No Norte de Itália, há um lar onde o dia-a-dia se voltou a fazer de abraços (em segurança)

Carícias, beijos, abraços. Carinhos que, nos lares, foram postos em pausa desde Março deste ano. Até agora: no Norte de Itália, uma casa de repouso criou um espaço especial para que os familiares possam visitar os residentes — e, por fim, abraçá-los.

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“No Centro Social Domenico Sartor vamos abraçar-nos novamente.” O anúncio foi feito, no fim do mês passado, na página de Facebook da casa de repouso localizada em Castelfranco, na região italiana de Véneto, no Nordeste do país, após uma inauguração que contou inclusive com a presença das autoridades de saúde locais  afinal, o objectivo não passa por baixar a guarda na protecção dos idosos, numa altura em que a segunda vaga de covid-19 em Itália já atingiu as centenas de mortes diárias (dia 11, foram registados 623 óbitos), mas garantir-lhes com toda a segurança o acesso aos afectos dos seus familiares.

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“No Centro Social Domenico Sartor vamos abraçar-nos novamente.” O anúncio foi feito, no fim do mês passado, na página de Facebook da casa de repouso localizada em Castelfranco, na região italiana de Véneto, no Nordeste do país, após uma inauguração que contou inclusive com a presença das autoridades de saúde locais  afinal, o objectivo não passa por baixar a guarda na protecção dos idosos, numa altura em que a segunda vaga de covid-19 em Itália já atingiu as centenas de mortes diárias (dia 11, foram registados 623 óbitos), mas garantir-lhes com toda a segurança o acesso aos afectos dos seus familiares.

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Facebook/Centro Servizi alla Persona Domenico Sartor

Para que fosse conseguido um equilíbrio entre afecto e distância, foi criada uma sala especial, onde foram colocadas divisórias em policarbonato, do tecto ao chão, graças às quais visitantes e residentes podem ver-se e conversar, usando um sistema de auscultadores com microfone integrado. No total, há 12 compartimentos, com um detalhe especial: umas aberturas no vidro, adaptadas com umas luvas em plástico, que permitem o aconchego do toque físico. E há ainda dois recantos especiais, baptizados de “Emozioni dell’abbraccio” (emoção do abraço), onde foi implementada “uma nova técnica que, através da utilização de material plástico transparente e macio, permite abraços”, mantendo os utentes protegidos de possíveis contágios.

Antes de poderem entrar nesta “sala de abraços”, as visitas passam por um rigoroso escrutínio, obedecendo ao protocolo de higiene e segurança. Depois, as emoções ganham vida, ao fim de largos meses em que o contacto se resumiu a videochamadas. Ao canal de televisão italiano LA7, vários familiares testemunharam a felicidade por poderem, por fim, tocar na sua mãe, pai, avó, tia... A directora do centro de acção social, Elisabetta Barbato, explicou que a ideia passou por “criar um espaço completamente isolado”, que permitisse aos “visitantes aproximarem-se dos seus familiares”.

A iniciativa poderá, agora, vir a ser replicada noutros centros de acção social, considerou o vice-presidente da Câmara de Trieste, Paolo Polidori: “Vamos avaliar todas as formas possíveis de mitigar o enorme drama que os nossos idosos vivem dentro dos lares. (...) Trabalharemos para encontrar fundos, em sinergia com a empresa de saúde, a política e todas as partes envolvidas, para proporcionar alívio aos nossos entes queridos e à situação devastadora em que estes se encontram”.

Logo em Abril, a Organização Mundial da Saúde descreveu a situação nos lares na Europa como uma “tragédia humana inimaginável”, uma vez que o coronavírus que provoca a covid-19 é mais letal nos idosos. Estimou-se que metade das mortes estava a ocorrer em lares, e uma das soluções encontradas passou por interditar as visitas de familiares; desde então, vários destes centros não reabriram os espaços.

Esta semana, a Itália ultrapassou o milhão de casos de covid-19, contabilizando 42.953 óbitos, sendo que 80% destes correspondem a pessoas com mais de 70 anos.