Património cultural em conflito: da violência à reparação

A professora da Universidade de Cambridge Dacia Viejo Rose investiga a forma como o património molda a nossa compreensão do mundo e determina o nosso lugar neste. “O património cultural pode ser um veículo de transmissão de raiva e de ressentimento ao longo de gerações, ao monumentalizar a violência do passado e legitimar os seus legados.”

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Photographie von Franz Laforest/Mostar/Imagno/Getty Images

Nos últimos anos, a destruição deliberada do património cultural durante conflitos armados tem vindo a ganhar destaque nos cabeçalhos de todo o mundo. Estes foram espicaçados pela elevada mediatização de ataques como aqueles da Ponte Mostar e dos Budas de Bamiyan, de Timbuktu e dos Museus de Bagdad e Palmira, apenas para mencionar alguns. Como resposta, a retórica utilizada para denunciar este tipo de atos tornou-se extremamente inflamada. A ex-diretora geral da UNESCO, Irina Bokova, tradicionalmente moderada no discurso, denunciou atos de “limpeza cultural” e declarou o património como “o novo alvo dos extremistas”. A hipérbole linguística esconde um ponto fraco, uma vez que as motivações, as consequências imediatas e os impactos de longo termo destes atos dramáticos não são simples. Compreender o que subjaz aos ataques contra o património torna-se complicado pela insistência em aplicar valores morais positivos ao património, e negativos à sua destruição, processo do qual resultou uma apreciação inadequada da instrumentalização política violenta do património no fortalecimento, evolução, desfecho e rescaldo do conflito armado.

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