Restaurar ecossistemas salvaria espécies e reduziria carbono

Para as conclusões do trabalho contribuíram 27 investigadores de 12 países, que avaliaram florestas, prados, zonas húmidas e ecossistemas áridos.

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As abelhas, que estão em risco, prestam um serviço ecológico importante Heinz-Peter Bader

Devolver ao estado natural ecossistemas de todo o mundo “destruídos” pela agricultura salvaria a maior parte dos mamíferos terrestres, anfíbios e aves ameaçados de extinção, e seriam absorvidos mais de 465 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono.

As conclusões são de um estudo publicado na revista científica Nature, com o título “Áreas prioritárias a nível global para a recuperação dos ecossistemas”. O artigo indica que seria necessário restaurar 30% dos ecossistemas mundiais em áreas prioritárias e que assim seria possível evitar mais de 70% das extinções que são previsíveis, ao mesmo tempo que seria absorvido quase metade do carbono acumulado na atmosfera desde a revolução industrial.

No estudo especifica-se que proteger esses 30% das áreas prioritárias identificadas, juntamente com a protecção de ecossistemas ainda na forma natural, reduziria as emissões de dióxido de carbono equivalentes a 49% de todo o carbono que se acumulou na atmosfera ao longo dos últimos dois séculos.

Para estas conclusões contribuíram 27 investigadores de 12 países, que avaliaram florestas, prados, zonas húmidas e ecossistemas áridos.

Bernardo Strassburg, principal autor do relatório publicado sobre o estudo, conclui que devolver ao estado natural zonas que foram modificadas para a prática da agricultura seria uma forma de evitar que a destruição da biodiversidade e as alterações climáticas ficassem fora de controlo.

Ao identificar com precisão os ecossistemas destruídos em todo o mundo que devem ser restaurados, para melhorar a biodiversidade e o clima mas sem ter impactos na produção agrícola, o estudo é o primeiro do género a fornecer dados globais sobre os locais precisos onde essas mudanças devem ocorrer. E diz que restaurar áreas prioritárias pode ser 13 vezes mais rentável do que manter a actual situação.

Num primeiro momento, o estudo centra-se nos benefícios potenciais da restauração de ecossistemas florestais e não florestais a uma escala global, com os investigadores a afirmarem que as florestas são fundamentais para mitigar o aquecimento global e proteger a biodiversidade, mas que outros ecossistemas também têm um papel fundamental

O artigo na Nature tem em conta os alertas da ONU de que poderão extinguir-se um milhão de espécies nas próximas décadas, e de que o mundo tem falhado nos esforços para alcançar os objectivos de biodiversidade, incluindo o de restaurar 15% dos ecossistemas em todo o mundo.

Utilizando uma sofisticada plataforma matemática e tecnologias de cartografia, os investigadores avaliaram 2870 milhões de hectares de ecossistemas a nível mundial que foram convertidos em terras agrícolas. Destes, 54% eram originalmente florestas, 25% prados, 14% zonas de arbustos, 4% terras áridas e 2% zonas húmidas.

Os investigadores calcularam também, tendo em conta receios de que restaurar ecossistemas iria prejudicar a produção de alimentos, que mais de metade (55%) dos ecossistemas avaliados poderiam ser restaurados sem prejudicar essa produção de alimentos. Tal seria feito nomeadamente com melhor planeamento, produção sustentável, redução de desperdício e não investimento em alimentos como carne e queijo.

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