serão responsáveis por distribuir mais de 3 mil certificados, através de bolsas de formação que vão priorizar a igualdade de género na selecção dos candidatos, com ao menos 50% dos certificados atribuídos a mulheres. Há ainda muito mais a ser feito.

É claro que o digital será um dos principais impulsionadores da recuperação. Um estudo mostra que as empresas que usaram ferramentas digitais na pandemia revelaram vendas 1,4x superiores e contrataram 1,1x mais pessoas do que aquelas que não o fizeram. Mas, colectivamente, precisamos repensar como dotar as pessoas com estas competências digitais e desenvolver novas parcerias públicas e privadas para chegar aos mais vulneráveis ​​ou em risco de desemprego.

Os empregos irão continuar a ser criados e a desaparecer, como tem acontecido ao longo da história. São necessárias novas competências para que as pessoas possam tirar partido destas mudanças. A menos que empresas, comunidades e governos trabalhem juntos e repensem como educamos e dotamos as pessoas com novas competências, estaremos a enfrentar um futuro ainda mais desigual e corremos o risco de perder uma recuperação mais rápida, sustentável e inclusiva. Somente através de parcerias poderemos encontrar o caminho a seguir, para um futuro diferente e mais justo que funcione para todos e que não deixe ninguém para trás.

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