O plano do homem sem leme

Tem de haver clareza em relação aos grupos prioritários a serem vacinados e, mais uma vez, não são os políticos que devem dar as orientações.

É preciso comunicar aos portugueses o que se passa. Fontes da força de trabalho, traduzo assim, afirmam tratar-se de uma missão de elevada complexidade e que não serão os políticos que nos irão dizer como fazer, mas sim a ciência. Infelizmente, pelo menos entre nós, esse palco tem sido (mal) ocupado pelos políticos da uma task force que mais parece a Santa Casa da Misericórdia. 

Deveria haver informação credível fornecida ao público, sobretudo o que se está a passar com estas vacinas, sobre a sua segurança e eficácia (não são os políticos que devem falar sobre estes aspetos fundamentais do conhecimento científico, o que retira confiança às pessoas). Que vacinas são as da mRNA Biontech Pfizer (duas tomas com intervalo de 21 dias e porquê, quais os efeitos imediatos e previstos para o Outono de 2021?); da Moderna (duas tomas com intervalo de 28 dias e porquê, quais os efeitos imediatos e previstos para o Outono de 2021?); e as da CurVac mRNA (nada se sabe).

Escreveu no PÚBLICO o diretor dos cuidados intensivos do Hospital de São Francisco Xavier, Luís Campos, que “o isolamento também mata”. Pois é. Francisco Ramos... deveria ir ao concelho do seu partido, o Meimão, a Meimoa e a Malcata, onde os lobos e os linces atacam durante a noite, mas onde os velhos morrem por não ter médico e quanto mais vacina. E isto é comunicar com os portugueses. Primeiro fazem-se anúncios, e propaganda – onde nem existe antena de telemóvel quanto mais cabo das vossas televisões, depois aparecem os show off dos “troncos ao léu”, depois os planos de comunicação. Vamos ver quem é a super-agência que terá ajuste direto fará.

Por outro lado, tem que haver clareza em relação aos grupos prioritários a serem vacinados e, mais uma vez, não são os políticos que devem dar as orientações. No que diz respeito à vacinação, duas grandes autoridades – Rui Santos Ivo e Graça Freitas. A vacinação deve ser precedida por uma campanha de informação muito clara, à população, iletrada em saúde, feita por quem conta e em quem confiam — enfermeiros, médicos e farmacêuticos. E neste grupo de trabalho cheio de anglicismos, mas pouco british, não são respeitados os stakeholders.

São ignoradas as Ordens, dos Médicos, dos Farmacêuticos e dos Enfermeiros. O que eu esperava — antes da alarvidade de propaganda — era esclarecer em tempo real via juntas de freguesia os aspetos cruciais das vacinas: segurança, eficácia, grupos prioritários, o conhecimento do estado clínico de cada um dos candidatos à vacinação, calendário, disponibilidade das doses, distribuição. Não se consolem, valham-nos os algoritmos dos militares, com a habilitação redutora de administração hospitalar de meter agulha no braço adentro.

A missão para esta vacinação é complexa, dura e de longos meses. E desejavam os portugueses estar sob tutela de pessoas competentes e dedicadas, reconhecidas pela comunidade científica e pela sociedade, mas não é assim. Precisam de ser vacinadas – cheios de dúvidas – para atingir a imunidade de grupo, isto é, que 60% a 70% da população que fique imunizada contra o SARS-CoV-2. Assim, admitindo-se que 10% da população tenha adquirido imunidade natural, e desconhecendo-se o numero de infetados reais, é necessário que sejam vacinados 5 a 6 milhões de portugueses. Estão encomendadas 22 milhões de doses. Veremos se é verdade, no meio de tanta incerteza e mentira. E, sobretudo, desarticulação entre os importantes parceiros nesta guerra, para que possamos voltar ao normal.

Pior que isso, está mesmo a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Francisco George, o homem que, sem leme, na Cruz Vermelha Portuguesa, levou para lá o grupo dos amigos, passando os salários de 22 para 35 mil euros por mês, subindo de três para cinco o número de administradores.

É caso para recordar Alberto Caeiro, com Vi Jesus Cristo Descer à Terra: “Um dia que Deus estava a dormir E o Espírito Santo andava a voar / Ele foi à caixa dos milagres e roubou três /Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido / Com o segundo criou-se eternamente humano e menino / Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz. E deixou-o pregado na cruz que há no céu/ E serve de modelo às outras /Depois fugiu para o sol/ E desceu pelo primeiro raio que apanhou /Hoje vive na minha aldeia comigo. É uma criança bonita de riso e natural.”

Entretanto, terão morrido quase todos os nossos antigos. Portugal, acorda. Porque o inferno está a descer. Ou será tarde demais.

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