Roma regressa às esplanadas, aos balcões, aos cafés. Saudades, esperança e cautelas

Em grande parte de Itália, as restrições impostas antes do Natal foram aliviadas. Em Roma voltaram a ouvir-se as conversas nos cafés e nos restaurantes, as gargalhadas dos empregados e clientes. Algumas atracções reabrem, incluindo Museus do Vaticano e Coliseu. 

Empregados e clientes celebram o reencontro às mesas de um restaurante do Trastevere REUTERS/Guglielmo Mangiapane
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Empregados e clientes celebram o reencontro às mesas de um restaurante do Trastevere REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Depois das severas restrições aplicadas em Itália antes do Natal, com poucas excepções depois disso, boa parte do país pôde voltar estar segunda-feira à "normalidade" possível, mesmo que entre a pandemia e a crise política, com alguns especialistas a criticarem a reabertura como prematura. 

E os italianos já estavam mesmo cheios de saudades dos seus amados cafés e restaurantes, que até agora, como em Portugal, estavam cingidos ao take-away e entregas.

Com o regresso às suas segundas casas, a alegria pareceu mudar o ambiente das ruas. 

"Sentíamo-nos mortos sem os cafés", disse à Reuters a romana Tiziana Baldo depois de um empregado lhe servir o seu café no centro da capital italiana.

E é como uma redescoberta dos prazeres que antes pareciam tão fáceis. "É maravilhoso vir aqui e falar com as pessoas atrás do balcão. Eles fazem-nos sentir vivos a cada manhã antes de irmos para o trabalho", disse Tiziana.

Enquanto boa parte da Europa permanece em confinamentos e restrições apertadas, Itália suavizou as medidas em 15 das 20 regiões e a restauração pode servir novamente às mesas e balcões até às 18h. Depois dessa hora, só take-away até 22h. Recolher obrigatório continua vigente, das 22h às 5h.

"Estou muito contente porque pelo menos todo este desperdício gigantesco de plástico vai terminar", comentou ainda Leonardo Angelini, um trabalhador da construção civil, enquanto bebia o seu café matinal, referindo-se a todos os materiais plásticos necessários para take-away e entregas.

Algumas atracções, fechadas por quase dois meses, também voltam a estar acessíveis. Incluindo o marcante Coliseu de Roma, que assinalou o novo reinício com um concerto na arena quase vazia. Os museus do Vaticano também reabriram.

E, apesar de tudo, avistam-se turistas, contam-se pelos dedos mas encontram-se. "Estou tão feliz, pela primeira vez há algo de positivo" durante a pandemia, disse à Reuters Benoit Duplais, um visitante belga. Visitou o Vaticano, a Capela Sistina e agora preparava-se para visitar o Coliseu. "É fantástico", resumia Benoit, encantado com a liberdade reencontrada e as reaberturas.

"Estamos esperançosos", disse Giuseppe Unico, dono de um bar em Roma, que, como toda a Itália, está habituada a depender muito dos ganhos com o turismo. "Estamos à espera do regresso dos turistas, mas neste momento este pensamento parece-me uma utopia".

Apesar da alegria nas ruas, e mesmo com o ministro da saúde Roberto Speranza a lembrar que "o perigo não passou", houve críticas ao suavizar das restrições. Entre os críticos, a Organização Mundial da Saúde, que considerou prematuras as novas medidas.

Esta terça-feira, o país registou 18.976 novos casos de coronavírus e 499 mortes por covid-19.

Um dos primeiros clientes de um café junto ao Panteão
Um dos primeiros clientes de um café junto ao Panteão REUTERS/Yara Nardi
O regresso a outra solidão, mais desejada: a de sentar-se sozinho na esplanada de um café
O regresso a outra solidão, mais desejada: a de sentar-se sozinho na esplanada de um café Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Num restaurante do Trastevere
Num restaurante do Trastevere Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Voltar a poder servir vinho aos clientes
Voltar a poder servir vinho aos clientes Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Um pequeno-almoço na reabertura da restauração romana
Um pequeno-almoço na reabertura da restauração romana EPA/MASSIMO PERCOSSI
Um pequeno-almoço na reabertura da restauração romana
Um pequeno-almoço na reabertura da restauração romana EPA/MASSIMO PERCOSSI
Um pequeno-almoço na reabertura da restauração romana
Um pequeno-almoço na reabertura da restauração romana EPA/MASSIMO PERCOSSI
Há mais vida no Campo dei Fiori, mesmo com a preguiça de alguns amigos de quatro patas
Há mais vida no Campo dei Fiori, mesmo com a preguiça de alguns amigos de quatro patas Reuters/YARA NARDI
No Coliseu, a reabertura foi marcada por um concerto para poucos no local mas muitos no mundo virtual
No Coliseu, a reabertura foi marcada por um concerto para poucos no local mas muitos no mundo virtual Reuters/YARA NARDI
No Coliseu, a reabertura foi marcada por um concerto para poucos no local mas muitos no mundo virtual
No Coliseu, a reabertura foi marcada por um concerto para poucos no local mas muitos no mundo virtual Reuters/YARA NARDI
Um espectador solitário durante o concerto no Coliseu de Roma
Um espectador solitário durante o concerto no Coliseu de Roma Reuters/YARA NARDI
Vontade de voltar ao museu: uma visitante corre para a entrada dos Museus do Vaticano
Vontade de voltar ao museu: uma visitante corre para a entrada dos Museus do Vaticano Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Os clientes voltam aos balcões no Campo dei Fiori
Os clientes voltam aos balcões no Campo dei Fiori Reuters/YARA NARDI
Um expresso levado com vontade para a esplanada
Um expresso levado com vontade para a esplanada Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Prazeres antes tão fáceis, agora redescobertos: uma leitora atenta numa esplanada de ROma
Prazeres antes tão fáceis, agora redescobertos: uma leitora atenta numa esplanada de ROma Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Com os outro à distância, um brinde a dois no Trastevere
Com os outro à distância, um brinde a dois no Trastevere Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Voltar a almoçar na rua, aqui com protectores entre clientes de mesas diferentes
Voltar a almoçar na rua, aqui com protectores entre clientes de mesas diferentes Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Um momento de paz ao sol de Inverno
Um momento de paz ao sol de Inverno REUTERS/Guglielmo Mangiapane
As mesas voltam a ser preparadas para os clientes com os olhos no Panteão. Amanhã é outro dia.
As mesas voltam a ser preparadas para os clientes com os olhos no Panteão. Amanhã é outro dia. Reuters/YARA NARDI