Encerramento de World Press Photo em Macau sob suspeita de pressões políticas

A exposição, que deveria prolongar-se até 18 de Outubro, foi encerrada abruptamente o fim-de-semana passado. A organizadora, a Associação Casa de Portugal, justificou o sucedido com “um problema de gestão interna”. A presença de fotos das manifestações em Hong Kong conduziu à suspeita de que o encerramento se deva a pressões políticas.

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A tensão em Hong Kong foi um dos focos nas nomeações para o World Press Photo 2020: nesta imagem, jovens estudantes regressam à escola depois de participarem numa manifestação NICOLAS ASFOURI, DINAMARCA, AGENCE FRANCE-PRESSE

A exposição da World Press Photo 2020, patente na Casa Garden em Macau desde 25 de Setembro, deveria ter as suas portas abertas ao público até 18 de Outubro. No fim-de-semana passado, porém, foi encerrada sem pré-aviso. O facto de, entre as fotos expostas, estarem retratadas as manifestações em Hong Kong contra o poder central chinês, levou a que se levantassem suspeitas de que o encerramento seja resultado de pressões políticas.

Em comunicado emitido na última quinta-feira, a Fundação da World Press Photo reconhecia que, “infelizmente”, não fora possível até aquele momento “confirmar as razões que levaram ao encerramento prematuro”. Ao Hoje Macau, jornal de língua portuguesa do território, o fotógrafo e advogado João Miguel Barros pedia que o encerramento fosse devidamente esclarecido: “Não acredito que a Casa de Portugal ou a Fundação Oriente tenham motivos para antecipar o fecho. O que se espera é que as verdadeiras razões sejam assumidas por quem as tomou, de modo a sairmos deste mundo pantanoso da especulação”.

A Fundação Oriente, uma das patrocinadoras da exposição, negou em declarações à Rádio Macau qualquer pressão para o encerramento, enquanto a Associação Casa de Portugal o justificou com “um problema de gestão interna”. Amélia António, presidente da Casa de Portugal, anunciara há duas semanas ao Ponto Final, outra das publicações em português de Macau, que a World Press Photo não passaria pelo território em 2021, devido a mudanças na atribuição e apoios financeiros por parte da Fundação Oriente.

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) lamentou em comunicado o encerramento por “motivos ainda por explicar”, referindo que, “se o encerramento estiver relacionado com pressões em torno de algumas fotografias da exposição”, considera estarmos perante “algo de grave e um episódio preocupante que sinaliza uma erosão do espaço de liberdade e expressão”.

Há, porém, quem defenda no território o encerramento. O presidente do Clube Foto-Artístico de Macau, Yau Tin Kwai, defendeu ao Hoje Macau que, estando presentes na exposição fotografias das manifestações em Hong Kong, “foi melhor encerrar antecipadamente”: “Há sempre a preocupação que estas fotos possam influenciar as perspectivas das pessoas, fazendo com que fiquem confusas”, declarou, argumentando que, se um fotógrafo regista a violência policial sobre os manifestantes, mas não a violência destes sobre a polícia, as suas imagens “não são um retrato do que aconteceu”.

O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, reconheceu à mesma publicação que, “na eventualidade de se confirmar o que a imprensa refere, tal não seria certamente positivo para a liberdade de expressão” no território. Referiu, porém, que “Macau tem vindo a gozar, ao longo dos anos, um espaço de liberdade de expressão artística e, neste momento, nada nos indica que esse espaço se encontre comprometido”.

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