A única portuguesa na lista dos arquitectos mais promissores da Europa quer edifícios mais sustentáveis

Maria João Andrade é a única portuguesa distinguida este ano com o prémio 40 Under 40, que destaca a próxima geração de arquitectos e designers europeus. Em todos os projectos, tem o mesmo objectivo: construir um edifício reduzindo a pegada ecológica. Mesmo que isso signifique que eles fiquem escondidos.

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Há um prédio portuense de 1960 onde a cobertura, outrora de cimento, se transformou numa horta. Até já há joaninhas a nascer por ali. A mudança de cenário teve mão de Maria João Andrade, fundadora do atelier MJARC Arquitectos — e a única portuguesa distinguida no prémio 40 Under 40 —, e encaixa naquilo que define como “uma preocupação constante” nos seus projectos: a sustentabilidade.

É que, apesar de cada trabalho ser feito de acordo com o lugar onde vai estar inserido, há, como garante ao P3, uma premissa comum a todos eles: “De que forma podemos construir um edifício reduzindo ao máximo a nossa pegada? Esse é o meu objectivo.”

Os dois projectos que candidatou ao prémio — criado pelo The European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies e pelo The Chicago Athenaeum: Museum of Architecture and Design, que todos os anos identifica e destaca 40 arquitectos e designers europeus com menos de 40 anos — mostram isso mesmo. Um deles, uma casa no vale do Douro, fica tão integrada na paisagem, que até já lhe perguntaram onde estava. “Fico supercontente. A casa tem uma vista fantástica, mas ninguém a consegue ver e não tem qualquer impacto na montanha”, refere a arquitecta de 40 anos, natural do Porto.

Além de ser discreta, conta com uma cobertura ajardinada, boa exposição solar e sustentabilidade a nível energético. Vantagens que só se conseguem “compreendendo bem o local onde está a ser feita a intervenção” e muita “experimentação”. “Para inovarmos temos de experimentar materiais novos, testar, perceber como vão resultar”, explica Maria João. Depois, é preciso muitas “formulas e cálculos” para que “os edifícios cheguem ao fim com necessidades de consumo energético muito baixas” — o que, por sua vez, implica “domínio do ponto de vista dos materiais que permitam eficácia”.

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A casa no Vale do Douro, distinguida no concurso. DR

Não é tarefa fácil, mas é premente e cada vez mais urgente. A pandemia, acredita a arquitecta, veio reforçar a certeza de que é preciso “reduzir o nosso impacto” e trazer a natureza para dentro. A nossa casa “passou a ser ginásio, espaço de trabalho, escola dos nossos filhos”, tornando ainda mais importante “esta integração”, realça. “Os clientes também têm esta preocupação de trazer o ambiente natural, reduzir a pegada, tornando, ao mesmo tempo, o edifício mais económico.”

O outro projecto que levou a concurso foi um edifício hospitalar, em Mirandela. Também neste procurou “libertar o máximo de espaço verde, para que os doentes que estão na unidade hospitalar pudessem ter espaços de descompressão”. Os espaços verdes e o facto de estar integrado numa quinta permitiram que o edifício se enquadrasse naquilo que a arquitecta defende.

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O Centro Nordial, em Mirandela. DR

A distinção é recebida com “muita satisfação”: enquanto prémio atribuído a arquitectos até aos 40 anos, “reconhece os mais jovens”; por ser atribuído a uma mulher, relembra que elas existem neste “universo bastante masculino”. “Temos grandes prémios, arquitectos de renome internacional, mas a presença masculina no cenário global tenha muito mais peso”, lamenta. “Este prémio vem valorizar e reforçar que temos uma camada jovem e de arquitectas a querer marcar a sua posição neste mercado fortemente masculino.”

Maria João está actualmente está a trabalhar no projecto de uma unidade hoteleira no Douro, onde quer introduzir, como já podemos adivinhar, “as energias renováveis e a sustentabilidade”, sem se esquecer de “reduzir o impacto [do edifício] na paisagem e integrando-o com o uso de materiais como a madeira”. Tem outro, em Pedrógão Grande, na zona dos incêndios de 2017. “Fiquei chocada quando cheguei ao terreno e vi que houve subsídios para cortar as árvores, elas ficaram tombadas, e não havia subsídios para as tirar”, conta.

Agora, um investidor quer construir um hotel no local. “Vamos voltar a plantar uma floresta autóctone e o hotel vai nascer no meio das árvores”, descreve. O primeiro objectivo é, contudo, reflorestar. Afinal, “os projectos vivem da forma como interagem nos meios onde vão ser construídos”.

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