António Filipe Pimentel é o novo director do Museu Gulbenkian, Benjamin Weil fica à frente do regressado Centro de Arte Moderna

O ex-director do Museu Nacional de Arte Antiga e o actual director artístico do Centro Botín, em Santander, sucedem a Penelope Curtis. Novo modelo de gestão reverte fusão dos dois organismos da fundação.

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António Filipe Pimentel Rui Gaudêncio

António Filipe Pimentel, ex-director do Museu Nacional de Arte Antiga, e Benjamin Weil, actual director artístico do Centro Botín, em Santander, vão dividir a direcção do actual Museu Gulbenkian, anunciou esta quinta-feira a Fundação Calouste Gulbenkian em comunicado. A instituição regressa assim a um modelo abandonado em 2016, com a extinção do Centro de Arte Moderna (CAM).

O primeiro, actualmente professor na Universidade de Coimbra, ficará à frente do antigo Museu Gulbenkian, que guarda a chamada colecção do fundador; o segundo, um curador e crítico de arte francês, vai dirigir o renascido CAM, extinto quando a fundação uniu as duas colecções num único museu e contratou a britânica Penelope Curtis para o dirigir.

“Numa altura em que vão iniciar-se as obras de renovação do Centro de Arte Moderna, que darão forma ao projecto desenhado pelo arquitecto japonês Kengo Kuma, a entrada de dois novos directores representa um reforço do investimento da Fundação quer no Museu Calouste Gulbenkian quer no Centro de Arte Moderna”, esclarece o comunicado.

Os dois homens, que sucedem à britânica Penelope Curtis, directora das duas instituições durante cinco anos, foram escolhidos na sequência de um processo de recrutamento internacional semelhante ao utilizado para seleccionar a ex-directora da Tate Britan. O anúncio da Gulbenkian vem assim confirmar a hipótese avançada pela própria Curtis numa entrevista ao PÚBLICO, quando revelou que a administração da Gulbenkian procurava dois directores e que estava em cima da mesa reverter a união dos dois museus.

Benjamin Weil, acrescenta a fundação, “foi escolhido para definir o rumo do novo ciclo de vida do CAM” que, actualmente encerrado, reabrirá em 2022 “com um fôlego e programação renovados depois das obras de ampliação a Sul do Jardim Gulbenkian”. Estas passarão por criar uma nova entrada com muito mais visibilidade virada para a zona do Corte Inglés.

António Filipe Pimentel, que esteve dez anos à frente do MNAA, foi então responsável pela renovação da museografia das principais colecções do mais importante museu nacional, saindo depois de ter tecido duras críticas à tutela da actual ministra Graça Fonseca. Especialista em arquitectura barroca, foi frequentemente a voz pública, por vezes incómoda, que denunciou a fragilidade do estatuto dos museus nacionais.

Pimentel, que foi considerado na hora da saída do MNAA um dos mais dinâmicos directores dos museus portugueses, considera o novo desafio “extremamente interessante”, como disse ao PÚBLICO. “Significa dirigir um museu que é muito importante, uma colecção de referência internacional que é um grande privilégio Portugal ter.”

O historiador de arte, que vai dirigir a colecção criada por Calouste Gulbenkian, totalmente composta por obras internacionais, lembra que no MNAA já trabalhou com a maior colecção internacional pública portuguesa, desde a pinacoteca às artes decorativas: “Haverá um trabalho focado na dimensão internacional da colecção. Agora vamos arregaçar as mangas e ver o que se pode fazer a partir daqui, tirando partido daquilo que já foi feito pelos meus antecessores durante décadas. Tenho de me familiarizar com a colecção, com o próprio museu e o seu corpo técnico. É um novo trabalho que vai começar, mas estou ilusionado [animado], como dizem os espanhóis.”

Relação com a arte em Portugal

Benjamin Weil é desde 2014 o director artístico do Centro Botín, um importante museu de artes — há quem veja nele “o Guggenheim da Cantábria” — cujo edifício actual foi projectado pelo arquitecto italiano Renzo Piano, e inaugurado em Junho de 2017.

Nascido em Paris em 1962, Weil desenvolveu em Santander um trabalho que “foi fundamental para colocar o Centro no mapa artístico internacional”, diz o comunicado da Gulbenkian, citando a curadoria de novos projectos de artistas como Joan Jonas e Martin Creed, bem como a apresentação de exposições de Carsten Holler, Julie Mehretu ou Alexander Calder.

Antes de chegar ao Centro Botín, a carreira profissional de Benjamin Weil iniciou-se em Nova Iorque nos anos 1980, após a sua graduação no Whitney Independent Study Program. Trabalhou depois no Institute of Contemporary Arts (ICA), em Londres, no Museu de Arte Moderna de São Francisco, e colaborou em revistas como a Flash Art, Beaux Arts e Atlántica. Em 1994, foi co-fundador do Ada Web, um estúdio de produção digital que permitiu a divulgação online de trabalhos de vários artistas.

Entre as inúmeras colaborações com galerias, instituições internacionais e artistas de todo o mundo, conta-se também o seu trabalho de curadoria da exposição Untitled (Orchestral), de João Onofre, em 2017, no MAAT (Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia), em Lisboa. Neste mesmo ano — escolhido por Vicente Todolí, com quem trabalhou também em Santander —, Benjamin Weil integrou o comité de curadores internacionais que nomearam os 48 artistas participantes na primeira edição do Prémio Paulo Cunha e Silva.

Presentemente, o Centro Botín exibe, também com curadoria sua, a exposição Arte e Arquitectura: um Diálogo, que integra obras dos artistas portugueses Julião Sarmento, Leonor Antunes, Carlos Bunga e Fernanda Fragateiro. Com Sérgio C. Andrade

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