Creches querem mais tempo para abrir e já preparam listas de vacinação

Creches já começaram a ser contactadas pela Segurança Social para fornecerem número de funcionários em contacto directo com as crianças, para serem incluídos no processo de vacinação.

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paulo pimenta

Preparar refeições, ter alimentos frescos na cozinha e acautelar a desinfecção dos espaços são os principais constrangimentos que creches e jardins-de-infância poderão enfrentar se o anúncio oficial da sua eventual reabertura for feito na quinta-feira e tiverem de abrir portas na segunda-feira. Pelo meio, fica apenas um dia útil para adquirir alimentos junto de fornecedores e proceder à desinfecção das instalações. A presidente da Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular, Susana Batista, defende que o ideal seria um período de três dias para que estes estabelecimentos consigam “reabrir com tranquilidade”.

Para Susana Batista, três dias úteis permitiriam “arrancar com todo o cuidado”, sem ser “a correr”, “com tranquilidade”. Na prática, isto significa que, se a confirmação oficial for na quinta-feira, estes estabelecimentos poderiam reabrir na quarta-feira, dia 17, ou, eventualmente, um dia antes: “Se o anúncio oficial for quinta, dia 11, poderíamos abrir por volta de quarta, dia 17, seria o ideal. Mas, se for na terça dia 16, também será possível. A matéria-prima das cozinhas, com alimentos frescos, é o mais difícil. Tê-los na segunda de manhã cedo é mais complicado. Quem tem cozinha e tem um grupo de crianças que almoça muito cedo tem de ter matéria-prima disponível logo de manhã.”

O “aprovisionamento de alimentos frescos para preparar refeições” é dos principais desafios: “Os fornecedores também não conseguem entregar tudo num só dia”, explica a responsável, ressalvando que, sem esse tempo de preparação, as creches “terão de ir comprar aos supermercados, por exemplo, ou encontrar outras soluções”. Quanto à desinfecção das instalações, “se for preciso, terá de ir tudo fazer a desinfecção no fim-de-semana, mas se houver tempo para contratar empresas, por exemplo, melhor”, exemplifica ainda.

Estes são os dois principais desafios identificados por Susana Batista, naquela que será já a segunda reabertura destes estabelecimentos durante a pandemia: “A grande preparação foi no ano passado, quando foi necessário adaptar tudo a novas regras. Agora, não temos qualquer informação nem sobre regras diferentes ou novo calendário”.

Esta associação já questionou o Governo sobre o calendário previsto, mas ainda não obteve resposta: “Começámos a questionar na sexta-feira passada. Esta semana já voltámos a questionar e já avisámos a Segurança Social e o Ministério da Educação de que seria importante avisarem-nos com três dias de antecedência, para não ser tudo a correr. As coisas a correr não correm bem, acabamos por ter de comprar e fazer as coisas não da forma ideal, mas como conseguirmos”, diz.

Segurança Social faz levantamento de pessoal a vacinar

A única informação que já obtiveram, conta, chegou da parte dos centros distritais da Segurança Social e foi a questionar as creches sobre quantos funcionários estão em contacto directo com as crianças de forma a serem incluídos no processo de vacinação contra a covid-19.

“A única coisa que soubemos foi um email enviado pela Segurança Social às creches, e não aos jardins-de-infância que são tutelados pelo Ministério da Educação, com carácter de urgência a pedir o número de profissionais e funcionários das creches em contacto directo com as crianças para serem incluídas no plano de vacinação. Umas creches receberam na segunda-feira às 19h30 e outras na terça-feira de manhã, os emails foram enviados pelos diferentes centros distritais da Segurança Social. Mas questionei a Segurança Social e o que me foi dito é que não será condição prévia para reabrir [os funcionários estarem já vacinados]”, ressalva, notando não dispor do número global de educadores e auxiliares que estarão abrangidos no país e explicando que cada creche recebeu o email e fornecerá os dados do seu estabelecimento.

Sobre esta matéria, Susana Batista diz que a “associação já questionou a DGEstE [Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares] sobre se está a ser feito algum levantamento sobre os jardins-de-infância tutelados pelo Ministério da Educação”, mas para já sem resposta.

Esta responsável mostra-se satisfeita com a actualização da norma relativa aos grupos prioritários de vacinação e o anúncio de que também serão vacinados, segundo a Direcção-Geral da Saúde, “o pessoal docente e não-docente dos estabelecimentos de ensino e educação e das respostas sociais de apoio à infância dos sectores público, privado e social e cooperativo, de acordo com o plano logístico que será implementado”.

“Ficámos muito satisfeitos com essa novidade, por considerarmos que é muito importante para prevenir os contágios. Sabemos que há grupos prioritários, mas se estes profissionais desta área também o puderem ser, ficamos muito satisfeitos”, diz, notando, porém, não dispor do número total de educadores e auxiliares no país que podem ser vacinados.

Susana Batista lamenta apenas que o sector do ensino privado não esteja contemplado na estratégia de testes rápidos de antigénio desenhada pelo Governo para a retoma das aulas: “Para mim, a vacina é mais importante do que os testes, os testes dão alguma tranquilidade, mas acho que não pode haver discriminação entre crianças do público e privado, estamos a falar de saúde pública. É uma distinção que não faz sentido.”

A Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular representa creches, jardins-de-infância e estabelecimentos de 1.º ciclo que tenham, no máximo, até 250 alunos e conta com mais de 100 associados. “São pequenos estabelecimentos de ensino particular”, precisa a responsável, que garante ainda que os pais com quem tem contactado se mostram confiantes na reabertura. “Muito, muito, muito, desejosos há muito tempo [que reabram]. Por eles, era para ontem. E para as crianças também...”

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