Está a nascer o Vozes de Gaia, o jornal comunitário que promove a literacia mediática

O projecto, criado pelo PÚBLICO e pela Fundação INATEL com apoio da Câmara de Gaia, quer ensaiar as rotinas de uma redacção com cidadãos com mais de 55 anos, residentes no concelho, para fomentar uma maior compreensão do universo dos media e dos seus formatos.

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Adriano Miranda
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Daqui a três meses, Maria José Aguiar espera saber questionar, mais e melhor, a torrente de informação que todos os dias lhe entra pelos olhos e ouvidos. Residente em Arcozelo, é ávida consumidora de conteúdos de rádio e fiel ouvinte da Rádio Nova, cuja companhia não dispensa enquanto faz outras coisas. Foi através desta estação que ouviu falar do Vozes de Gaia, projecto desenvolvido em conjunto entre o PÚBLICO e a Fundação INATEL e com investimento social da Câmara Municipal de Gaia, que quer colocar cidadãos com mais de 55 anos, habitantes do concelho, no papel de jornalistas e editores, além de leitores críticos. “Espero que o projecto me ajude na avaliação da informação que consumo”, revela ao PÚBLICO na sessão inaugural, que decorreu na manhã desta segunda-feira, nos Carvalhos.

A promoção da literacia mediática, a educação para os media, a consciencialização para a importância do jornalismo no desenvolvimento de uma cidadania participativa, o combate ao isolamento e à exclusão social e a promoção do trabalho em equipa são os objectivos do Vozes de Gaia. O projecto ganhará forma através de um jornal comunitário, online e impresso a cada três meses, período correspondente à duração dos módulos de formação. Trimestralmente, haverá quatro grupos com seis horas de formação semanais cada, que abordarão temas como a recolha de informação, o cruzamento de fontes, as fake news e o fact-checking, os vários géneros jornalísticos e técnicas de escrita para imprensa, online, rádio (emissão em directo e podcasts) e televisão.

Temas e formatos à escolha

“Vamos fazer os possíveis para dotar as pessoas de ferramentas que lhes permitam manusear todos estes lados do jornalismo”, sustenta Mário Barros, ex-jornalista do PÚBLICO e formador da iniciativa ao lado de Sara Costa e Sena, jornalista com um percurso mais relacionado com televisão e vídeo, no Porto Canal e no JN Direto. Para melhor se enquadrarem no contexto de redacção, os participantes vão ser agrupados por secções, de acordo com os temas que lhes despertem mais interesse, havendo “liberdade para tratarem o que querem e como querem”, observa Sara Sena. “Não queremos apenas propor coisas para eles cumprirem, mas estimular a sensibilidade para perceberem o que podem fazer.”

Foi, precisamente, para compreender os critérios editoriais que Maria Leonor, residente no centro de Vila Nova de Gaia, se inscreveu na iniciativa. A “organização das notícias” é o que mais lhe causa curiosidade e, não raras vezes, entretém-se a “comparar jornais, porque o conteúdo é o mesmo, a embalagem é que é diferente”. A proliferação de espaços de opinião em que “num dia o jornalista [parece que] é epidemiologista e no outro já é jurista” constitui, na sua opinião, uma das maiores fragilidades para a credibilidade do jornalismo. Por outro lado, defende a participante, a isenção e rigor estão cada vez mais ameaçados. “Às vezes parece que os jornalistas assumem que já sabem tudo e só querem contradizer aquela opinião.”

Uma redacção como as outras

A aproximação dos cidadãos à realidade jornalística será exercitada a cada sessão, cujo arranque funcionará de modo semelhante ao de uma redacção, com uma reunião editorial em que se escolhem e atribuem temas a trabalhar e se tomam decisões como a escolha do destaque da homepage ​do site e da capa do jornal. Ao mesmo tempo que aprendem a redigir notícias para o papel e o online, os formandos vão poder interagir com agentes sociais, políticos e culturais do concelho para concretizar os seus trabalhos fora da “redacção”. Ao longo do trimestre, as sessões deverão, ainda, contar com os testemunhos de profissionais de áreas como o fotojornalismo e a rádio, entre outros, que poderão oferecer alguma orientação a quem desejar experimentar determinado formato.

A experimentação e o debate são, aliás, questões centrais do Vozes de Gaia, que às sextas vai juntar os quatro grupos para que possam trabalhar em conjunto e, em ambiente mais descontraído, dediquem algum tempo aos trabalhos que levarão para casa. A última sessão de cada semana servirá, também, para “tentar preparar os dias seguintes, como se faz num jornal normal”, nota Mário Barros. “No fundo, é para eles próprios puxarem pela sua originalidade e trazerem ideias.” O projecto decorre até Outubro de 2022.

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