“Vice” da bancada do PS contestado por pedir autocrítica sobre Sócrates

Pedro Delgado Alves defendeu uma autocrítica do PS no caso Sócrates - “um anátema para o PS, queiramos ou não, gostemos ou não”.

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Rui Gaudencio

O vice-presidente da bancada socialista Pedro Delgado Alves foi nesta quinta-feira contestado por outros dirigentes do seu grupo parlamentar, após ter defendido que o PS deveria fazer uma reflexão e uma autocrítica sobre a acção de José Sócrates.

Esta posição de Pedro Delgado Alves foi transmitida na reunião da bancada do PS, tendo merecido críticas da própria líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, que defendeu a necessidade de se traçar uma fronteira clara entre política e justiça.

Na linha do que já tinha afirmado na véspera, no Canal Q e TSF, segundo fontes da bancada socialista, Pedro Delgado Alves, antigo líder da JS, lamentou a incapacidade que o PS teve de detectar factos em matéria conduta pessoal do antigo primeiro-ministro entre 2005 e 2011, que na sexta-feira foi pronunciado pelo Tribunal Central de Investigação Criminal por crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos.

O professor universitário de Direito, sem comentar o caso judicial de José Sócrates, defende a tese de que os dirigentes e militantes do PS, assim como os eleitores, tinham o direito de saber o que se passava.

“E isso foi-lhes privado, intencional e dolosamente por parte de José Sócrates. Um anátema para o PS, queiramos ou não, gostemos ou não”, declarou Pedro Delgado Alves, repetindo parte da posição que assumiu comunicação social.

De acordo com vários deputados do PS que assistiram à reunião semanal do grupo parlamentar, Ana Catarina Mendes reagiu de forma dura à posição do seu vice-presidente da bancada. A presidente do grupo parlamentar do PS insurgiu-se contra a tese de que se deverá suscitar a discussão sobre a conduta de José Sócrates, tendo em vista uma autocrítica, alegando que é preciso separar as questões dos processos judiciais e a esfera da acção política.

Na véspera, na TVI, no programa Circulatura do Quadrado, Ana Catarina Mendes criticou José Sócrates pelo ataque que fez à direcção do PS, em particular a António Costa, considerando-o “uma injustiça tremenda”.

José Sócrates, em resposta a críticas que lhe foram dirigidas pelo presidente da Câmara de Lisboa, acusara antes o "mandante” de Fernando Medina de “profunda canalhice” e “covardia moral".

Ana Catarina Mendes aproveitou para dizer que o PS “nunca apagou a sua história”. “José Sócrates deu a primeira e única maioria absoluta ao PS, foi secretário-geral e primeiro-ministro. O PS, desde o início, quase há sete anos, sempre frisou que deixaria o processo correr na justiça para que fizesse o trabalho que tem a fazer”, referiu.

Ainda sobre as declarações de José Sócrates, Ana Catarina Mendes referiu-se ao período entre 2015 e 2019 em que desempenhou as funções de secretária-geral adjunta do PS. “O ataque ao PS não é correcto. Fui secretária-geral adjunta do PS quatro anos, recebi a carta de desfiliação de José Sócrates [em 2018] e em muitos momentos da vida do partido tentei contactar José Sócrates. Portanto, ninguém abandonou”, mas deixou-se “fazer o trabalho que a justiça tem de fazer”, acrescentou.

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